Irã. Burlando a censura na Internet

Censura Blog do MesquitaIranianos burlam censura na net com novo software

Programa desenvolvido por religiosos chineses permite acesso livre à rede

O governo iraniano, mais do que qualquer outro, determina pela censura o que os cidadãos podem ler online, usando tecnologia que bloqueia milhões de sites da internet que oferecem notícias, comentários, vídeo, música e, até pouco tempo atrás, o Facebook e YouTube. Se digitasse a palavra “mulheres” em farsi, o internauta receberia a mensagem: “Prezado assinante, o acesso não é possível.”

Em julho, em sites muito visitados que oferecem download gratuito de vários softwares, apareceu uma brecha: um programa que permitia aos iranianos contornar a censura.

O programa foi descoberto por estudantes universitários, que depois o divulgaram por e-mails e compartilhamento de arquivos. No final do ano, mais de 400 mil iranianos surfavam na internet sem censura.

O software foi criado não por iranianos, mas por especialistas chineses em computação que trabalham voluntariamente para o Falun Gong, movimento espiritual banido por Pequim desde 1999. Eles mantêm uma série de computadores em centros de dados de todo o mundo para atender às solicitações dos internautas, burlando os censores.

A internet deixou de ser apenas um canal essencial para o comércio, para o entretenimento e a informação, para se tornar o cenário tanto do controle estatal quanto da rebelião contra ele. Atualmente, mais de 20 países usam sistemas cada vez mais sofisticados para bloquear e filtrar o conteúdo da rede, diz o grupo Repórteres sem Fronteiras, que estimula a liberdade de imprensa.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita]

Governos autoritários como o do Irã, China, Paquistão, Arábia Saudita e Síria instalaram sistemas de filtragem mais agressivos, mas algumas democracias ocidentais também começam a filtrar parcialmente o conteúdo, como a pornografia infantil e outros materiais de cunho sexual.

Em resposta à censura, uma aliança que abrange ativistas políticos e religiosos, defensores das liberdades civis, empresários e até militares de alta patente e agentes de inteligência contestam o crescente controle de conteúdo da rede.

Os criadores do software usados pelos iranianos são membros do Consórcio Global pela Liberdade na Internet, com sua principal sede nos EUA e afiliado ao Falun Gong. O consórcio é um dos vários grupos menores que criam sistemas para permitir que todos tenham acesso à internet aberta.

Em outra iniciativa, a do Projeto Tor, um grupo sem fins lucrativos oferece um software gratuito que pode ser utilizado para enviar mensagens secretamente ou chegar a sites bloqueados. O software, desenvolvido nos Laboratórios de Pesquisa Naval dos EUA, é utilizado por mais de 300 mil pessoas no mundo.

Cientistas políticos da Universidade de Toronto construíram outro sistema, chamado Psiphon, que possibilita a qualquer um burlar firewalls com apenas um browser. Percebendo uma oportunidade de negócios, eles criaram uma empresa que ganha um bom dinheiro permitindo que companhias de mídia transmitam conteúdo digital para usuários da rede passando por cima dos firewalls nacionais. Por causa do risco dessa silenciosa guerra eletrônica, há uma advertência no site do grupo: “Burlar a censura pode constituir um crime contra a lei. Cuidado com os perigos implícitos e suas possíveis consequências.”

A China admite que monitora o conteúdo da internet, mas afirma que seu objetivo é muito semelhante ao de qualquer outro governo: policiar o material perigoso, pornografia, propaganda enganosa, atividade criminosa e fraude. Segundo o governo chinês, o Falun Gong é um culto perigoso que destruiu a vida de milhares de pessoas.

Por sua vez, intensificando seus esforços contra a proibição oficial, o consórcio dessa seita organizou no ano passado um amplo lobby no Congresso dos EUA, que aprovou US$ 15 milhões para serviços que permitam burlar o sistema oficial. Mas o dinheiro não se destinou ao Falun Gong, e sim a Internews, uma organização internacional que financia grupos de mídia local.

Este ano, uma coalizão mais ampla está se organizando com a finalidade de pressionar o Congresso a conceder um financiamento maior para iniciativas que combatam a filtragem em benefício de dissidentes do Vietnã, Irã, Tibete, Mianmar, Cuba, Camboja, Laos e da minoria uigur, da China.

John Markoff, The New York Times

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