Fernando Py – Versos na tarde – 30/03/2015

Sol Nenhum
Fernando PY ¹

Não te enganes: a rútila candência
que os rostos esbraseia não é pura
vibração de cristal, ou transparência
sem véu, de aérea e cálida estrutura.

Nem fúlgidos clarões rompem a escura
cortina de reflexos, na imanência
do próprio ser obtuso que perdura
por detrás da aparente resplendência.

Dolosa limpidez que se propaga:
como impedir essa mordente chaga
de obliterar os corpos um a um?

Como evitar em meio a tanto logro
esse falaz luzeiro, teu malogro,
claridade ilusória, sol nenhum?

¹ Fernando Antônio Py de Mello e Silva
* Rio de Janeiro, RJ. – 13 de junho de 1935 d.C


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