Francisca Júlia da Silva – Versos na tarde – 08/07/2014

Musa Impassível I
Francisca Júlia da Silva ¹

Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de um Jó, conserva o mesmo orgulho, e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.

Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave o idílico descante.
Celebra ora um fantasma angüiforme de Dante;
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.

Dá-me o hemistíquio d’ouro, a imagem atrativa;
A rima cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d’alma; a estrofe limpa e viva;

Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos.

do livro Mármores – 1895

¹ Francisca Júlia da Silva Munster
* Vila de Xiririca, São Paulo – 1871 d.C
+ Vila de Xiririca, São Paulo – 1920 d.C

Nasceu na antiga Vila de Xiririca, hoje Eldorado, no vale do Ribeira, São Paulo. Poeta do Impassível, valendo-se de uma linguagem e de figuras mitológicas e históricas próprias de um gosto parnasiano, encantou os seus contemporâneos. Seus últimos poemas já denotam algumas tendências ao simbolismo. Sobre seu túmulo está a estátua da “Musa Impassível”, de Victor Brecheret, em homenagem a um de seus poemas mais famosos.

Obra poética:
Mármores (1895), Livro da Infância (1899), Esfinges (1903), Alma Infantil (com Júlio César da Silva, 1912), Esfinges – 2º ed. (ampliada, 1921),
Poesias (organizadas por Péricles Eugênio da Silva Ramos, 1962).


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