Senado e Câmara. Reduto de Velhacos

Velhacos!

Está no Aurélio: decoro quer dizer correção moral, compostura, decência, honradez. E tem tudo a ver com pundonor. Gosto dessa palavra. É redonda, solene, incomum.

Pois em verdade eu vos digo: oito entre dez políticos seriam incapazes de responder de supetão o que significa pundonor.

Irmãos Metralha,Políticos,Verba Indenizatória,Congresso NacionalSem essa de dizer que “pundonor significa decoro”. Pundonor significa zelo pela própria reputação.

Você acha decente o político que aufere lucro com uso de verba pública? Seu procedimento é honrado? Quem se comporta assim zela por sua reputação?

Há pelo menos nove deputados na mira da Corregedoria da Câmara como suspeitos de terem pagado com a verba indenizatória o abastecimento de seus carros em seus próprios postos de gasolina.

Verba indenizatória foi um truque inventado pelo Congresso para aumentar sem aumentar o salário de deputados e senadores.

A verba serve para pagar locomoção, aluguel, manutenção de escritórios nos Estados e segurança. Funciona assim: o parlamentar entrega todo mês à Câmara ou ao Senado notas fiscais correspondentes a despesas no valor de até R$ 15 mil. Então é reembolsado.

Ninguém fiscaliza se as notas são quentes ou frias. Verba indenizatória é dinheiro público que sai do baú da União estufado pelos impostos que pagamos. Você só não paga pelo ar que respira – e quanto a isso tenho dúvidas.

Alguns do “Bando dos Nove” justificaram sua esperteza com argumentos de puro cinismo. Um deles foi o deputado Osório Adriano (DEM-DF). O repórter Vanildo Mendes, de O Estado de S. Paulo, ouviu dele:

– Só uso notas de postos meus porque tenho a garantia de que o combustível é de boa qualidade. Eu lá vou abastecer no posto da concorrência!

Edmar “Dono do Castelo” Moreira arrisca-se a perder o mandato porque se valeu de notas fiscais de suas empresas de segurança para justificar despesas ressarcidas com a verba indenizatória.

O deputado Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB na Câmara, destinou parte da verba para pagar despesas com a divulgação de suas atividades em um jornal do seu Estado. O jornal é dele.

Na semana passada, Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara, tentou acabar com a verba indenizatória. Para compensar, uma fatia dela seria incorporada ao salário dos deputados. Não conseguiu.

A verba indenizatória é uma fonte permanente de roubo fácil para muitos deputados e senadores. E não deixará de ser porque doravante as notas poderão ser acessadas via internet. Há meios de fazer com que o falso pareça verdadeiro.

O mau exemplo que vem de cima transforma o Congresso em um reduto de velhacos.

O nepotismo praticado pelos parlamentares correu solto até que foi proibido por lei. Agora são diretores e funcionários de escalões inferiores que passaram a empregar parentes em empresas que prestam ali serviços terceirizados.

Por toda parte há caixas pretas que resistem a ser abertas. E quem poderia abri-las não exibe disposição para tal.

José Sarney (PMDB-AP) assumiu a presidência do Senado prometendo combater todo tipo de irregularidade. Por ora age à reboque da imprensa.

O ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia perdeu o cargo porque a imprensa descobriu que ele registrara em nome do irmão a mansão de R$ 5 milhões onde mora. Agaciel é dono de um jatinho cedido vez por outra para viagens particulares de senadores.

O diretor de Recursos Humanos do Senado, João Carlos Zoghbi, pediu demissão do cargo alvejado por uma reportagem sobre o apartamento funcional que cedera para moradia de um dos filhos.

Outra reportagem revelou que o Senado pagou em janeiro R$ 8 milhões a 3.800 servidores por conta de horas extras trabalhadas. Pagou por quê se o Senado estava em recesso?

Bastaria um ato assinado por Sarney para obrigar os servidores a devolverem o dinheiro. O ato não sai. Sarney preferiu delegar aos seus 80 pares a solução do problema.

do blog do Noblat

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