Sol Nenhum
Fernando PY ¹
Não te enganes: a rútila candência
que os rostos esbraseia não é pura
vibração de cristal, ou transparência
sem véu, de aérea e cálida estrutura.
Nem fúlgidos clarões rompem a escura
cortina de reflexos, na imanência
do próprio ser obtuso que perdura
por detrás da aparente resplendência.
Dolosa limpidez que se propaga:
como impedir essa mordente chaga
de obliterar os corpos um a um?
Como evitar em meio a tanto logro
esse falaz luzeiro, teu malogro,
claridade ilusória, sol nenhum?
¹ Fernando Antônio Py de Mello e Silva
* Rio de Janeiro, RJ. – 13 de junho de 1935 d.C
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