Poema
Manoel de Barros ¹
Aprendo com abelhas do que com aeroplanos.
É um olhar para baixo que eu nasci tendo.
É um olhar para o ser menor, para o
insignificante que eu me criei tendo.
O ser que na sociedade é chutado como uma
barata – cresce de importância para o meu
olho.
Ainda não entendi por que herdei esse olhar
para baixo.
Sempre imagino que venha de ancestralidades
machucadas.
Fui criado no mato e aprendi a gostar das
Coisinhas do chão –
Antes que das coisas celestiais.
Antes pertencidas de abandono me comovem:
tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.
in Retrato do Artista Quando Coisa.
¹ Manoel Wenceslau Leite de Barros
* Cuiabá, MT. – 19 de Dezembro de 1916 d.C
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