Sophia Andresen – Versos na tarde

Bebido ao Luar
Sophia Andresen ¹

Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.

“Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto ao mar”

“Cortaram os trigos. Agora
A minha solidão vê-se melhor”

“Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero

¹ Sophia de Mello Breyner Andresen
* Porto, Portugal – 6 de Novembro de 1919 d.C
+ Lisboa, Portugal – 2 de Julho de 2004 d.C


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