Economia: A pequena depressão

As negociações de dívida, se derem certo, repetirão o grande erro de 1937: opção prematura por contração fiscal freará a recuperação.

Estes são tempos interessantes – no pior sentido. Estamos diante não de uma crise iminente, mas de duas, com riscos de desastre global.

Nos EUA, fanáticos de direita no Congresso podem bloquear a elevação necessária do teto da dívida.

E, se o plano que acaba de ser acordado por chefes de Estado europeus não acalmar os mercados mundiais, poderemos ver dominós caindo em todo o sul da Europa. Potencialmente, as duas semeariam o caos.

Mesmo que consigamos evitar uma catástrofe imediata, é praticamente garantido que os acordos que estão sendo fechados de cada lado do Atlântico agravem a depressão.

Os responsáveis pelas decisões econômicas parecem determinados a perpetuar algo que chamo de a Pequena Depressão – o período prolongado de desemprego alto que começou com a Grande Recessão de 2007-2009 e continua até hoje.

A grande bolha imobiliária da década passada, fenômeno americano e europeu, foi acompanhada por um aumento enorme na dívida das famílias.

Quando a bolha estourou, a construção imobiliária residencial caiu vertiginosamente, assim como os gastos dos consumidores.

Tudo ainda poderia ter dado certo se outros atores econômicos importantes tivessem elevado gastos.

Mas ninguém o fez.

E os governos tampouco fazem muito para ajudar.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita]

Alguns foram, pelo contrário, obrigados a reduzir gastos em vista da queda das receitas.

Os esforços modestos de governos fortes (incluindo o plano de estímulo de Obama) mal foram suficientes para contrabalançar essa austeridade forçada.

Portanto, estamos com economias enfraquecidas. O que os governantes propõem? Menos que nada.

Anteontem, os “chefes de Estado ou governo da área do euro” divulgaram seu grande acordo. Não foi tranquilizador.

É difícil acreditar que a engenharia financeira que o comunicado propõe resolva a crise grega, que dirá a europeia.

Mas, mesmo que resolva, o que vai acontecer a seguir?

O comunicado prevê fortes reduções do deficit “em todos os países exceto os que estão em um programa”, a acontecer “até 2013 no mais tardar”.

Como os países “que estão em um programa” estão sendo forçados a aderir à austeridade fiscal drástica, isso equivale a planejar que toda a Europa reduza gastos ao mesmo tempo.

E nada sugere que em menos de dois anos o setor privado estará preparado para tomar medidas para que a economia cresça.

Para quem conhece a história dos anos 30, soa muito familiar. Se alguma das duas negociações de dívida fracassar, é possível que estejamos perto de um replay de 1931, o colapso global dos bancos que fez a Grande Depressão ser tão grande.

Mas, se elas derem certo, estaremos prestes a repetir o grande erro de 1937: a opção prematura por contração fiscal que fez a recuperação descarrilar e garantiu que a Depressão continuasse até que a Segunda Guerra finalmente deu à economia o incentivo de que ela precisava.

Há um ditado antigo:
“Você não sabe, meu filho, com quão pouca sabedoria o mundo é governado”.

As elites de ambos os lados do Atlântico mostram incompetência em sua resposta ao trauma econômico, ignorando todas as lições da história.

Paul Krugman/Folha SP
Tradução de Clara Allain

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