Quem Namora…
Artur da Távola ¹
Quem namora agrada a Deus.
Namorar é a forma bonita de viver um amor. Não namora quem cobra nem quem desconfia. Namora quem lê nos olhos e sente no coração as vontades saborosas do outro.
Namora, quem se embeleza em estado de amor. Namora quem suspira quem não sabe esperar, mas espera quem se sacode de taquicardia e timidez diante da paixão. Namora quem ri por bobagem, quem sente frios e calores nas horas menos recomendáveis.
Não namora quem ofende quem transforma a relação num inferno, ainda que por amor. Amor às vezes entorta, sabia? E quando acontece, o feito pra bom faz-se ruim. Não namora quem só fala em si e deseja o parceiro apenas para a glória do próprio eu.
Não namora quem busca a compreensão para a sua parte ruim. O invejoso não namora. Tampouco o violento! Namorados que se prezam têm a sua música. E não temem se derreter quando ela toca. Ou, se o namoro acabou nunca mais dela se esquecem.
Namorados que se prezam gostam de beijo, suspiro, morderem o mesmo pastel, dividir a empada, beber no mesmo copo. Apreciam ternurinhas que matam de vergonha fora do namoro ou lhes parecem ridículas nos outros.
Por falar em beijo, só namora quem beija de mil maneiras e sabe cada pedaço e gostinho da boca amada. Beijo de roçar, beijo fundo, inteirão, os molhados, os de língua, beijo na testa, no seio, na penugem, beijo livre como o pensamento, beijo na hora certa e no lugar desejado. Sem medo nem preconceito. Beijo na face, na nuca e aquele especial atrás da orelha, no lugar que só ele ou ela conhece.
Namora quem começa a ver muito mais no mesmo que sempre viu e jamais reparou. Flores, árvores, a santidade, o perdão, Deus, tudo fica mais fácil para quem de verdade sabe o que é namorar. Por isso só namora quem se descobre dono de um lindo amor.
Só namora quem não precisa explicar quem já começa a falar pelo fim, quem consegue manifestar com clareza e facilidade tudo o que fora do namoro é complicado.
Namora, quem diz: “Precisamos muito conversar”; e quem é capaz de perder tempo, muito tempo, com a mais útil das inutilidades e pensar no ser amado, degustar cada momento vivido e recordar palavras, fotos e carícias com uma vontade doida de estourar o tempo e embebedar-se de flores astrais.
Namora quem fala da infância e da fazenda das férias, quem aguarda com aflição o telefone tocar e dá um salto para atendê-lo antes mesmo do primeiro “trim”. Namora quem namora, quem à toa chora, quem rememora, quem comemora datas que o outro esqueceu. Namora quem é bom, quem gosta da vida, de nuvem, de rio gelado e parque de diversões.
Namora quem sonha, quem teima, quem vive morrendo de amor e quem morre vivendo de amar.
¹ Paulo Alberto Monteiro de Barros
* Rio de Janeiro, RJ. – 03 de Janeiro de 1936 d.C
+ Rio de Janeiro, RJ. – 09 de Maio de 2008 d.C
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