O responsável pela construção do prédio — Palace II — que desabou na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, deixando dezenas de famílias ao relento, morreu hoje, no início da noite, de causas ainda desconhecidas, em um quarto de um hotel no litoral da Bahia.
O empresário e ex-deputado Sergio Naya, 66 anos, morreu na tarde desta sexta-feira (20), em Ilhéus, no litoral da Bahia.
Sérgio Naya por Chico Caruso
Ele foi encontrado morto em um quarto do hotel Jardim Atlântico, onde estava hospedado.
A proprietária do hotel, Néia Machado, disse que o corpo foi levado para o necrotério de Ilhéus e posteriormente será transferido para Laranjal (MG), cidade natal do empresário.
O dono da funerária São José, Samuel Ferreira de Miranda, informou que o corpo de Naya chegou ao local por volta de 17h30. Miranda disse que ele próprio foi buscar o corpo no hotel. Um médico legista iria à funerária para apontar a causa da morte.
De acordo com o dono da funerária, depois de preparado o corpo, terá início o velório. Miranda disse que informou familiares de Naya, que, segundo ele, iriam se deslocar de Minas para Ilhéus.
Naya foi deputado federal por Minas Gerais por três mandatos (1987-1991 e 1991-1995 pelo PMDB e 1995-1999, pelo PP).
Segundo a Prefeitura de Ilhéus, ele estava na cidade para negociar a construção de um shopping.
Sersan e Palace II
O empresário era dono da empresa Sersan (Sociedade de Terraplanagem Construção Civil e Agropecuária), responsável pela construção do edifício Palace II, no Rio de Janeiro.
O desabamento do Palace II completa 11 anos neste domingo. O edifício caiu em 22 de fevereiro de 1998. Oito pessoas morreram. Cento e vinte famílias ficaram desabrigadas e perderam tudo.
O laudo técnico apontou que houve erro de cálculo na obra do prédio. No processo cível, Naya foi condenado a pagar R$ 60 milhões de indenização para as vítimas.
O advogado das vítimas disse que, mesmo com a morte de Naya, nada muda em relação à necessidade de pagamento das indenizações.
Investigações indicaram que um dos pilares do edifício estava danificado, outros dois precisavam de reforço e que a obra tinha sido feita com material reaproveitado e de baixa qualidade.
Sérgio Naya chegou a passar 106 dias preso, acusado de falsidade ideológica e falsificação de documentos públicos. Por causa do desabamento, foram mais 27 dias de prisão, mas o ex-deputado foi considerado inocente do desabamento do prédio.
Naya teve todos os seus bens bloqueados e alguns leiloados. No entanto, a quantia referente às vendas só foi suficiente para pagar, em parcelas espaçadas, 15% do valor das indenizações estipuladas pela Justiça.
Em fevereiro do ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou à Justiça Federal o empresário Sérgio Naya pelo crime de fraude de execução fiscal.
Carreira parlamentar
Engenheiro civil formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Sérgio Naya foi deputado federal por Minas Gerais em três legislaturas e foi filiado a três partidos: PMDB, PP e PPB.
Naya chegou à Câmara dos Deputados como suplente, exercendo o mandato em três oportunidades até ser efetivado em maio de 1989, na vaga do deputado Márcio Bouchardet.
Em 1990, elegeu-se deputado federal pelo PMDB, sendo reeleito em 1995, desta vez pelo PP.
Recebeu, durante a atuação parlamentar, diversas condecorações, como o Mérito Alvorada, do governo do Distrito Federal, a Medalha de Honra da Inconfidência, do governo do estado de Minas Gerais e a Ordem do Mérito Legislativo, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Cassado
Após o desabamento do Palace II, em 22 de fevereiro de 1998, o então deputado teve o mandato cassado e as contas bancárias bloqueadas pela Justiça. No entanto, foi absolvido em processo judicial que o apontava como réu por crime de responsabilidade no desabamento do edifício.
Naya foi cassado por quebra do decoro parlamentar no dia 15 de abril de 1998. O placar da votação, secreta, foi de 277 votos pela cassação, apenas 20 além dos 257 necessários, e 163 contra, com 21 abstenções e dez votos em branco.
O empresário abandonou a vida política e chegou a ser condenado a dois anos e oito meses de prisão em regime semi-aberto, pena convertida em prestação de serviços comunitários e pagamento de multa.
O empresário e ex-deputado chegou a ser detido duas vezes. Em 1999, ficou 26 dias na Polinter, no Rio, após ser preso em Brasília. Em 2004, voltou a ser preso em Porto Alegre, quando tentava fugir para Montevidéu, e ficou preso por quatro meses.
A defesa de Sérgio Naya argumentou que ele não era responsável pela construção e execução do prédio.