Europeus terão que se habituar a extremos climáticos, dizem cientistas
Chuvas intensas caíram sobre Berlim nos últimos dias
Calor seguido de chuvas intensas tem marcado o verão em Berlim e em outras regiões da Alemanha.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]
Segundo pesquisadores, efeitos do aquecimento global se farão sentir cada vez mais na Europa.
Pela segunda vez em menos de um mês, os bombeiros de Berlim decretaram “estado de emergência” no fim de semana passado.
Chuvas torrenciais inundaram várias ruas da capital alemã, e em algumas delas a altura da água alcançou mais de 1 metro.
Os bombeiros não conseguiram dar conta de todos os chamados.
Segundo um jornal, foram mais de 185 operações em apenas uma hora e meia.
Na região do Lago de Constança, no sul da Alemanha, as tempestades derrubaram árvores e causaram deslizamentos de terra em áreas montanhosas, o que bloqueou o trânsito de trens.
Para cientistas, os alemães terão que se acostumar com esse tipo de situação.
Os gases do efeito estufa não apenas levam ao derretimento de gelo nos polos e ao aumento do nível do mar, mas têm efeitos cada vez maiores também na Europa Central.
“Nós já havíamos previsto há muito tempo essas repentinas mudanças de tempo, de calor seco para chuvas torrenciais, e agora isso se torna mais claro a cada ano”, diz o pesquisador Mojib Latif, do Centro Helmholtz de Oceanografia (Geomar), em Kiel.
“Na Alemanha, a temperatura anual média subiu 1,4 °C desde 1880, e é claro que isso tem consequências”, afirma.
Por um lado, o aquecimento global intensifica o Anticiclone dos Açores, um grande centro de altas pressões atmosféricas localizado no Atlântico Norte. Por outro, a Europa não está imune aos efeitos das regiões de baixa pressão atmosférica, aponta Latif.
“Cada grau a mais nas temperaturas médias eleva a possível intensidade da chuva em 7%”, diz o especialista.
Segundo ele, por muito tempo mediu-se apenas a quantidade de chuva ao longo de muitos dias ou semanas. Só que o problema, agora, é a grande quantidade de água em pouco tempo. “Nesse ponto faltam dados de medição para previsões exatas.” O princípio, porém, é claro: ar mais quente pode armazenar mais água, e as pancadas de chuva ficam mais fortes.
Chuva no centro, seca no sul
Segundo o meteorologista Peter Hoffmann, do Instituto de Pesquisas Climáticas de Potsdam, o Ártico se aquece muito mais rápido do que outras regiões devido às mudanças climáticas.
“Isso muda a relação entre áreas de alta e baixa pressão, e também o deslocamento delas pela Europa Central”, diz Hoffmann. “E agora temos uma área de baixa pressão sobre a Europa Central, que permanece por muitos dias e é responsável pelas chuvas fortes e repentinas.” Ele destaca ainda uma outra relação: chuvas fortes na Europa Central significam secas extremas no sul europeu.
De fato, as autoridades de Roma soaram o alarme por causa da falta de água. A capital da Itália está sendo castigada por altas temperaturas e ar seco. As autoridades já pensaram até em cortar a água residencial por algumas horas depois de o Lago de Bracciano, uma das principais fontes de abastecimento de água potável, ter ficado 160 centímetros abaixo do nível normal. E, por causa da escassez, o Vaticano desligou os chafarizes da Praça de São Pedro e as fontes de água dos seus jardins.
Os dois cientistas ressalvam: os habitantes da Europa Central terão que se acostumar aos extremos climáticos. “Não é assim tão fácil reverter a situação”, diz Hoffmann. E Latif acrescenta: “É verdade que o clima costuma ser um sistema caótico, mas teremos que nos habituar à rápida alternância entre calor extremo e fortes chuvas.”