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Hans Magnus Enzensberger – Poesia – 18/09/2024

Boa noite Para o livro de literatura de segundo grau Hans Magnus Enzensberger¹ Não leias odes, meu filho, lê os horários (dos trens, dos ônibus, dos aviões): são mais exatos. Abre os mapas náuticos antes que seja tarde demais. Sê vigilante, não cantes. Chegará o dia em que eles, de novo, pregarão listas no portão e desenharão marcas no peito daqueles que dizem não. Aprende a ir incógnito, aprende mais do que eu:a mudar de bairro, de passaporte, de rosto. Entende da pequena traição, da salvação suja de todos os dias. Úteis são as encíclicas para se fazer fogo, e os manifestos: para a manteiga e sal dos indefesos. É preciso raiva e paciência para se soprar nos pulmões do poder o fino pó mortal, moído por aqueles, que aprenderam muito, que são exatos, por ti. ¹ Hans Magnus Enzensberger * Nuremberg, Alemanha – 1929 d.C

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Adalgisa Nery – Poesia – 25/08/2024

Boa noite Escuro Adagisa Nery¹ Que estranho terreno inexplorado Na área escura do meu cérebro Impede o conhecimento de mim mesma? Muralha intransponível Que frustra o meu acordar Para retroceder ao princípio do princípio Das coisas irrepetidas. Estranha área do escuro Onde estaria o berço da luz única Fechada em mão intocável, Luz que explicaria a vida na escuridão, e Não vedaria o despertar de mim mesma. Que estranha área de trevas no meu cérebro Impede o meu espírito de receber a luz divina? ¹Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira * Rio de Janeiro, RJ. – 29 de outubro de 1905 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 7 de junho de 1980 d.C

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João Cabral de Melo Neto – Poesia – 08/08/24

Boa noite. A Educação pela Pedra João Cabral de Melo Neto Uma educação pela pedra: por lições; Para aprender da pedra, frequentá-la; Captar sua voz inenfática, impessoal (pela de dicção ela começa as aulas). A lição de moral, sua resistência fria Ao que flui e a fluir, a ser maleada; A de poética, sua carnadura concreta; A de economia, seu adensar-se compacta: Lições da pedra (de fora para dentro, Cartilha muda), para quem soletrá-la. Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, E se lecionasse, não ensinaria nada; Lá não se aprende a pedra: lá a pedra, Uma pedra de nascença, entranha a alma. *João Cabral de Melo Neto * Recife,PE. – 9 de janeiro de 1920 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 9 de outubro de 1999 d.C

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Luis Carlos Mordegane – Versos na tarde – 07/08/2016

Boa noite Carinho Luis Carlos Mordegane ¹ São massagens que recebemos em nosso ego, Com as mãos delicadamente deslizando Por nosso eu, com toque suave… Toque este tão indispensável, Tão necessário às nossas vidas. Quem, em sã consciência, Não gosta de ser amado, Querido, desejado? Quando tocamos alguém É sinal que estamos felizes com sua presença, Felizes por tê-la ali naquele momento… Falar daquele jeitinho e com certo dengo, É uma forma de carinho. Quando então acariciamos alguém E somos por ele acariciados, É tão bom! E nos alivia a alma… Sendo a voz, a mais eloqüente forma De propagar amor e carinho. E quando é sussurrada aos nossos ouvidos, Com toda pujança e carinho, Por quem amamos, transforma-se Em mensagem de ternura, Em canto e acordes musicais, Levando ao nosso coração, A mais suave canção melódica… Luis Carlos Mordegane * São Bernardo do Campo. SP. – 28 de Maio

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Beatriz Alcântara – Poesia – 26/06/24

Boa noite Serpente Beatriz Alcântara¹ Não és o caminho que leva ao centro do mundo. não és também o caminho que margeia o bem e o mal. Por isso caminho por onde caminhas meeira da cor aliada da sensação submissa ao tempo. Como tu – caminho sem nem precisar a meta sem me aperceber do obstáculo sem deixar de achar o sentido. Caminho : – serpente após teu rastro numa crença iniciática das tuas inúmeras verdades ¹Maria Beatriz Rosário de Alcântara * Teresina, PI. – 25 de maio de 1939

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Adélia Prado – Poesia – 23/04/24

Boa noite Contramor Adélia Prado¹ O amor tomava a carne das horas e sentava-se entre nós. Era ele mesmo a cadeira, o ar, o tom da voz: Você gosta mesmo de mim? Entre pergunta e resposta, vi o dedo, o meu, este que, dentro de minha mãe, a expensas dela formou-se e sem ter aonde ir fica comigo, serviçal e carente. Onde estás agora? Sou-lhe tão grata, mãe, sinto tanta saudade da senhora… Fiz-lhe uma pergunta simples, disse o noivo. Por que esse choro agora? ¹Adélia Luzia Prado Freitas * Divinópolis, MG. – 13 de Dezembro de 1935 d.C

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Ali Podrimja – Poesia – 23/03/24

Boa noite. Se Ali Podrimja ¹ Se um povo Não tem poetas Nem poesia própria Para uma Antologia Nacional Então a traição e o ladrar Hão-de servir. ¹ Ali Podrimja * Đakovica, Albânia – 28 de agosto de 1942 d.C + Lodève, França – 21 de julho de 2012 d.C

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Alice Ruiz – Poesia – 10/03/24

Boa noite O poeta me viu Alice Ruiz¹ bastou um olhar e pode ver a mola mestra da aprendiz que sou a escolha que fiz no avesso e apesar da sorte adversa de não pesar de ser feliz poeta é quem vê o que não é de dizer e ainda assim diz ¹Alice Ruiz * Curitiba, PR. – 22 de Janeiro de 1946

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Aíla Sampaio – Poesia – 01/03/2024

Boa noite. De outro tempo Aíla Sampaio¹ Há em mim uma casa desabitada perdida no abandono dos ventos que sopram sem direção há portas que batem silenciosas atrás de um adeus sem data, lágrimas nas paredes retintas e trancas enferrujadas nos portais há hera entranhada nas vigas, nos muros e em minha alma, fechando porteiras, lacrando janelas misturando-se ao musgo que no jardim cresceu Há em mim um silêncio quase sagrado e a memória de um tempo que não é o meu. ¹Aíla Sampaio * Fortaleza, Ce. Mestra em Literatura. Professora do Curso de Letras da Unifor

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