Gilka Machado – Versos na tarde – 21/04/2014

Symbolos
Gilka Machado ¹

Eu e tu, ante a noute e o amplo desdobramento
do mar fero, a, estourar de encontro á rocha nua.
Um symbolo descubro aqui, neste momento;
esta rocha e este mar… a minha vide e a tua…

O mar vem… o mar vae…. nelle ha o gesto violento
de quem maltrata e, após, se arrepende e recúa…
Como eu comprehendo bem da rocha o sentimento!
são bem eguaes, por certo, a minha magua, e a sua!

Symbolisa este quadro a nossa propria vida:
tu és esse mar bravio, inconstante e inclemente,
com carinhos de amante e furias de demente;

eu sou a dôr parada, a dôr empedernida,
eu sou aquella rocha encravada na areia,
alheia ao mar que a punge, ao mar que a afaga alheia…

In Estados da alma: poesias. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1917.
(conservando a ortografia original…)

¹ Gilka da Costa de Melo Machado
*Rio de Janeiro, RJ – 1893 d.C
+ Rio de Janeiro, RJ – 1980 d.C

Personalidades - Poetas - Brasil - GILKA MACHADOCasou-se com o poeta Rodolfo de Melo Machado em 1910. Teve dois filhos: Helio e Eros. O marido, Rodolfo, faleceu em 1923. Seu primeiro livro de poesia, “Cristais Partidos”, foi publicado em 1915. Em 1916 foi publicada sua conferência “A Revelação dos Perfumes”, no Rio de Janeiro. Em 1917 publicou “Estados de Alma” e, em seguida, no ano de 1918, “Poesias, 1915/1917”, “Mulher Nua”, em 1922, “O Grande Amor”, “Meu Glorioso Pecado”, em 1928, e “Carne e Alma”, em 1931.

Em 1932, foi publicada em Cochabamba, Bolívia, a antologia “Sonetos y Poemas de Gilka Machado”, com prefácio Antonio Capdeville. No ano seguinte, a escritora foi eleita “a maior poetisa do Brasil”, por concurso da revista “O Malho”, do Rio de Janeiro. “Sublimação” foi publicada em 1938, “Meu Rosto” em 1947, “Velha Poesia” em 1968 e suas “Poesias Completas” editadas em 1978. Em 1979, foi agraciada com o prêmio Machado de Assis pela Academia Brasileira de Letras.

Nesse mesmo ano a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro prestou homenagem à mulher brasileira na pessoa da poeta. Escreveu versos, sendo simbolista, considerados escandalosos no começo do século XX, por seu marcante erotismo.


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