Henriqueta Lisboa – Versos na tarde – 27/08/2013

Raiz Amarga
Henriqueta Lisboa ¹

Sinto que sou raiz amarga.
Terra gretada é minha sede.
Núcleo de sombras é meu cárcere.

Lá fora – ao sol, à chuva, ao frio –
rastejarei à flor do chão?
Estarei no ar em clorofila?…

Não sei se há a graça do tronco,
pássaros abrigados nas franças,
escaravelhos zumbindo nos brotos.

Não sei se há doçura de pétalas,
nem aconchego de folhagem
dormindo sobre espelhos d’água.

Seja de ouro o pólen ao vento,
de ouro o mel a escorrer do cerne,
de ouro a flama em torno da lenha!

Sonho a paisagem do meu quadro:
vale seivoso entre montanhas
e o céu – acima de minha fronde.

Porém meus gestos precingidos
como os nós cegos das amarras
furtam-me a toda revelação.

Talvez – condenada ao deserto –
eu realize apenas miragem
na imaginação dos homens.

in Prisioneira da Noite

¹Henriqueta Lisboa
* Lambari, MG. – 15 de Julho de 1904 d.C
+ Belo Horizonte, MG. – 9 de Outubro de 1985 d.C


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