Flora Figueiredo – Versos na tarde – 17/09/2014

Vento novo
Flora Figueiredo ¹

Estava enrolada
em teias e traças,
debaixo da escada,
lá no subsolo
da casa fechada.
Começava a tomar ares de desgraça.
Manchada do tempo,
fenescia
a esperar que um dia
alguma coisa acontecesse.
Antes que se perdesse completamente,
sentiu passar um vento cor-de-rosa.
Toda prosa, espanou a bruma,
pintou os lábios
e sem vergonha nenhuma
caprichou no recorte do decote.
A felicidade volta à praça
cheia de dengo e de graça,
com perfume novo no cangote.

Amor a céu aberto, Editora Nova Fronteira, 1992 – Rio de Janeiro, Brasil

¹ Flora Figueiredo
* São Paulo, SP. – 1951 d.C


[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

Share the Post:

Artigos relacionados