Louise Glüc – Poesia – 30/05/24

Boa noite
Solitude
Louise Glück¹

Está muito escuro, hoje; através da chuva,
a montanha deixa de ser visível. O único som
é o da chuva, arrastando a vida para debaixo da terra.
E com a chuva vem o frio.
Esta noite não haverá Lua, não haverá estrelas.

O vento levantou-se durante a noite; fustigou o trigo toda a manhã parou ao meio-dia. Mas a tempestade continuou,
encharcando os campos secos, inundando-os a seguir

A terra desapareceu.
Não há nada para ver, só a chuva a reluzir no escuro das vidraças.
Este é o lugar de repouso, onde nada mexe –

Agora voltamos ao que éramos –
animais a viver na escuridão,
desprovidos de linguagem ou de visão –

Nada prova que estou viva.
Há apenas a chuva, a chuva é infindável.

¹Louise Glück “Uma Vida de Aldeia”. [tradução Frederico Pedreira]. Edição bilíngue. Lisboa: Relógio D’Água, 2021

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