Sem título
Sextus Propércio¹
Por que tens tanto prazer, vida minha,
em andar com os cabelos enfeitados,
em fazer ondular as leves pregas do teu traje,
de tecido de Cós?
Por que tens tanto prazer em inundar os cabelos
com mirra de Orontes
e vender-te por presentes estrangeiros?
Por que tens tanto prazer em trocar
tua beleza natural por um luxo comprado
e em não permitir que teus membros brilhem
com seus próprios dotes?
Crê-me: nenhum cosmético é necessário ao teu semblante;
o Amor é nu e não ama os artifícios da beleza.
Observa as cores formosas que a terra produz
para que as heras, espontaneamente, cresçam mais belas;
para que, nas grutas abandonadas,
o medronheiro surja mais formoso
e as águas indóceis
saibam percorrer o seu caminho.
As praias atraem, matizadas com seixos nativos,
e os pássaros, sem aprender,cantam com doçura maior.
Não foi assim que Febe, a filha de Leucipo,
inflamou o coração de Cástor;
não foi pela beleza cultivada que Hilaíra,
sua irmã, inflamou o de Pólux;
não foi assim que a filha de Eveno, na praia de seu país,
foi motivo de discórdia para Idas e o cúpido Febo;
não foi com a falsa brancura
de uma tez pintada que Hipodâmia,
raptada por um carro estrangeiro,
conquistou um esposo frígio:
seu rosto não devia nada às pedras preciosas;
tal é seu aspecto nos quadros de Apeles.
Nenhuma delas teve a intenção de conquistar
o amante de forma vulgar;
nelas, o grande pudor já era suficiente formosura.
Não tenho receio de ser para ti menos do que todos estes.
Se uma mulher agrada um único homem,
ela já é enfeitada
principalmente quando Febo
te oferece seus versos
e a jovial Calíope, sua lira aônia.
Não te falta a graça de palavras belas
e tudo que Vênus e Minerva aprovam.
Serás sempre o encanto de minha existência
desde que sintas repulsas por todo esse luxo infeliz.
Tradução: Zélia de Almeida Cardoso
¹Sextus Propertius
* Assis, Umbria, Itália – 43 a.C
+ Roma , Itália – 17 d.C
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