Desisto de ti
Aíla Sampaio ¹
Desisto de ti, da tua impossibilidade
da esperança de contemplarmos a lua
sem olhar o relógio.
Desisto do que achei que eras e do que és
– inconstante amor da maturidade –
verdade mentirosa do meu coração.
Desisto de não poder estar contigo
dos beijos que não me deste, da nossa canção,
desisto do amanhã que não me prometeste
dos poemas de amor que escrevi escondido…
Desisto do sol que não brilhará nas manhãs
em que te procurarei entre os meus conhecidos
e só verei um estranho a quem não devo amar.
Desisto da inútil espera, esse castigo,
de mergulhar nos teus olhos de mar
e neles me afogar de tanto desejo
Desisto das nossas guerras, dos tratados de paz
da vontade de que nossas mãos envelhecessem juntas…
Dos adiamentos, dos teus medos, das tuas fugas
dos teus segredos e das perguntas que a vida nos faz
Desisto de vez de sentir saudade
Da tua imagem que aos poucos se desfaz
em ilusões e dores que sei de cor.
Só não desisto do meu amor
Porque não posso, não sou capaz…
Ele é maior que eu… é meu bem maior!
¹Aíla Sampaio
* Fortaleza, Ce.
Mestra em Literatura.
Professora do Curso de Letras da Unifor
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