Poema
Claudio Jorge Willer ¹
é hora de dizer claramente como são as coisas:
você abre suas portas suas pernas seus braços sua boca seu corpo
você se escancara
eu embarco em você
eu me engajo me prendo me agarro navego em você
plano em um jogo de arriscado equilíbrio
atiro-me em seus abismos
singro suavemente sua brisa
enfrento seus maremotos
viajo por sua velocidade
perco-me no emaranhado de seu pântano, no labirinto de terra e de areia,
de água do mar e de água doce
– nós somos o pântano e somos o labirinto
cego-me em sua brancura
alço-me em sua ondulação
você é o planeta onde pouso
a nuvem em que me envolvo
aura estelar, dissipação de caudas de cometas
leva-me e me conduz
nessa dança desarticulada
para mais longe para o alto para o
profundo
me arrasta
amor oxímoro
amor, palavra de paradoxos
¹ Claudio Jorge Willer
* São Paulo, SP. – 2 de dezembro de 1940 d.C
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