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Doria afundou na droga: A cracolândia acabou?

Com ações apressadas e improvisadas, cracolândia torna-se a primeira pedra no sapato de Doria Policiais fizeram uma megaoperação na região da Cracolândia, em São Paulo, no domingo passado. PAULO WHITAKER REUTERS Decisões levadas a cabo ao longo desta semana expuseram série de contradições da Administração do prefeito e de seu plano para tratar os dependentes químico. “A cracolândia acabou”. Esta é a frase constantemente usada por João Doria, prefeito de São Paulo (PSDB), ao se referir ou responder a perguntas sobre esta região do centro da capital paulista. No último domingo, uma megaoperação policial em articulação com o Governo do Estado expulsou os usuários de crack e traficantes que se aglomeravam no “fluxo”, o mercado aberto de drogas que ocupava a alameda Dino Bueno e seu entorno.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Estas vias estão de fato livres agora, como diz o prefeito, mas as ações levadas a cabo nesta área ao longo da semana, muitas delas apressadas e improvisadas, expuseram uma série de contradições da Administração Doria e de seu plano para tratar os dependentes químicos – batizado de Redenção. A questão da cracolândia voltou para os holofotes com a mesma força que a polícia limpou o local, tornando-se a primeira pedra no sapato de Doria em um momento no qual ele aparece como o principal nome do PSDB para disputar a presidência da República — uma possibilidade que ele já não nega publicamente. A semana terminou, entretanto, com uma boa notícia para o prefeito. A Justiça autorizou o Executivo municipal a buscar e apreender, durante 30 dias, “pessoas em estado de drogadição” que estejam vagando na região da cracolândia para que sejam examinados pelas equipes multidisciplinares e, após aprovação judicial, internados compulsoriamente. O pedido da prefeitura foi feito às pressas pela Procuradoria Municipal do Município na última terça-feira, uma vez que a operação policial de domingo fez com que os dependentes químicos se espalhassem por outros 23 pontos da cidade, segundo a Guarda Civil Metropolitana (GCM). A maioria, cerca de 600 pessoas, está aglomerada na praça Princesa Isabel, a 400 metros da antiga cracolândia. A dispersão dificultou um dos eixos do projeto Redenção, que é o cadastramento prévio de cada usuário através “de uma abordagem contínua, de caráter não impositivo”. O próprio secretário de Saúde, Wilson Pollara, admitiu publicamente na última quinta-feira que o programa anticrack ainda estava em fase de implementação e que não estava prevista uma grande operação policial. Aliás, o documento do projeto diz que a ação de agentes da GCM, da PM e da polícia civil agiriam na retaguarda, “para dar apoio aos servidores” que atuariam nos lugares de uso de drogas. Pollara também admitiu que ele próprio não havia sido avisado sobre as ações policias na cracolândia até o dia de sua realização. A prefeitura garante, contudo, que a dispersão vai ajudar na abordagem, uma vez que não haverá presença do tráfico. “Isso é uma balela completa. Porque o tráfico está lá, as pessoas estão usando, a droga está chegando. A droga não chega só na cracolândia, chega a todos os lugares”, explica o promotor da Saúde Arthur Pinto Filho. O Ministério Público de São Paulo, que participou da elaboração do Redenção, vem sendo um dos principais críticos das últimas ações de Dória, ao dizer que a prefeitura abandonou seu projeto Redenção nesta última semana. “Nós avisamos o prefeito e os secretários que a dispersão era o pior cenário que poderia acontecer. Quando eles espalham as pessoas pela cidade, acontece o óbvio: essas pessoas que tinham, umas mais e outras menos, contato com os agentes de saúde e da assistência social perdem esse vínculo”. Além disso, argumenta o promotor, esses usuários estão “zanzando, buscando seu refúgio”. “A GCM diz que hoje estão espalhados por 23 pontos, mas em três horas podem ser 15 pontos e em cinco horas podem ser 30”. Ele também acusou a prefeitura de querer, com sua petição judicial, levar a cabo uma “caçada humana” por São Paulo sem precedentes no resto do mundo. “O programa não iria trabalhar só com a abstinência. Iria ser com abstinência e a redução de danos. Agentes da saúde e assistentes sociais iriam, 24 horas por dia, atuar na região para fazer a aproximação, levantar cada situação e patologia. E a partir desses dados fazer um projeto terapêutico individualizado, que é o que funciona”. A gestão Doria assegura, por sua vez, que a busca e apreensão de usuários será feita apenas em último caso e respeitando os direitos humanos. Neste sábado, o secretário da Saúde Pollara afirmou em entrevista à Globo News que os critérios de abordagem serão “psiquiátricos”, e que “aqueles que estiverem conscientes” do que estão fazendo serão “respeitados”. Ele previu ainda que 100 pessoas deverão ser levadas compulsoriamente pelos agentes públicos. O Executivo afirma também ter aumentado consideravelmente nos últimos dias o número de assistentes sociais que estão nas ruas, algo que era visível na praça Princesa Isabel na última sexta-feira. “A prefeitura e o Estado estão de fato tomando conta da parte social, tentando fazer a reinserção. Tem uma assistência social ativa nesses núcleos que estão se formando. Eles não fizeram só uma operação policial, está tendo sim uma segunda parte”, afirma Clarice Sandi, pesquisadora e professora da UNIFESP que trabalha com assistentes sociais na cracolândia. Ela não acredita que a dispersão em si atrapalhe no vínculo, mas sim a iniciativa da prefeitura em levar à força os usuários para avaliação médica. “Foi um tiro no pé. Agora alguns usuários já não querem entrar nas vans e ir para albergues porque acham que vão ser internados compulsoriamente. Uma medida que considera internações em massa é de fato higienista”, diz. Entretanto, Sandi é uma das especialistas que defendem a realização da operação policial do último domingo sob o argumento de que “algo tinha de ser feito” para estancar uma violência que, para ela, “aumentou muito nos últimos tempos”. “Não que antes fosse ok. Mas funcionários começaram a ser roubados e ameaçados. Já vi mulheres transsexuais apanhando muito. E tem muita criança lá”,

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Economia – Maconha medicinal fatura mais que Viagra

Maconha legal já é mercado maior que viagra e tequila nos EUA Maconha: Ministro da Justiça quer erradicar uso e comércio no Brasil (OpenRangeStock/Thinkstock) O mercado legal de maconha (medicinal e recreativa) nos Estados Unidos cresceu 30% em 2016 e ficou entre US$ 4 bilhões e US$ 4,5 bilhões.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] É mais do que movimentado por bebidas como tequila (US$ 2,3 bilhões), serviços pagos de streaming de música (US$ 2,5 bilhões) e medicamentos como o Viagra e Cialis (US$ 2,7 bilhões, incluindo o Canadá). A maconha legalizada também se aproxima do tamanho do mercado de pizza congelada (US$ 4,4 bilhões) e de sorvete no varejo (US$ 5,1 bilhões). Os números são da última edição do Marijuana Business Factbook, lançado anualmente pela publicação Marijuana Business Daily. O mercado recreativo no país foi liderado pelos estados de Washington e Colorado, que legalizaram esse tipo de uso em 2012, e impulsionado definitivamente em 2016 por outros sete estados. A Califórnia, onde as vendas devem começar no ano que vem, é o estado mais populoso dos Estados Unidos e se fosse um país, teria a sexta maior economia do planeta. A estimativa é que o mercado nacional triplique até 2021, quando chegaria a US$ 17 bilhões, menos da metade de uma demanda total hoje estimada em US$ 40 bilhões. Também ajuda que 6 em cada 10 americanos já apoiam a legalização, a mais alta proporção já registrada. Mas há algumas preocupações. Em alguns locais a produção cresceu mais rápido do que a demanda, o que derrubou demais o preço, e o governo de Donald Trump dá sinais contraditórios sobre o tema  no nível federal, o que faz aumentar o medo de intervenção nos produtores. Na América Latina, o pioneiro na legalização é o Uruguai, que está registrando os cidadãos interessados no produto para começar as vendas em julho. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária decidiu na última terça-feira classificar oficialmente a a Cannabis sativa como uma planta medicinal. Legalizar o uso recreativo poderia render entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões por ano para os cofres públicos, de acordo com um estudo divulgado pela Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. Por João Pedro Caleiro

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Gás Lacrimogênio, protestos e guerras

Por que o gás lacrimogêneo é usado para dispersar protestos mas é proibido nas guerras? Policial usa gás lacrimogêneo em protesto no Rio na sexta-feira Direito de imagem REUTERS/RICARDO MORAES Comum em protestos ao redor do mundo para dispersar multidões, o gás lacrimogênio é proibido em guerras. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Ele foi testado pela primeira vez durante a Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de forçar soldados inimigos a deixar suas trincheiras para serem atacados com artilharia ou outras armas. Com o passar do tempo, foi perdendo seu uso em conflitos armados até ser proibido, em 1997, pela Convenção Sobre Proibição de Armas Químicas, firmado por 178 países. A Convenção proíbe seu uso como arma de guerra, tendo em vista o poder letal do gás quando em alta concentração. “Ele está proibido na guerra porque supostamente não se deve usá-lo como arma ofensiva”, explicou à BBC Mundo Anna Feigenbaum, professora da Universidade de Bournemouth, na Inglaterra, que publicou um ensaio sobre a história do gás na revista The Atlantic. “A exceção para o uso pela polícia ocorre porque o gás não está sendo usado como uma arma, e sim como um agente de controle”, acrescentou. O uso do gás em protestos tem sido criticado porque seu uso indiscriminado pode provocar problemas de saúde nos manifestantes. Uma revisão de estudos sobre os efeitos do gás lacrimogênio publicada em 2016 no Annals of the New York Academy of Sciences diz que ele pode causar sérios danos nos pulmões, pele e olhos; crianças, mulheres e aqueles que já têm complicações nessas áreas do corpo têm riscos maiores de serem afetados. ‘A guerra dos químicos’ Há divergências entre os historiadores consultados pela BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, sobre quando exatamente o gás lacrimogênio foi usado pela primeira vez na Primeira Guerra, mas a maioria tende a apontar o mês de agosto de 1914, pouco depois do começo do conflito mundial. Unido fez simulações de lançamento de gás lacrimogêneo em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial – Direito de imagemGETTY IMAGES Doran Cart, curador do Museu Nacional da Primeira Guerra Mundial, em Kansas City, no Missouri, nos Estados Unidos, diz que embora não existam documentos oficiais sobre isso, os franceses podem ter usado granadas lacrimogêneas contra os alemães nesse mês. Isso porque a França vinha fazendo experimentos com os gases em anos anteriores. O “ponto de virada”, segundo o historiador, foi em 1915, quando gases começaram a ser testados com mais frequência, ainda que nem sempre de maneira efetiva. ‘Greve foi menor do que organizadores esperavam, mas maior do que governo gostaria’, diz cientista político Seu desenvolvimento fez parte de um esforço muito maior das potências para criar armas químicas, o que levou a Primeira Guerra Mundial a ser considerada “a guerra dos químicos”. Além dos lacrimogêneos, também foram usados agentes como o gás mostarda, o gás cloro, gás fosgênio, alguns dos quais causaram um “sofrimento agonizante” e quase cem mil mortes, segundo dados das Nações Unidas. Mulher em Nantes, no oeste da França, sofre os efeitos do gás lacrimogêneo durante um protesto contra a reforma trabalhista, em setembro de 2016 Direito de imagemGETTY IMAGES “Esses gases se converteram na personificação de todo o mal da Primeira Guerra Mundial”, afirmou à BBC Mundo o historiador Michael Neiberg, professor da Universidade da Guerra do Exército dos Estados Unidos, na Pensilvânia. Controle de distúrbios Poucos anos depois, em 1925, foi firmado o Protocolo de Genebra que, com limitações, proibiu o uso de armas químicas nas guerras. Na época, no entanto, já estavam sendo testados novos compostos químicos de gases lacrimogêneos e se buscava formas de convertê-los em ferramenta para uso rotineiro. Pela sua condição não letal, seu uso não provocava tanta resistência como o de outros gases. Manifestante em Caracas, na Venezuela, prestes a lançar uma lata de gás lacrimogêneo – Direito de imagemGETTY IMAGES Segundo Feigenbaum, poucos anos depois do armistício de 1918, várias cidades americanas e territórios ao redor do mundo começaram a comprar o gás, que foi usado em prisões, atos de greves e até em caixas-fortes de bancos para se evitar roubos. A guerra do Vietnã também ajudou a mudar a percepção sobre o gás lacrimogêneo; tanto o seu uso no Vietnã como nos Estados Unidos – para dispersar protestos – passaram a ser criticados. Para se distanciar das acusações de uso de armas químicas, Washington passou a se referir ao gás como um “agente para o controle de distúrbios”, um termo que passou a ser usado com frequeência cada vez maior, segundo um estudo publicado em 2013 na Yale Historical Review. A história da argentina que sobreviveu a três naufrágios desastrosos – incluindo o do Titanic No resto do mundo, o gás se tornou mais habitual e nos últimos anos foi usado com frequência em protestos diversos – como no Brasil, na Primavera Árabe, no Parque Gezi, em Istambul, na Venezuela e no Estado do Missouri (protestos contra a morte de negros pela polícia), nos EUA, só para citar alguns dos casos mais notórios. “Tornou-se algo de uso comum porque é uma maneira de dispersar uma multidão de maneira relativamente barata e fácil”, explica Feigenbaum. Em protesto na Praça de Tahrir, no Cairo, em novembro de 2011, os manifestantes foram dispersados com gás – Direito de imagemGETTY IMAGES A especialista diz que, se usado de maneira adequada, o gás não causa ferimentos com sangue e seus efeitos são normalmente superficiais, o que é benéfico do ponto de vista da polícia. Mas, para Feigenbaum, “a rua é o único lugar para onde podemos ir quando nos tiram o poder; se o ar é envenenado, estão tirando das pessoas a capacidade de protestar”. BBC

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