No Oceano com Mr. Conrad
Ademir Demarchi¹
Imensidão de água sob os pés
Dentro do barco bêbado o mar no convés
A paisagem se rompe e muda aos poucos
com a vinda de outra nau errante pelas marés
um fato, como um acidente geográfico
que passa com seu tráfico ocasional
O sabor das ondas
às vezes é o dissabor da vida
me diz, professor
fitamos:
centenas de vidas vis ardendo ali
Naus, como palavras
sobre os mares vêm e vão
esfaceladas pela lâmina cortante das águas
Nada dizem os mapas
técnica, ciência, saber
não espere mensagem, nenhuma
nem das inúmeras garrafas
que se confundem com as vítreas águas,
como vagas de cristais
Embora assim, honrado me sinto
nos convés de Mr. Conrad
Horas ficamos
Fitando a circularidade do horizonte
dizimando nossa fraqueza
de discernir o humano:
incapaz de bússola
ele a concebe para os ares
e para os estelares
A água balança o cérebro
me diz Mr. Conrad
E ah, também entorta as bengalas
lhe digo eu
E caímos na risada
¹Ademir Demarchi
*Maringá, PR. – 07 de Abril de 1960
Formado em Letras/Francês, com Mestrado (UFSC – 1991) e Doutorado (USP – 1997) em Literatura Brasileira, é editor da revista BABEL, de poesia, critica e tradução.
[ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]