Correu o mundo a excomunhão dos médicos, da família e de integrantes de ONG´s envolvidas no aborto de gêmeos, feito legalmente em uma menina de 9 anos , vítima de estupro. A decisão de excomungar os que participaram do aborto foi anunciada pelo arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho .
No site da rede britânica BBC, a notícia foi a mais lida durante a quinta-feira. A rede Foxnews noticiou a excomunhão, citando a entrevista do arcebispo à TV Globo, e lembrando dos casos em que o aborto é permitido no Brasil. O espanhol El Pais ressaltou que no Brasil os assuntos de Estado não costumam se misturar com os de igreja. Em sua página, o New York Times citou que o aborto legal foi realizado a despeito da oposição da igreja. A decisão do bispo católico foi noticiada até no Karachi News, do Paquistão, país de maioria muçulmana.
Apesar da anestesia geral que precisou tomar para fazer o aborto, a menina se recuperou bem, mais ainda não recebeu alta. Sérgio Cabral, diretor da maternidade pública onde foi feita a interrupção da gravidez, voltou a defender a necessidade do procedimento. Segundo ele, a menina que tem apenas 33 quilos e um 1,36 metros de altura, não tem ainda o aparelho reprodutor totalmente formado.
– A gravidez de gêmeos, com dois ou mais fetos, já é considerada de alto risco por inúmeros fatores. Imagine você ter uma gravidez levada adiante em uma criança com nove anos – afirma.
O diretor da maternidade Cisam, onde foi realizado o procedimento, está entre os excomungados e comentou a decisão do arcebispo.
– Nós apenas temos a dizer que continuaremos a atender mulheres vítimas de violência sexual e garantir-lhes o direito por lei de serem adequadamente assistidas, inclusive no abortamento previsto em lei caso seja necessário – disse o médico.
Carla Batista, educadora da S.O.S Corpo, que comandou uma mobilização para que o aborto fosse autorizado pela Justiça disse que tem formação católica e que a excomunhão não muda sua relação com a igreja.
– Tenho toda tranquilidade de tudo que foi feito. Acho que agimos de uma forma correta, justa, buscando levar esse caso à melhor solução possível, que trouxesses maior amparo e respaldo para essa mulher e a sua filha – afirma.
O Ministro da saúde, José Gomes Temporão, considerou radical e inadequada a posição do Arcebispo.
Nesta quinta, em entrevista ao Jornal da Globo, Dom José disse que a excomunhão não depende da vontade dele. Segundo a visão do Arcebispo, as pessoas envolvidas estariam automaticamente sujeitas à punição da igreja.
– Não se pode dizer, como estão repetindo por aí, que Dom José Arcebispo de Recife excomungou. Quem comete aborto, está automaticamente se excomungando – disse Dom José.
O Arcebispo disse ainda que não se arrepende de ter anunciado a punição. “Eu me arrependeria se não tivesse feito isso. Seria um pecado de omissão”, diz.
O padrasto da criança está preso em pesqueira, no agreste de Pernambuco. Jaílson José da Silva, de 23 anos, foi indiciado por estupro qualificado.