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Executivo do Face Book se prepara para o Apocalipse

O ex-executivo do Facebook que largou tudo e prepara refúgio em ilha para sobreviver a ‘apocalipse tecnológico’ Ex-executivo do Facebook está se preparando para um futuro caótico criado pela tecnologia Antonio Garcia Martínez, de 40 anos, vivia no epicentro da revolução digital, mais precisamente no Vale do Silício, região próxima de San Francisco, nos Estados Unidos, onde estão as sedes de algumas das principais empresas de tecnologia do mundo. Mas desde 2015 ele mudou radicalmente de vida ao chegar à conclusão que estaríamos prestes a enfrentar um “apocalipse tecnológico”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Martínez afirma que o avanço da tecnologia – em especial, da combinação entre automação e inteligência artificial – mudará radicalmente a economia global e fará com que empregos desapareçam em escala massiva. “Dentro de 30 anos, metade da humanidade não terá trabalho. E a coisa pode ficar feia, pode haver uma revolução. É por isso que estou aqui”, diz ele em entrevista à BBC ao desembarcar armado com um fuzil em uma ilha próxima a Seattle, no noroeste americano, onde está criando um refúgio para se proteger caso a previsão se confirme. “Em San Francisco, eu vi como o mundo será daqui cinco a dez anos. Você pode não acreditar que está vindo, mas está – e tem a forma de um caminhão que dispensa motorista.” Isolamento Refúgio fica em uma pequena ilha na costa noroeste dos EUA Martínez fez carreira no setor ao fundar uma empresa de anúncios online, que vendeu para o Twitter, e ir trabalhar no Facebook. Hoje, dedica boa parte do seu tempo a um terreno de cinco hectares no meio da floresta em Orcas, uma pequena ilha na costa do Estado de Washington, próxima da fronteira norte do país. Por enquanto, seu refúgio não parece ser grande coisa. Há apenas uma barraca, um gerador de energia, um balde onde faz suas necessidades, além de fios e painéis solares ainda não instalados. O acesso só é possível por uma estrada de terra, usando veículos com tração nas quatro rodas. “Ninguém conhece aqui. E dá para ir nadando ou de caiaque até o Canadá se a situação exigir”, diz ele sobre os motivos que o levaram a escolher a região para montar seu abrigo, listando em seguida outras vantagens: “Clima ideal, uma grande comunidade, produção de alimentos autossustentável, e consigo defendê-lo caso as coisas saiam dos trilhos por um tempo.” Munição, a ‘moeda do novo mundo’ Martínez diz que armas serão necessárias para protegê-lo de invasores Martínez deixa claro que será capaz de fazer isso ao atirar com uma AR-15 contra latas e garrafas de plástico que fazem as vezes de alvos improvisados à distância – e acertar todos eles. “Há 300 milhões de armas nos Estados Unidos, uma para cada homem, mulher e criança, e a maioria delas estão nas mãos das pessoas que perderão seus empregos”, afirma. “Garanto a você que munição será a moeda corrente desse novo mundo.” Ele não é o único a prever o desaparecimento em massa de muitos postos de trabalho. O pesquisador Carl Frey, da Universidade de Oxford, acredita no mesmo. Ele estima que 35% dos empregos no Reino Unido corram risco de desaparecer nos próximos 20 anos com a criação de robôs capazes de realizar as mesmas funções. Esse índice é ainda maior nos Estados Unidos, onde chega a 47% – e ultrapassa 50% em países em desenvolvimento. Por isso, o americano garante que outros no Vale do Silício estão tomando as mesmas precauções. “Eles têm suas próprias estradas, compram terrenos, têm um monte de armas, poços artesianos e tudo mais. É algo como o que tenho, talvez menos rústico, menos hippie, mas bem parecido.” Dívida Local no meio da floresta ainda tem poucas instalações, como esta barraca De fato, Reid Hoffman, cofundador da rede social LinkedIn, estimou em uma entrevista à revista The New Yorker que cerca de metade dos bilionários da região têm algum tipo de “seguro contra o apocalipse”. Mas e quanto ao restante das pessoas que não têm uma fortuna para investir em refúgios assim? Martínez garante não se preocupar com isso: “A vida é curta, e nós morremos sozinhos.” Ele afirma que sua maior contribuição é divulgar sua previsão e contar sobre seus preparativos. “A única dívida que nós profissionais da tecnologia temos é essa. Poucas pessoas estão falando sobre isso e informando o público em geral”, diz. “A tecnologia vai acabar com empregos e abalar economias antes mesmo que a gente seja capaz de reagir, e deveríamos estar pensando sobre isso.” BBC

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O essencial para a dominação do mundo pelos USA

EUA só poderá afirmar sua dominação se conseguir projetar e sustentar operações de grande escala sobre grandes distâncias. Lord Acton, historiador e político britânico do século 19, disse, em frase que ganhou fama, que o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente. Quase parece que os EUA tiveram acesso a documento actoniano secreto que autorizaria uma ressalva: “Mas e a dominação pelo poder dos EUA? Ah, bom! Aí, é diferente. Aí, pode!” – porque o governo em Washington parece gostosamente cego e surdo a todos os perigos, os riscos, os custos de adquirir e afirmar sua (de Washington) dominação global total.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] “Dominar” – ter capacidade não superada para dirigir os eventos, praticamente o contrário de ter poder suficiente só para proteger e deter – é coisa que parece misturada e assada na própria massa da política dos EUA. Como o presidente Barack Obama disse em documento intitulado “Sustaining US Global Leadership” [Sustentar a Liderança Global dos EUA] (no qual, compreensivelmente, prefere dizer que a liderança dos EUA é “demandada” pelo resto do mundo, em vez de dizer que é buscada pelos EUA, porque interessa aos interesses dos EUA): “Estou decidido a conseguir que superemos com responsabilidade os desafios desse momento e que possamos emergir ainda mais fortes, de modo que preserve a liderança global norte-americana, [e] mantenha nossa superioridade militar (…) superar aqueles desafios não pode ser trabalho só dos militares, razão pela qual reforçamos as ferramentas do poder norte-americano (…) num mundo em mudança que demanda nossa liderança, os EUA permanecerão como a maior força pela liberdade e pela segurança, que o mundo jamais conheceu.” “Os interesses e o papel dos EUA no mundo exigem forças armadas com capacidades não superadas e disposição da nação para usá-las em defesa de nossos interesses e do bem comum. Os EUA continuam a ser a única nação capaz de projetar e sustentar operações de grande escala sobre grandes distâncias. Essa posição exclusiva gera uma obrigação de ser guardiões do poder e da influência que recebemos da história, de nossa determinação e da circunstância.” Como se lê, da Agência da Defesa Para Projetos de Pesquisa Avançada [orig. DARPA, Defense Advanced Research Projects Agency): A missão da DARPA é manter a superioridade tecnológica dos militares norte-americanos e impedir surpresa tecnológica que cause dano a nossa segurança nacional, mediante o financiamento de pesquisa revolucionária, de alto resultado, que preencha a distância entre descobertas e invenções fundamentais e seu uso militar. E como se lê da irmã menos afamada da DARPA, a IARPA, que serve à CIA, à Agência de Segurança Nacional e ao resto da comunidade da espionagem: “A Atividade de Projetos de Pesquisa de Inteligência Avançada [orig. Intelligence Advanced Research Projects Activity (IARPA) investe em programas de pesquisa de alto risco e altos resultados que têm potencial para suprir os EUA com vantagem notável de inteligência sobre futuros adversários.” Deve-se notar que o elemento que mais chama atenção nas revelações de Edward Snowden sobre a Agência de Segurança Nacional e na resposta do governo Obama, é que a ASN teria a atribuição de “guardar tudo”, quer dizer, teria total dominação sobre toda a vigilância em todas as jurisdições não norte-americanas, e parece visceralmente e constitucionalmente incapaz de tolerar qualquer tipo de limite teórico às suas habilidades para interceptar todas e quaisquer comunicações. Ásia é a notória “Batalha Ar-Mar” [orig. “AirSea Battle”], peça quase pornográfica de autogratificação de think-tank que recomenda que os EUA construam colossal presença militar no Pacífico Ocidental para sobreviver (e, claro, triunfar) no pior cenário possível de ataque de “pleno espectro”, pela China, contra instalações militares dos EUA. Dominação é vício que custa caro, em termos políticos, sociais e, também financeiros. Com a parte que cabe aos EUA no latifúndio planetário já diminuindo a olhos vistos, não surpreende que a dominação pelos EUA esteja sendo desafiada; e mais indiretamente, em termos de desintermediação (o surgimento de estruturas alternativas não centradas nos EUA, de uma das quais já se ouviu falar, na ameaça, feita pelo Brasil, de desconectar-se da Internet Norte-americana), que em algum tipo de confrontação mano a mano. O resultado é instabilidade assustadora, em vez da ordem tranquilizadora que se espera obter de uma hegemonia não desafiada. O maior desafio contra a dominação dos EUA é a Ásia.  No Oriente Médio, onde a força militar decisiva estava nas mãos de nossa aliada, Israel; o nosso adversário designado, o Irã, era uma clara potência de terceira ordem; os EUA tinham a notável, servil assistência da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN, para organizar e liderar seus aliados; e campanhas contra cinco potências refratárias (Iraque, Afeganistão, Irã, Síria e Líbia) produziram vastos resultados que podem ser divulgados como Vitória”, os EUA ainda encontraram considerável e custosa resistência, quando tentaram falar como manda-chuva. E que fim levou o “movimento de pivô” do governo Obama rumo à Ásia, onde nosso adversário não designado, a República Popular da China, tem população de 1,6 bilhões, bombas atômicas, e a segunda maior economia do mundo, e nosso aliado chave, o Japão, está emergindo como força regional independente? Essa não é receita para dominação confortável, nem unilateralmente nem como líder de uma coalizão regional. A “Batalha Ar-Mar” está agora em situação de hiato, não por suas premissas improváveis, suspeito eu, mas por causa do caráter explode-orçamento daquele esforço para enfiar, como penetra em baile, alguma absoluta dominação militar norte-americana na equação da segurança asiática. Mesmo que a “Batalha Ar-Mar” esteja posta de lado, nem assim vejo qualquer indicação de que os EUA deem-se conta da preocupante implicação, pela qual essa ambição de dominação militar absoluta pelos EUA, nos desmesuradamente caros confins da Ásia, é sonho inatingível; nem creio que os EUA tenham consciência – nem, tão pouco, doutrina ou estratégia -, para lidar com a mais apavorante das contingências: um “mundo multipolar”, no qual os EUA, como outras potências regionais – Índia, Brasil e África do Sul -, são forçados a definir, refinar e buscar os próprios interesses, sempre mediante dura barganha

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Militarização do Espaço

A projeção do poder militar para a dominação. A paranoia da Guerra Fria pode ter facilitado a corrida espacial décadas atrás, mas um novo relatório conclui que os projetos militares ainda ocupam quase a metade de todo o gasto mundial em recursos espaciais.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Os Estados Unidos são, de longe, o maior gastador em programas espaciais relacionadas com a defesa, mas o seu conhecimento técnico também torna o país mais dependente de tais sistemas, de acordo com o relatório “Space Security 2010”. Os esforços americanos para projetar poder militar através do globo ajudaram a dirigir tal dependência do poder espacial, disse o analista militar e de segurança John Pike, que dirige GlobalSecurity.org. “Se queremos explodir alguém, nós temos que ir para o outro lado do planeta, e precisam de muito suporte espacial para fazê-lo”, disse Pike, que não esteve envolvido na elaboração do relatório. [Conceitos de Armas Espaciais mais Destrutivas] Essa dependência pode deixar os EUA mais vulneráveis ​​a medidas anti-satélite destinadas a contratação de plataformas orbitais vigilantes do país. Enquanto os EUA, a China e a Rússia têm talvez os recursos mais avançados para a destruição de satélites, a Índia também anunciou planos para desenvolver capacidades anti-satélite. Olhos no céu. De acordo com o novo relatório, o Departamento de Defesa dos EUA tem destinado 10,7 bilhões de dólares para impulsionar as capacidades espaciais em 2009. Mas esse número não inclui o dinheiro para o Escritório Nacional de Reconhecimento, a Agência Nacional Geo-espacial, ou a Agência de Defesa de Mísseis. Muito dos gastos com defesa está focado em satélites que fornecem serviços como comunicações, inteligência, reconhecimento e vigilância, bem como previsão do tempo, navegação e aplicações de orientação de armas. Os Estados Unidos opera cerca de metade dos 175 satélites militares dedicados do mundo que estavam no espaço no final de 2009, de acordo com o Índice de Segurança Espacial, um consórcio de pesquisa internacional que compilou o relatório “Space Security 2010 “. Pike considerou a contagem dos satélites militares dos EUA “significativamente baixa”, e disse que uma contagem de 115 satélites pela União dos Cientistas Interessados chegou muito mais perto. A Rússia dizia-se operar com um quarto dos satélites militares com 38, e China tinha 12. O número russo “soa bem”, disse Pike em um e -mail. Ele ressaltou que é apenas um terço do número total de satélites militares soviéticos que estavam no ar durante a Guerra Fria. A dependência dos EUA em potência espacial vai muito além de satélites militares dedicados. Muitos de seus sistemas de navegação e de segmentação também dependem de satélites do Sistema de Posicionamento Global que orientam os usuários de smartphones civis e motoristas. A Força Aérea lançou o primeiro de uma frota planejada de 12 satélites GPS ultra-precisos em maio de 2010. A Rússia impôs a sua própria constelação de satélites, conhecida como Global Navigation Satellite System (GLONASS). Isso tem o seu próprio orçamento de US $ 1 bilhão. Sistemas Shoot-Down. EUA, China e Rússia têm atualmente os sistemas de mísseis terrestres mais avançados que podem destruir satélites, de acordo com o relatório, os EUA e a China fizeram demonstrações deles nos últimos anos. Em 2007, a China abateu um satélite meteorológico inoperante com um míssil lançado do solo, e a Marinha dos EUA derrubou um satélite espião extinto com um míssil lançado a partir de um navio em 2008. A Rússia mostrou indícios de capacidades anti-satélite em 1980. Esses países também têm acesso a programas avançados de lasers que podem ofuscar temporariamente ou cegar a ótica sensível de satélites em órbita baixa da Terra. Durante a Guerra Fria, tanto os EUA e quanto a Rússia tentaram desenvolver sistemas de ataque espaciais que poderiam atingir alvos terrestres com armas ou lasers nucleares. Mas esses países parecem ter se afastado de tais sistemas “Star Wars” nos últimos anos. Os programas de interceptores de mísseis espaciais dos Estados Unidos têm enfrentado cortes no financiamento, sendo assim os militares dos EUA têm se focado em lasers na terra ou no ar. Futuro do poder espacial. Algumas tecnologias espaciais ou capacidades podem ou não ter possibilidades militares, de acordo com diferentes intenções e pontos de vista nacionais. As manobras de satélite secretas recentes da China provavelmente são testes representados das futuras capacidades de encontro espaciais, segundo analistas. No entanto, uma notícia russa sugeriu que a China poderia usar manobras similares para inspecionar satélites estrangeiros. O avião espacial X-37B da Força Aérea dos EUA, pode permitir aos militares dos EUA substituir rapidamente os satélites abatidos durante um conflito. O avião espacial também tem atraído a especulação sobre as armas militares secretas, mas tal papel parece improvável a analistas. Por enquanto, aos Estados Unidos parece provável se manterem na liderança das capacidades espaciais de suporte militar. Isso faz parte da sua meta atual de manutenção do poder militar no mundo. “Até que a China descubra uma necessidade urgente de defender o Canal de Panamá dos Imperialistas Ianques, não vejo (esse) desenvolvimento das capacidades de projeção de poder globais das quais o espaço é um componente integrante,” escreveu Pike. Sua confiança nas capacidades espaciais deixa os militares dos EUA solitários em termos de vulnerabilidade, se futuros adversários decidirem derrubar os satélites de apoio. Fonte: http://www.darkgovernment.com/news/military-money-focused-on-space/

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A encenação da “Guerra-Espetáculo”

Como funciona a indústria da encenação da Guerra-Espetáculo, parte da máquina de guerra do imperialismo desde o fim da Guerra Fria aos dias atuais Na história da indústria da encenação, parte integrante do aparelho industrial militar do imperialismo, 1989 é um ano de virada. Nicolae Ceausescu ainda está no poder na Romênia. Como derrubá-lo? Os meios de comunicação ocidentais difundem de modo maciço, especialmente à população romena, informação e imagens do “genocídio” cometido em Timisoara pela polícia, por indicação de Ceausescu. 1. Os cadáveres mutilados. O que acontecera na realidade? Beneficiado pela análise de Debord sobre a “sociedade do espetáculo”, um ilustre filósofo italiano (Giorgio Agamben) sintetizou de modo magistral a história que estamos tratando aqui: “Pela primeira vez na história da humanidade, cadáveres sepultados ou alinhados sobre as mesas do necrotério foram desenterrados às pressas e torturados para simular frente às câmeras de vídeo um genocídio que devia legitimar o novo regime. O que o mundo viu ao vivo como verdade real, na tela da televisão, era a não verdade absoluta. Embora a falsificação fosse óbvia, ela todavia foi autenticada como verdadeira pelos meios de comunicação do sistema mundial, porque estava claro que agora a verdade não era senão um momento do movimento necessário do falso. Assim, a verdade e a mentira tornaram-se indiscerníveis e o espetáculo legitimava-se unicamente mediante o espetáculo. Timisoara é, neste sentido, a Auschwitz da sociedade do espetáculo: e como já foi dito que depois de Auschwitz é impossível escrever e pensar como antes, da mesma forma, depois de Timisoara não será mais possível ver uma tela de televisão do mesmo modo” (Agamben, 1996, p. 67). No ano de 1989 a transição da sociedade do espetáculo para o espetáculo como técnica de guerra manifestou-se à escala planetária. Algumas semanas antes do golpe de Estado, ou seja, da “revolução Cinecittà” na Romenia (Fejtö 1994, p 263), a 17 de Novembro de 1989, a “revolução de veludo” triunfava em Praga agitando uma palavra de ordem de Gandhi: “Amor e Verdade”. Na realidade, um papel decisivo coube à divulgação da notícia falsa de que um aluno fora “brutalmente assassinado” pela polícia. Vinte anos mais tarde o protagonista da manipulação, um “jornalista e líder da dissidência, Jan Urban”, revela satisfeito: a sua “mentira” havia tido o mérito de suscitar a indignação em massa e o colapso de um regime já periclitante (Bilefsky 2009). Algo semelhante acontece na China: em 08 de Abril de 1989, Hu Yaobang, secretário do PCC até há um par de anos, sofreu um enfarto durante uma reunião da Comissão Política e morreu uma semana depois. Para a multidão na Praça da Paz Celestial a sua morte está ligada ao duro conflito político verificado no decorrer naquela reunião (Domenach, Richer, 1995, p 550.), De qualquer modo ele se torna vítima do sistema que se tenta derrubar. Em todos os três casos, a invenção e a denúncia de um crime são chamados a suscitar a onda de indignação de que o movimento de revolta tem necessidade. Se se consegue o êxito completo na Checoslováquia e na Romenia (onde o regime socialista havia-se seguido ao avanço do Exército Vermelho), esta estratégia falhou na República Popular da China que brotou de uma grande revolução nacional e social. E, aqui é que tal fracasso se torna o ponto de partida de uma nova e mais maciça guerra midiática, que é desencadeada por uma superpotência que não tolera rivais ou potenciais rivais e que ainda está em pleno desenvolvimento. Fica definido que o ponto da virada histórica está em primeiro lugar em Timisoara, “a Auschwitz da sociedade do espetáculo”. 2. “O anúncio dos bebês” e o corvo marinho. Dois anos depois, em 1991, verificou-se a primeira Guerra do Golfo. Um corajoso jornalista norte-americano explicou como se deu “a vitória do Pentágono sobre a mídia”, ou seja, a “derrota colossal dos veículos de comunicação por obra do governo dos Estados Unidos” (Macarthur 1992, pp. 208 e 22). Em 1991, a situação não foi fácil para o Pentágono (nem para a Casa Branca). Tratava-se de convencer da necessidade da guerra um povo sobre o qual ainda pesava a memória do Vietnã. E então? Espertezas várias reduziram drasticamente a possibilidade de jornalistas falarem diretamente com os soldados ou reportarem diretamente a partir da frente de batalha. Na medida do possível, tudo deve ser filtrado: o fedor da morte e sobretudo o sangue, o sofrimento e as lágrimas da população civil não devem invadir as casas dos cidadãos dos EUA (e dos habitantes do mundo inteiro) como na época da guerra no Vietnã. Mas o problema central mais difícil de resolver era outro: como demonizar o Iraque de Saddam Hussein, que ainda há alguns anos era considerado digno aos olhos dos EUA, agredindo o Irã que brotara da revolução islâmica e anti-americana de 1979 e inclinado a fazer proselitismo no Oriente Médio. A demonização teria sido muito mais eficaz se ao mesmo tempo a sua vítima fosse angelical. Operação nada fácil, e não apenas pelo fato de no Kuwait ser dura e impiedosa a repressão de todas as formas de oposição. Havia algo pior. Para executar as tarefas mais humildes os imigrantes eram sujeitos a uma “escravatura de fato” e uma escravatura de fato que muitas vezes assumia formas sádicas: não despertou particular emoção casos de “servos arremessados a partir do terraço, queimados ou cegados ou espancados até a morte ” (Macarthur 1992, pp. 44-45). E ainda assim… Generosamente ou fabulosamente recompensada, uma agência de publicidade encontra remédio para tudo. Essa denunciou o fato de que os soldados iraquianos cortavam as “orelhas” dos kuwaitianos que resistiam. Mas o golpe de teatro desta campanha era outro: os invasores haviam irrompido num hospital, “removendo 312 bebês das suas incubadoras e deixando-os morrer no chão frio do hospital de Kuwait City” (Macarthur 1992, p 54). Proclamada repetidamente pelo presidente Bush, confirmado pelo Congresso, endossado pela imprensa de referência, e até mesmo pela Anistia Internacional, esta notícia tão horripilante, mas mesmo assim circunstanciada para indicar com precisão o número

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Mídia, mentira e desinformação

Os meios de comunicação, a mentira pela omissão e o papel da desinformação. Nada do que é importante no mundo é hoje refletido pela comunicação dita “social”, os meios de comunicação empresariais que arrogantemente se auto-intitulam como padrão de “referência”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Para quem pretende uma transformação do mundo num sentido progressista isto é um problema, e problema grave. Significa um brutal atraso na tomada de consciência dos povos, cuja atenção é desviada para balelas, entretenimentos idiotas, falsos problemas e outros diversionismos. Omissão não é a mesma coisa que desinformação. Vejamos exemplos de uma e outra, a começar pela primeira. A mais atual é a ameaça da instalação de mísseis Iskander junto às fronteiras ocidentais da Europa. Isso é praticamente ignorado pela mídia ocidental, assim como é ignorada a razão porque eles estão a ser agora instalados: o cerco da Rússia pela OTAN, que instalou novos sistemas de mísseis numa série de países junto às suas fronteiras. É indispensável reiterar que tanto os da OTAN como o da Rússia são dotados de ogivas nucleares. Outro exemplo de omissão é o apagamento total de informação quanto ao terrível acidente nuclear de Fukushima, que tem consequências pavorosas e a longuíssimo prazo para toda a humanidade. Continua o despejo diário de 400 toneladas de água com componentes radioativos no Oceano Pacífico, o equivalente a uma disseminação igual à de todos os mais de 2500 ensaios de bombas nucleares já efetuados pela espécie humana. Caminha-se assim para o extermínio de uma gama imensa de espécies vivas – da humana inclusive – pois tal poluição entra no ecossistema que lhes dá suporte. Outro exemplo ainda é o silenciamento deliberado quanto às consequências do desastre com a plataforma de pesquisa da British Petroleum (BP) no Golfo do México. Tudo indica que a gigantesca fuga de petróleo ali verificada ao longo de meses (100 mil barris/dia?) não está totalmente sanada, pois este continua a vazar embora em quantidades menores. A política ativa de silenciamento conta com o apoio não só da BP como do próprio governo americano. Este, aliás, já autorizou o reinício da exploração de petróleo em águas profundas ao longo das costas norte-americanas. Este silenciamento verifica-se com o pano de fundo do Pico Petrolífero (Peak Oil), que também é deliberadamente escondido da opinião pública pelos meios de comunicação corporativos. Pouquíssima gente hoje no mundo sabe que a humanidade já atingiu o pico máximo da produção possível de petróleo convencional, que esta está estagnada há vários anos. Trata-se do fim de uma era, com consequências irreversíveis, cumulativas, definitivas e a longo prazo. Mas este fato é ocultado da opinião pública. A maioria dos governos de hoje abandonou há muito a pretensão de ser o gestor do bem comum: passou descaradamente a promover os interesses de curto prazo do capital – em detrimento das condições de sobrevivência a longo prazo da espécie humana. Trata-se, pode-se dizer, de uma política tendente ao extermínio. Veja-se o caso, por exemplo, do fracking, ou exploração do petróleo e metano de xisto (shale) através de explosões subterrâneas e injeção de produtos químicos no subsolo – o que tem graves consequências sísmicas e polui lençóis freáticos de água potável. O governo Obama estimula ativamente o fracking, na esperança – vã – de dotar os EUA de autonomia energética. Mas há assuntos que para os meios de comunicação corporativos dominantes são não apenas omitidos como rigorosamente proibidos – são tabu. É o caso da disseminação do urânio empobrecido (depleted uranium, DU) que o imperialismo faz por todo o mundo com as suas guerras de agressão. Países como o Iraque, a antiga Jugoslávia, o Afeganistão e outros estão pesadamente contaminados pelas munições de urânio empobrecido. Trata-se do envenenamento de populações inteiras por um agente que atua no plano químico, físico e radiológico, com consequências genéticas teratológicas e sobre todo o ecossistema. A Organização Mundial de Saúde é conivente com este crime contra a humanidade pois esconde deliberadamente relatórios de cientistas que examinaram as consequências da invasão estado-unidense do Iraque. Absolutamente nada disto é refletido nos meios de comunicação empresariais. Um caso mais complicado é aquela categoria especial de mentiras em que é difícil separar a omissão da desinformação. Omitir pura e simplesmente a crise capitalista – como os meios de comunicação corporativos faziam até um passado recente – já não é possível: hoje ela é gritante. Portanto entram em acção as armas da desinformação, as quais vão desde o diagnóstico até as terapias recomendadas. Os economistas vulgares têm aqui um papel importante: cabe-lhes dar algum verniz teórico, uma aparência de cientificidade, às medidas regressivas que estão a ser tomadas pela nova classe dominante – o capital financeiro parasitário. As opções de classe subjacentes a tais medidas são assim disfarçadas com o carimbo do “não há alternativa”. E a depressão económica que agora se inicia é apresentada como coisa passageira, meramente conjuntural. Os meios de comunicação passaram assim da omissão para a desinformação. Desde o iluminismo, a partir do século XVIII, a difusão da imprensa foi considerada um fator de progresso, de ascensão progressiva das massas ao conhecimento e entendimento do mundo. Hoje, em termos de saldo, isso é discutível. A enxurrada de lixo que atualmente se difunde no mundo superou há muito as publicações sérias. Basta olhar a quantidade de revistecas exibidas numa banca de jornais ou a sub-literatura exposta nos super-mercados. Tal como na Lei de Greshan, a proliferação do mau expulsa o bom da circulação. E esta proliferação quantitativa não pode deixar de ter consequências qualitativas. Ela faz parte integrante da política de desinformação. A grande mídia corporativa esmera-se neste trabalho de desinformação. Além de omitir os assuntos realmente cruciais para os destinos humanos ainda promove ativamente campanhas de desinformação. Um caso exemplar foi a maneira como apresentavam e apresentam a agressão à Síria. Assim, bandos sinistros de terroristas e mercenários pagos pelo imperialismo — alguns até praticaram o canibalismo como se viu num vídeo famoso difundido no YouTube — são sistematicamente tratados como “Exército de Libertação”. E daí passaram à mentira pura e simples, afirmando que o governo legítimo da Síria teria utilizado armas químicas contra o seu próprio povo. Denúncias públicas de que os crimes

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Ocidente X Oriente Médio: uma sucessão de erros

O que fez o ocidente errar tanto, ao interpretar o Oriente Médio? Qual é o ‘estado da nação’ – ou mais corretamente, da ‘nação’ do Oriente Médio árabe – no final de 2013?[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Todos já sabemos que não é bom; e não queremos nos somar à (muitíssimo deslocada) melancolia, listando males (erosão dos seus vários modelos de governança – no Golfo, na Turquia, da Fraternidade Muçulmana (Ikhwani), etc.); a falência de estruturas de pensamento e de instituições nacionais; a implosão das identidades; a disfuncionalidade generalizada dos sistemas de estado; o rompimento do contrato social e o surgimento de insurreições anti-‘sistema’ de vários tipos. Queremos, isso sim, perguntar “O que se vê aqui?” E tentar descobrir por que o ‘ocidente’ errou tanto ao interpretar o Oriente Médio. É questão oportuna – sobretudo quando uma sucessão de notáveis figuras ‘ocidentais’, algumas delas institucionais[1] já dizem (depois de dois anos de guerra e sofrimentos) que a melhor solução na Síria, afinal, pode ser que o presidente Assad permaneça no poder.  Por que, afinal, tanta coisa foi tão mal interpretada, com tanta frequência, e com resultados tão danosos? Para entender melhor o que acontece recentemente, devemos talvez relembrar um momento anterior do trauma regional. Não é comparação ponto a ponto com o que se tem hoje, mas ajuda a explicar, nos parece, a crise atual. Aquele momento tem a ver com o que os historiadores chamam de “A Grande Transformação” que começou na Europa no século 17. Apoiou-se sobre uma filosofia moral que entendia que o bem-estar humano dependeria da operação eficiente dos mercados. Intimamente relacionada a essa ideia havia outra, tomada dos Puritanos Ingleses, com raízes profundas na história anglo-saxônica. E que via a “mão invisível” da Providência também em ação na política, como na economia; e essa “mão invisível” (se deixada operar por sua conta) interferiria para prover outro efeito ‘ideal’. Segundo essa noção, a luta e as disputas para contenção política entre as tribos anglo-saxônicas no início de suas sociedades, de algum modo deram origem a uma harmonia espontânea e à ordem política. (Mais mito, que verdade). Mas foi dessa noção de ‘mercado’ político – onde a competição se tornaria ordeira e harmoniosa mediante a intrusão da “mão invisível”, que os Puritanos Ingleses tiraram a crença segundo a qual as instituições e as estruturas democráticas anglo-saxônicas representariam a culminação da liberdade pessoal e da justiça – e de que essas estruturas brotaram espontaneamente. Essas ideias foram integralmente trazidas para a América, e continuam influentes ainda hoje. Esse modo de pensar enormemente poderoso dominou a política ‘ocidental’ por mais de 300 anos. E à altura dos anos 1920s, sua penetração no Oriente Médio já levara a região à ‘beira’ do desastre; a região já estava em crise, mantendo-se por um fio. Como na Europa, antes, o duro impacto da engenharia social e do deslocamento de populações, como aquele estilo de pensamento exigia (criar mercados eficientes), foi realmente traumático. A ênfase na industrialização e no deslocamento populacional foi de tal ordem que, no século 19, já havia levado a Europa a revoluções sangrentas. Essas ideias ocidentais, inclusive a noção de que a reforma econômica seria mais plenamente alcançada mediante a secularização, foram abraçadas com zelo de ‘convertidos’ pelos líderes da Turquia, Pérsia e Egito. Aproximadamente cinco milhões de muçulmanos europeus foram arrancados das próprias casas entre 1821 e 1922, enquanto o ocidente prestigiava principalmente os cristãos nos estados-nações dominados por cristãos nas antigas províncias ocidentais otomanas. A determinação do [partido] Jovens Turcos [orig. Young Turks[2]] para implantar na Turquia uma cópia da modernização secular ‘de mercado’ custou preço terrível. Morreram 1 milhão de armênios e 250 mil assírios; e 1 milhão de anatolianos gregos ortodoxos foram expulsos. Suprimiu-se a identidade curda, e o Islã foi suprimido e demonizado por Kemal Ataturk. Instituições islâmicas foram fechadas e o califato, instituição que existia há 1.400 anos, foi abolido. Tudo isso para criar um estado-nação centralizado, suficientemente poderoso para implantar uma ‘moderna’ estrutura de mercado liberal. Menos visível, mas também muito lesivo, foi o desenraizamento de homens e mulheres de suas comunidades, a desincorporação cultural, de laços e valores tradicionais. Desorientados, des-culturalizados e deixados à deriva, muitos deslizaram ou na direção do socialismo radical ou da revolução islâmica. Reagrupando-se depois da 1ª Guerra Mundial (chamada então “Grande Guerra”, que só passou a chamar-se “primeira”, quando eclodiu a “segunda” [NTs]), as ‘grandes potências’ criaram sistemas de ‘blocos de poder em competição’ (demarcando diferenças étnicas, sectárias ou tribais e empurrando-as umas contra outras) por toda a região, para reforçar a influência europeia. Mas as ‘autoridades’ daí resultantes, sem qualquer base em qualquer coisa que se assemelhasse a alguma forma de contrato social, só puderam ser mantidas no poder mediante o uso massivo de forças de segurança e de repressão contra centros de poder rivais. Não surpreendentemente, nos anos 1920s muitos jovens buscavam pensamento novo – e tornaram-se ferozes opositores do ‘sistema’. Ao longo dos últimos 30 terríveis anos, o ‘ocidente’ (e, outra vez) seus ‘interesses’ regionais aliados, permaneceram presa de um conjunto igualmente poderoso de ideias – a orientação neoliberal do conservadorismo norte-americano (e a orientação tradicional do conservadorismo norte-americano sempre foi principalmente isolacionista e não intervencionista).  Na última década, essas poderosas ideias, buscadas pelo ‘ocidente’ e seus aderentes na região, provaram-se altamente daninhas. Não se trata só dos milhões de refugiados saídos do Afeganistão, Iraque, Palestina e Síria, nem das guerras e sofrimentos, mas, mais significativamente (e outra vez), o que se tem aí é um episódio do pensamento político segundo o qual as pessoas foram ‘individualizadas’, extraídas da comunidade, dos valores tradicionais, da conexão com o local, das respectivas identidades e, assim, foram separadas das fontes da autoestima. Esse, de fato, sempre foi um dos principais objetivos da globalização: para conseguir alcançar uma ‘modernidade’ globalizada, os aderentes desse tipo de pensamento deixaram-se levar pelo ímpeto de fazer tabula rasa – varrer, ‘limpar’ -, e ‘dar um reset’ na psicologia humana, enfraquecer o condicionamento pela tradição, para preparar a humanidade para

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USA e Oriente Médio – Armas, armas e mais armas

Como os EUA estão ‘inundando’ o Oriente Médio de armas Acordo entre os EUA e a Arábia Saudita prevê um pacote de defesa de US$ 110 bilhões Direito de imagemAFP|GETTY IMAGES Não foi à toa que o presidente americano, Donald Trump, visitou a Arábia Saudita em sua primeira turnê oficial como presidente dos Estados Unidos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] A viagem consolidou um acordo de venda de armas para Riad avaliado em US$ 110 bilhões. Os sauditas receberão dos EUA, durante os próximos dez anos, tanques, aviões de combate, barcos de guerra e mísseis de precisão guiados. Apesar das várias críticas ao seu histórico de repressão, violação de direitos humanos e das mulheres e por financiar mesquitas e escolas islâmicas que difundem visões fundamentalistas do islamismo mundo afora, a Arábia Saudita é um dos principais parceiros dos EUA no Oriente Médio – e, segundo a instituição americana Council on Foreign Relations, o maior importador de armas do país. Aumento Uma análise do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri), indica que, nos últimos quatro anos (2012-2016), as importações de armas por nações do Oriente Médio aumentaram 86%. “A Arábia Saudita foi o segundo maior importador de armas do mundo entre 2012 e 2016 (atrás da Índia), com um aumento de 212% desde o período de 2007-2011”, diz o estudo. No mesmo período, segundo o Sipri, os EUA foram o maior exportador de armas do planeta. “Suas exportações aumentaram 21% comparado ao período de 2001-2011. Quase a metade destas exportações foram para o Oriente Médio.” Se é certo que este aumento ocorreu durante a presidência de Barack Obama, seu governo também impôs certas restrições à venda de armas a determinados países por conta de preocupações com direitos humanos. Em 2017, no entanto, o governo Trump começou a revogar estas restrições. O Catar assinou um acordo para a compra de 36 caças F-15 dos Estados Unidos Direito de imagemGETTY IMAGES Em março, o Departamento de Estado suspendeu um bloqueio imposto por Obama à venda de armas para o Bahrein, depois de acusações de abusos contra grupos de oposição ligados à maioria xiita no país. A decisão permitirá, agora, a venda de aviões de combate F-16 e de outras armas ao Bahrein, como parte de um pacote avaliado em cerca de 2,7 bilhões. A base da Quinta Frota da Marinha dos Estados Unidos, que patrulha o estratégico Golfo Pérsico, fica no Bahrein. Preocupações No início do mês de junho, houve tentativas no Senado americano de bloquear um pacote de US$ 500 milhões em mísseis guiados para a Arábia Saudita, por causa de preocupações com a campanha militar saudita na guerra do Iêmen. Todas as facções envolvidas neste conflito – que começou em 2014, já matou mais de 10 mil pessoas e afundou grande parte do país em uma escassez generalizada de alimentos – foram acusadas de cometer abusos de direitos humanos e crimes de guerra. Muitos senadores se opunham à venda de armas à Arábia Saudita pelo seu papel no conflito. O país lança ataques aéreos contra rebeldes houthi – que controlam a maior parte do Iêmen – dizendo estar “defendendo o governo legítimo” do presidente, Abdrabbuh Mansour Hadi. A venda, no entanto, foi aprovada por uma estreita margem no Senado americano. O Catar também é outro grande importador de armamentos. Segundo o Sipri, nos últimos anos, “as importações de armas do Catar aumentaram 245%”. Na semana passada, o secretário americano de Defesa, James Mattis, assinou um acordo de US$ 12 bilhões para a venda de 36 aviões de combate F-15 ao Catar. Situação ‘confusa’ Segundo um estudo do Sipri, as importações de armas do Catar aumentaram 245% nos últimos cinco anos Direito de imagemREUTERS O acordo ocorreu no momento em que Arábia Saudita lidera, junto com outros países da região, um duro bloqueio econômico e diplomático contra o vizinho Catar, por supostamente “apoiar a terroristas”. O presidente Donald Trump elogiou a ação. “Dizem que vão adotar uma linha dura contra o financiamento do extremismo e todas as referências apontam para o Catar. Talvez este seja o começo do fim do horror do terrorismo”, escreveu Trump no Twitter. Já o democrata Ted Lieu disse, em uma audiência no Congresso, que “é muito confuso para os líderes mundiais e os membros do Congresso quando a Casa Branca faz duas coisas exatamente opostas” em relação ao Catar. Cabe lembrar que o Catar abriga a maior base militar americana no Oriente Médio, a base aérea Al-Udeid, que foi essencial para missões militares e de contraterrorismo dos Estados Unidos e de seus aliados no Afeganistão, no Iraque e na Síria. Principal mercado Tudo parece indicar que o Oriente Médio, uma região submersa em numerosos conflitos, continuará sendo um dos principais importadores de armas do mundo. E os Estados Unidos, seu principal fornecedor. “Durante os últimos cinco anos, um dos principais mercados de armas dos Estados Unidos foram as nações do Oriente Médio, especialmente a Arábia Saudita”, disse à BBC Pieter Wezeman, pesquisador do Sipri. “E mesmo que Obama tenha imposto algumas restrições, no total, essas restrições foram quase invisíveis.” “Tudo parece indicar que agora, com Trump, será inclusive mais fácil adquirir armas dos EUA do que era antes – para países como Arábia Saudita, Bahrein e vários outros na região”, conclui. A guerra no Iêmen afundou o país numa escassez de alimentos Direito de imagemAFP Estratégia A pergunta é: será que Donald Trump tem uma estratégia para o Oriente Médio, para além da venda de armas? Segundo a correspondente da BBC no Departamento de Estado, Barbara Plett Usher, em Washington se fala de uma “aparente desconexão entre o desejo de vender mais armas para a região e uma estratégia articulada para pôr fim aos conflitos ali”. Pieter Wezeman afirma que Trump não parece ter uma estratégia mais abrangente do que “vender armas para criar empregos nos Estados Unidos”. “Ele parece ter jogado fora qualquer preocupação com direitos humanos”, diz. “E parece extremamente disposto a fornecer qualquer tipo de armas que os países do Oriente Médio queiram

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