E. E. Cummings – Versos na tarde – 13/03/2014

Em algum lugar onde nunca estive
E. E. Cummings ¹

em algum lugar onde nunca estive, e felizmente aquém
de qualquer experiência, teus olhos guardam seu silêncio:
em teu gesto mais frágil há coisas que me envolvem
ou que não posso tocar porque estão muito próximas

teu olhar mais leve facilmente me descerra
embora eu me tenha fechado como dedos,
e me entreabres sempre, pétala por pétala, como a Primavera
(por toques habilidosos, misteriosamente) abre a primeira rosa

ou se teu desejo é me fechar, eu e
minha vida nos fecharemos formosa e rapidamente
como quando o coração desta flor imagina
que a neve – cuidadosamente – está caindo em toda a parte;

nada do que podemos perceber neste mundo se compara
ao poder de tua intensa fragilidade; cuja textura
me compromete com a cor de seus países
e me entrega para a morte cada vez que respiro

(nada sei do que te faz tão poderosa
ao me mover; mas algo em mim compreende apenas
que a voz de teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem as mãos tão pequenas.

tradução de Jorge Wanderley

¹ Edward Estlin Cummings
* Cambridge, Massachusetts, Usa – 14 de outubro de 1894 d.C
+ North Conway, Nova Hampshire, Usa – 3 de setembro de 1962 d.C

Poeta, pintor, ensaísta e dramaturgo estadunidense. Mesmo não sendo uma representação endossada por ele, seus editores frequentemente refletem sua sintaxe atípica ao escrever seu nome em caixa baixa: e.e. cummings.

Cummings é bastante conhecido pelo estilo não usual utilizado em muitos de seus poemas, que incluem o uso não ortodoxo tanto das letras maiúsculas quanto da pontuação, com as quais, inesperadamente, sem motivo e de forma aparentemente errônea, é capaz de interromper uma frase, ou mesmo palavras individualmente.

Muitos de seus poemas possuem, também, uma distribuição não convencional, aparentando pouco ou nenhum sentido até serem lidos em voz alta.

Apesar da afinidade de Cummings por estilos avant garde e por uma tipografia não usual, muito de seu trabalho é tradicional, apresentando, por exemplo, formato de soneto. Seus poemas com frequência tem como temas o amor e a natureza, bem como sátiras e o relacionamento do indivíduo com as massas e com o mundo.

Durante sua vida ele publicou mais de 900 poemas, duas novelas, diversos ensaios e também inúmeros desenhos, sketches e pinturas. É lembrado como uma das vozes mais importantes da literatura do século XX.


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