A carícia dos dedos
Guilherme de Almeida ¹
Doce carícia dos teus dedos
longos, nervosos, de faiança!
As tuas mãos são meus brinquedos,
são meus brinquedos de criança. . .
Doce carícia dos teus dedos
que meu beijo procura e só meu sonho alcança!
Dedos afeitos ao carinho
suave das cordas harmoniosas;
a abrir missais de pergaminho,
martirizar lírios e rosas. . .
Dedos afeitos ao carinho
de tudo o que produz perturbações nervosas!
Dedos repletos de malícia,
de um sentimentalismo agudo;
acostumados à carícia
das almofadas de veludo. . .
Dedos repletos de malícia,
que podem quase nada e que conseguem tudo!
Dedos de luz, que até parece
que de um vitral alguma santa
deixou cair durante a prece. . .
No piano têm tanta alma, tanta
– dedos de luz! -, que até parece
que é o teclado que toca e é tua mão que canta!
Desses teus dedos fiz, um dia,
os cinco tubos de uma avena:
e eram tão cheios de harmonia,
que da excitante cantilena
desses teus dedos fiz, um dia,
essa alma musical que há em minha alma terrena.
Teus cinco dedos me provocam
o olhar, os lábios, os ouvidos
as mãos, o olfato. . . E se me tocam,
intencionais ou distraídos,
teus cinco dedos me provocam
a melhor sensação dos meus cinco sentidos!
¹ Guilherme de Andrade Almeida
* Campinas, SP. – 24 de julho de 1890 d.C
+ São Paulo, SP. – 11 de julho de 1969 d.C
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