Hoje já é outro dia Fernando Pessoa Eu amo tudo o que foi Tudo o que já não é A dor que já me não dói A antiga e errônea fé O ontem que a dor deixou O que deixou alegria Só porque foi e voou E hoje é já outro dia.
Como se eu fosse um cantador Áureo de Mello O homem ou crê ou fica louco. A vida É mistério, tão bárbaro e medonho, Que o sujeito ou se pendura no sonho Ou numa áspera corda bem comprida. Que venha a fé, mesmo estando vestida De estranhos balandraus ou que tristonho Seja o rosto de Paulo, ou Possidônio, Expressando uma lágrima contida. Um momento há que faz rendermos loa Àquilo que nos céus finge que voa Ou ao da besta urrar no abismo fundo. Tem de haver algo que não crer na morte Nos faça é acreditar que um poder forte Fará de amor o amálgama do mundo.
Officium mihi molestum sit
Ando a construir um modelo de um coração
Há muito tempo, Vida, prometeste
Descante Geir Campos Nunca te pedirei o que não possas dar, ai — pedir sombra ao sol, doçura ao mar? Tampouco pedirei mimo que não tenha preço, ai — de pobre que sou bem me conheço. Não saberia aliás que prenda acrescentar, brilho ao sol, talvez, salina ao mar… E nem te valeria a espera na promessa, ai — eterno é o que passa mais depressa. Fotografia de Andrezza Mendes