Como o Facebook lida com comentários racistas

Uma explosão de comentários racistas no Facebook na Alemanha nos últimos dias gerou uma onda de indignação na população e reação também por parte do governo. Afinal, o que é removido da página, e a que velocidade?

Symbolbild Facebook Klarnamenpflicht Pseudonyme Anonymität

Na carona da crise de refugiados na Europa, posts com conteúdo racista e manifestações de ódio entre os usuários do Facebook em alemão tem sido frequentes.

A situação atingiu um ponto em que o governo alemão teve de intervir, exigindo que o Facebook remova posts “xenofóbicos e racistas”, expressando hostilidade a refugiados e migrantes na rede social.

Na semana passada, o ministro da Justiça, Heiko Maas, escreveu uma carta aberta pedindo que a empresa revise urgentemente a sua política sobre discurso de ódio.

Este comentário bastante compartilhado no Facebook, por exemplo, revoltou muitos usuários da rede social no idioma alemão:

Facebook - Screenshot rassistische Kommentare

“A Áustria está com um problema de carne estragada. Um caminhão foi confiscado em uma estrada com, pelo menos, 50 pedaços de carne síria estragada”, diz o comentário, referindo-se aos 71 corpos de refugiados encontrados em um caminhão abandonado em uma rodovia austríaca na semana passada.

Usuários chocados denunciaram o comentário para o Facebook, que tem quatro equipes mundiais de especialistas – que operam 24 horas por dia, sete dias por semana, trabalhando em mais de duas dúzias de idiomas – e promete examinar as denúncias em 72 horas.

Após o prazo, a empresa mandou uma resposta padrão: “Isso não viola os padrões da comunidade.”

Linha tênue

Questionada pela DW, a empresa informou por meio de nota que tem se confrontado com novos conteúdos ou casos extremos que testam suas políticas internas.

“Devido à diversidade da nossa comunidade global, nós achamos que, às vezes, as pessoas postam coisas que podem ser desagradáveis ou perturbadoras para alguns, mas podem talvez não violar os padrões da comunidade”, declara empresa.

O especialista em mídia social Hendrick Unger acredita que, via de regra, devido à imensa quantidade de conteúdo postado diariamente, o Facebook confia bastante nos seus usuários para reportarem problemas e violações.

Hendrik Unger Geschäftsführer und Social Media Experte KreativagenturUnger: nudez é deletada mais rápido que discurso de ódio

A empresa estruturou os padrões da comunidade sobre nudez, violência e discursos de ódio, mas bloquear “conteúdo sexual extremo é a prioridade”, diz Unger, acrescentando que tudo que seja remotamente fálico é removido.

“Outros comentários, seja discurso de ódio, seja racismo, por alguma razão, não são têm prioridade tão alta ao ponto de poderem ser deletados imediatamente”, completa.

Para Unger, o Facebook evoca a liberdade de opinião, e isso pode ser de fato um limite tênue.

Equilibrando interesses

O Facebook escreve que o incitamento ao ódio contra grupos específicos “viola as nossas normas e será imediatamente apagado”. Também especifica que tipo de conteúdo é nocivo, salientando aquele que “ataque diretamente pessoas quanto a raça, etnia, origem, religião, gênero, orientação sexual, deficiência ou doença”.

Refugiados não são definidos como detentores de proteção particular. Mas comentários mal intencionados direcionados a este grupo devem seguir os padrões da comunidade Facebook.

Unger diz que, obviamente, a empresa não está imune à pressão política e pública. “Mas, geralmente, é um processo demorado, trabalhoso, e as decisões levam tempo para serem tomadas.”

Até o momento, a experiência do especialista em mídia social é que o Facebook insiste em manter seus padrões e que os usuários realmente apenas tenham a opção de entrar ou abandonar a plataforma.

Se é um assunto perturbador – uma mudança nos termos da empresa e nas condições que devem ter implicações na proteção de dados – o Facebook tem uma atitude arrogante, do tipo: “aceite ou saia”, diz Unger. Afinal, o Facebook é usado para “problemas e tumulto”.

Nas próprias palavras do Facebook: “equilibrar os interesses desta comunidade diversa é um desafio constante.”
DW

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