País asiático se destaca no movimento político e econômico que faz frente aos EUAEncontro de Dilma e Li-Keqiang celebra 37 atos entre Brasil e China
Já na Europa, os acordos econômicos e a presença chinesa podem ser comparados ao período denominado “Rota da Seda”, segundo o professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília Argemiro Procópio.
“A China de hoje não é mais a mesma, ela passou por uma grande revolução que a transformou em uma potência com abertura econômica, mas que permaneceu internamente um país comunista”, completa Procópio, que também é autor do livro “O Capitalismo Amarelo”, da Editora Juruá. A publicação mapeia a filosofia produtiva do país que, segundo o autor, para ser a primeira potência mundial, sabe o quanto sua democracia precisa se reinventar.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”]
Além de crescer como potência e “suplantar os Estados Unidos”, segundo Procópio, o país evoluiu sua maneira de investir, o que pode pode ser observado nos acordos com o Brasil, que têm foco em investimentos de infraestrutura e não mais somente em garantir suprimento de matéria primas para suas indústrias. Quem faz este destaque é o professor de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Célio Hiratuka.
“Tradicionalmente, a China era focada em garantir suprimento de matéria prima de países em desenvolvimento. Agora ela está em um segundo passo, que é o de investir em infraestrutura e inserir nesses países empresas suas que oferecem esse tipo de serviço. O terceiro passo na influência, é o de inserir empresas de bens de consumo”. O professor comenta que o foco chinês é tentar “criar canais de articulação com outros países em desenvolvimento através de investimentos, mas também preservar sua influência sobre eles”.
A “economia de mercado com características chinesas” coloca o país em destaque como força política, representada pelo Partido Comunista ainda que, segundo Argemiro Procópio, após a queda do Muro de Berlim, os partidos de esquerda tenham criado “vida própria”, deixando de ser dependentes de países como Rússia e a própria China.
Em escala mundial, os asiáticos podem representar como potência econômica um movimento de expansão de políticas de esquerda. Mesmo que quando se fale em “esquerda”, possa-se enxergar diversas vertentes e filosofias distintas, ela emerge de países que não foram totalmente contemplados pelo capitalismo como na América do Sul, da qual boa parte dos países é governado por partidos identificados como de esquerda. No Equador, Rafael Correa; na Bolívia, Evo Morales; no Brasil, Dilma Rousseff; no Uruguai, Tabaré Vazquez; na Venezuela, Nicolás Maduro; no Chile, Michelle Bachelet.
A eleição de políticos de esquerda na América do Sul já não é, entretanto, novidade. Mas o avanço de tal filosofia tem se estendido ao resto do mundo e causado surpresa principalmente na Europa, que sofre de elevado endividamento desde 2011 e alguns dos países mais afetados têm servido de “porta de entrada” para tais políticas na na Zona do Euro, como a Espanha e a Grécia.
Na Grécia, Aléxis Tsípras, líder do Syriza, foi eleito primeiro-ministro. Já na Espanha, os eleitores elevaram aos postos da prefeitura de Madri e Barcelona, Manuela Carmena e Ada Colau, do Partido Comunista e do Podemos, respectivamente.
Célio Hiratuka enxerga esses avanços da esquerda como uma reação ás condições colocadas pelo ajuste econômico provocados pela crise, assim como o professor de Ciências Políticas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcelo de Almeida Medeiros. Para ele, “os Estados-membros da União Europeia, afetados simultaneamente pela crise econômica e pela pressão migratória, reagem diferentemente”, com os governos de esquerda “rejeitando o enquadramento econômico ortodoxo” vindo de Bruxelas.