Meu Filho, Minha Filha
Fabrício Carpinejar¹
Não chama nenhum dos meus filhos
de meio-irmão. Que metade é essa
apartada de sua inteireza?
Qual é o complemento que falta
para que o sangue seja legítimo?
Será bastarda a perna esquerda ou a direita?
Qual é o braço falso? Aponta-me os traços fingidos.
O que fugiu do nascimento para acusá-los de incompletos?
Não noto, na aparência são semelhantes.
Na convivência são semelhantes.
Ambos se debruçam ao prato com igual
indiferença dos dentes.
Ambos recorrem às mesmas
desculpas para não dormir.
Ambos me sufocam de risos quando acordo.
O ventre não se repete.
Não chama nenhum dos meus filhos
de irmão emprestado.
Eu não emprestei, eu dei à vida,
não reclamo de volta.
Não há pai por partes, nem mãe em porções.”
¹Fabrício Carpi Nejar – Poeta e jornalista.
* Caxias do Sul – 1972 d.C
Prêmio Açoriano de Literatura.
Prêmio Marengo D’Oro – Itália
Prêmio Fernando Pessoa, da União Brasileira de Escritores.
Prêmio Cecília Meireles, da União Brasileira de Escritores.
Prêmio Nacional Olavo Bilac 2003, da Academia Brasileira de Letras, com Biografia de uma árvore, escolhido o melhor livro de poesia de 2002.
Mestre em literatura, com estudo sobre A Teologia do Traste na poesia de Manoel de Barros, em contraposição à Psicologia da Composição de João Cabral.
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