Ode ao Amor do Mar
Barros Pinho¹
Gosto do mar
pelo absurdo
sensual
de suas sereias
pelo encrespar
do vento
no ventre
de peixes
abomináveis
pelo lésbico
despudor
das ondas
violentando
as águas
gosto do mar
absorvendo
sol
na máscara
de bronze
dos pescadores
gosto do mar
mistério azul
das mulheres-marinhas
visivelmente estranguladas
gosto do mar
concupiscente
e paradoxal
em seus horrores.
¹José Maria de Barros Pinho
* Teresina, PI. – 25 de maio de 1939 d.C
+ Fortaleza, CE – 28 de abril de 2012 d.C
Político, poeta e contista brasileiro.
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Foi vereador em Fortaleza pelo MDB (1979-1982), deputado estadual pelo PMDB (1983-1990) e Prefeito de Fortaleza (1985-1986).
Obras em destaque:
Natal de barro lunar e quatro figuras no céu (1960), Planisfério (1969), Circo Encantado (1975), Natal do castelo azul (1984)
Sua poesia telúrica recebe a influência benéfica do Homero brasileiro, Gerardo Mello Mourão, que tão bem sabe trabalhar o clássico e o lírico sem as extravagâncias que ferem o poema moderno.
Há em sua poesia um forte compromisso com a palavra: a energia da palavra é indispensável ao equilíbrio técnico e formal do poema. O conteúdo de sua poesia se aprofunda em raízes que se alastram pelos ancestrais do poeta alcançando não só o sol da tarde e sim do amanhã do amor e a sensualidade tão arraigadas na alma nordestino, Poesia forte, com cheiro de curral de leite onde o sonho se embala na luminosidade do luar.