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A responsabilidade do Brasil no futuro do meio ambiente

A Floresta Amazônica detém a maior biodiversidade do planeta e precisa ser protegida Foto deDaniel Beltrá/ Greenpeace “A natureza não pode ser vista como um mero recurso econômico, mas como uma garantia de vida das futuras gerações”, afirma Nilo D’Ávila, Diretor de Campanhas do Greenpeace Brasil. “Reduzir o combate ao desmatamento faz com que o Brasil perca competitividade econômica, o que pode inclusive afetar a geração de empregos. Mercados internacionais e consumidores querem garantias de que o nosso produto agrícola não esteja manchado com a destruição florestal”, declara D’Ávila. Durante sua campanha, Bolsonaro não apresentou propostas para o meio ambiente, mas sim ameaças. Agora que foi eleito presidente, exigimos responsabilidade com a agenda socioambiental. Precisamos agir agora para evitar que a temperatura do planeta suba para além de 1.5 graus. Bolsonaro pode ser um dos últimos presidentes do Brasil que pode agir a tempo de evitar um dano irreversível ao planeta. Por isso, trabalharemos para proteger a floresta, combater as mudanças climáticas e denunciar retrocessos, nos opondo à perda de direitos e ao enfraquecimento da democracia brasileira. Ao longo de 26 anos no Brasil, o Greenpeace nunca se furtou a criticar governos e políticos cujos projetos representassem ameaça ao meio ambiente e à população, independente do partido ou da cor da bandeira que defendem. Foi esta nossa linha de conduta nos governos Fernando Henrique, Lula, Dilma, Temer e com Parlamentares dos mais diversos campos. Greenpeace continuará defendendo o meio ambiente, a paz e a justiça social. Esses são os valores que guiam a organização desde a sua fundação, assim como a independência e a não violência.

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Exportações impulsionam desmatamento no Brasil e Indonésia

Plantação de palmeiras para produção de óleo na Malásia, um dos maiores produtores mundiais. Estudo afirma que um terço do CO2 liberado pelo desmatamento está ligado às exportações de commodities, como carne bovina, óleo de palma e soja, e questionam atual método de atribuição de emissões aos países. A margarina que o cientista Martin Persson passa em seus sanduíches todas as manhãs não lhe tira o sono à noite – mas deixa uma leve sensação de culpa. Persson, pesquisador da Universidade Chalmers, na Suécia, é vegano, mas ele sabe que seu inocente café da manhã ajuda a destruir florestas a cerca de dez mil quilômetros de distância. Há muito se sabe que o óleo de palma presente na margarina e outros alimentos cotidianos, assim como a carne bovina e a soja, impulsionam o desmatamento em países como o Brasil e a Indonésia. Mas agora, Persson e uma equipe internacional de pesquisadores calcularam quanto a demanda externa por commodities impulsiona essa destruição. O estudo, publicado na semana passada, descobriu que de 29% a 39% do dióxido de carbono liberado pelo desmatamento é causado pelo comércio internacional, que leva agricultores a derrubar florestas para abrir espaço para plantações, pastagens e cultivos que produzam bens frequentemente consumidos no exterior. Os autores escreveram que, em muitos países ricos, as emissões “embutidas” nas importações – relacionadas ao desmatamento – são maiores até do que as geradas pela agricultura local. “Os responsáveis não são somente os consumidores dos países onde ocorre o desmatamento – isso também é causado por consumidores em outros lugares”, diz Ruth Delzeit, chefe de meio ambiente e recursos naturais do instituto de estudos econômicos IfW, de Kiel. Isso é importante para contabilizar as emissões de CO2 e decidir a quem atribuí-las. “A ONU atribui as emissões aos países onde elas são produzidas”, comenta Jonas Busch, economista-chefe do Earth Innovation Institute, que luta contra o desmatamento e pela segurança alimentar em países como Brasil, Colômbia e Indonésia. Na Alemanha, por exemplo, isso significa que as emissões de uvas cultivadas localmente são computadas como alemãs – mas não as emissões da margarina feita com o óleo de palma importado da Indonésia. A destruição das florestas e matas da Terra, que retiram e armazenam o CO2 da atmosfera, é um grande obstáculo na luta para conter as mudanças climáticas. O problema se agrava ainda mais, dizem os especialistas, através de cadeias de fornecimento e produção complexas, que distanciam os consumidores dos danos decorrentes da fabricação dos produtos. Para estimar as pegadas de carbono do desmatamento por país e mercadoria, a equipe de pesquisa na Suécia combinou dados do fluxo de comércio com imagens de satélite de mudanças no uso da terra entre 2010 e 2014. Eles não consideraram a perda florestal de atividades não agrícolas – como mineração, urbanização ou incêndios florestais naturais –, que causam cerca de 40% do desmatamento. Na África, eles descobriram que quase todas as emissões relacionadas à destruição das florestas permaneceram dentro do continente. Mas, na Ásia e na América Latina, quantidades consideráveis do CO2 liberado através da queima e corte de árvores foram, na prática, exportadas para a Europa, América do Norte e Oriente Médio. De quem é a responsabilidade? As diferentes formas de contagem de emissões, ou no lugar onde o CO2 é emitido ou onde os produtos cuja produção o liberam são consumidos, levanta questões difíceis sobre de quem é a responsabilidade. “Você poderia dizer que a União Europeia [UE] é apenas uma pequena parte do problema”, afirmou Persson, referindo-se à alta parcela de consumo que não deixou as regiões tropicais, mas que foi consumida domesticamente. A maior parte das emissões de desmatamento teve origem apenas em quatro commodities: madeira, carne bovina, soja e óleo de palma. Na Indonésia e no Brasil, respectivamente o quarto e o quinto país mais populoso do mundo, o óleo de palma e a carne bovina têm enormes mercados domésticos. Mesmo assim, a contribuição europeia é significativa, ressalva Persson. “Na UE, queremos reduzir nosso próprio impacto nas mudanças climáticas – e essa é uma parte importante do impacto causado por nós”. Em clara discordância com a contagem tradicional do dióxido de carbono, os pesquisadores estimaram que cerca de um sexto do CO2 liberado por uma típica dieta europeia pode ser ligada ao desmatamento em regiões tropicais, por meio de produtos importados. “Foi uma surpresa para mim”, comenta Persson. “Sim, importamos muita comida, mas a maioria dos alimentos que consumimos na UE é produzida internamente.” O Brasil exportou um recorde de 1,64 milhão de toneladas de carne bovina em 2018, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), um aumento de 11% comparado com 1,48 milhão de toneladas exportadas em 2017. A Indonésia é a maior produtora mundial de óleo de palma, que está presente cada vez mais em produtos do cotidiano, como margarina, barras de chocolate, nutella, sabonetes e shampoo. “O óleo de palma é uma das mais importantes commodities de exportação, então é possível rastrear os efeitos do desmatamento desse comércio, e isso tem um grande impacto na Indonésia”, diz o cientista Ahmad Dermawan, do Centro Internacional de Pesquisa Florestal (Cifor). . Além de emitir CO2, a queima e a derrubada das florestas também podem causar deslocamento de pessoas, perda de habitat e inundações. No Brasil, terras indígenas estão ameaçadas por lavouras. Na Indonésia e na Malásia, mais de 100 mil orangotangos foram mortos desde 1999, de acordo com um estudo publicado no ano passado. Consumo crescente Os especialistas temem que o desmatamento e a destruição associada a ele continuem aumentando à medida que países emergentes se tornem mais ricos. A Índia já é o maior importador de produtos oleaginosos indonésios. A alta do ano passado nas exportações brasileiras de carne bovina, por sua vez, foi impulsionada por um aumento de 53% na demanda chinesa entre 2017 e 2018, segundo dados da Abiec. “Podemos ver que as exportações para a Índia e a China aumentarão maciçamente no futuro [à medida que crescerem] sua renda per capita”, informa Delzeit. “Eles se aproximam das dietas ocidentais, o que inclui o aumento do consumo de carne.” Isso tem efeitos para as nações mais ricas, que

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“Estamos diante do fim das energias fósseis” – Jeremy Rifkin; sociólogo e economista

O sociólogo e economista Jeremy Rifkin (Denver, 1943) previu o fim do trabalho muito antes de todos os ‘think tanks’ do mundo. Fotografia de Stephan Roehl do mundo anunciassem que as máquinas ocupariam a maioria dos postos de trabalho na indústria. Também foi o grande guru do que chama de “terceira revolução industrial”, baseada nas energias sustentáveis e nas consequências da Internet como a economia colaborativa. Trabalhou como consultor para vários governos, da China à Alemanha ou Espanha, e também para a União Europeia. É autor de quase 20 livros, mas, acima de tudo, é uma das vozes mais respeitadas do mundo por suas previsões acertadas. Publicou recentemente The Zero Marginal Cost Society (St. Martin’s Presss) [A Sociedade do Custo Marginal Zero], em que prenuncia um futuro de energia gratuita que mudará completamente o modelo de produção e, assim, a sociedade. Ele não apresenta isso como uma utopia, mas como uma realidade iminente. A entrevista aconteceu em Dallas, durante o congresso internacional do World Travel & Tourism Council (WTTC). Pergunta. O senhor afirma que em breve teremos energia gratuita. Acredita que os gigantes da energia permitirão que isso aconteça? Resposta. No ponto em que estamos, é irrelevante o que esses gigantes digam porque isso já está acontecendo. A segunda revolução industrial já atingiu o pico e está em pleno declínio. O elefante na sala é a mudança climática: estamos diante de mudanças radicais no planeta nos próximos 50 anos, não em dois séculos. Precisamos de uma nova abordagem econômica e devemos enfrentar a questão fundamental de como produzimos. P. Essa terceira revolução parece em algo com as anteriores? R. Em todas as grandes mudanças econômicas convergiram três fatores: o primeiro é a comunicação; o segundo, as novas fontes de energia que impulsionam a economia; o terceiro as formas inovadoras de transporte que são mais eficazes. Assim, a segunda revolução industrial nasceu nos Estados Unidos com a eletricidade centralizada, o telefone, o rádio e a televisão, e o petróleo barato do Texas. Henry Ford colocou todos na estrada. Isso continuou durante um século, mas em julho de 2008 tudo desabou quando o preço do petróleo atingiu o recorde de 147 dólares o barril. A economia entrou em colapso porque tudo dependia das energias fósseis e nucleares. Com os preços atuais, essas empresas não são competitivas, não podem se manter com preços inferiores a 40 dólares o barril, todas vão à falência. Chegamos ao final da segunda revolução industrial, baseada em combustíveis fósseis. P. E como isso levará à energia de custo zero? R. Como a economia vai crescer se estiver conectada a infraestruturas do passado que atingiram seu pico de produtividade nos anos noventa? Já atingiu o máximo, e isso muitos partidos políticos, de esquerda ou de direita, não entendem, embora os empresários estejam começando a entender. Por exemplo, na Espanha, podem ser feitas todas as reformas trabalhistas que se quiser, ou criar incentivos para novos investimentos, mas não fará nenhuma diferença porque as empresas estão conectadas a uma infraestrutura obsoleta. P. Como se encaixam nisso as novas formas da Internet? R. O capitalismo ainda não sabe como lidar com essa economia colaborativa. Eu considero que é um novo sistema econômico, assim como foram o capitalismo e o socialismo. Está aqui para ficar, embora agora pareça algo muito nebuloso. Já vimos o que aconteceu com as comunicações, agora vamos ver o que acontece com a energia e os transportes. A tecnologia digital leva a custos marginais próximos de zero. Os jovens estão produzindo e compartilhando sua própria música, o custo de produzir com qualidade de estúdio é quase zero e jovens compartilham o resultado por quase nada. O mesmo acontece com os vídeos. Os jornais e as revistas estão vivendo isso com as redes sociais. As pessoas contribuem para o Wikipedia por nada, o conhecimento do mundo está se democratizando. Muitos pensaram que isso só acontecia no mundo virtual, não no real, mas o que eu afirmo é que quando você aplica isso na Internet das Coisas essa diferença desaparece. Estamos vendo isso na energia, no transporte e na logística. Por exemplo, na Alemanha, com cujo Governo trabalho há décadas, a energia eólica e solar está aumentando muito rapidamente com um custo marginal zero. Em 10 anos será de 40% e até 2040 será de 100%. É um progresso semelhante ao dos microchips dos computadores: nos anos 40, havia um par de computadores e custavam milhões de dólares, mas depois veio o chip Intel e agora temos computadores em telefones que custam 25 dólares na China que são mais poderosos dos que foram usados para enviar o homem à lua. Ainda se ignora que vai acontecer o mesmo processo com a energia solar e eólica: em 1978, um watt solar custava 78 dólares, agora custa 50 centavos. E em 18 meses custará 35 centavos. P. E como se resolve o problema da acumulação? Porque essa energia exige que haja luz ou vento… R. Chegaremos a isso. Uma vez que se paga pela infraestrutura, depois os custos são zero. O vento ou a luz não nos mandam a conta. Há vários fatores fundamentais que determinam que isso funcione, um deles é a conectividade necessária para o transporte e a logística. Temos que fazer todos ao mesmo tempo. A Alemanha e a Dinamarca estão se movimentando muito mais rápido do que outros e estão tendo sucesso. No ano passado, um dia houve tanta energia solar e eólica que tivemos preços negativos. É grátis. Insisto: não é uma teoria. P. Que outros países estão na liderança? R. A China está ciente de que perdeu a primeira revolução industrial e parte da segunda. Estou viajando constantemente para lá e agora eles reagem muito rápido. Investem muito na digitalização da eletricidade, de modo que milhões de chineses possam produzir sua própria energia solar e colocá-la na rede. Ninguém fala sobre isso. P. Que implicações isso terá? R. Quando tivermos toda essa energia será possível o transporte sem motorista via GPS. Os jovens estão evoluindo da propriedade

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