Boa noite.
Língua-mar
Adriano Espínola¹
A língua em que navego, marinheiro,
na proa das vogais e consoantes,
é a que me chega em ondas incessantes
à praia deste poema aventureiro.
É a língua portuguesa, a que primeiro
transpôs o abismo e as dores velejantes,
no mistério das águas mais distantes,
e que agora me banha por inteiro.
Língua de sol, espuma e maresia,
que a nau dos sonhadores-navegantes
atravessa a caminho dos instantes,
cruzando o Bojador de cada dia.
Ó língua-mar, viajando em todos nós.
No teu sal, singra errante a minha voz.
¹Adriano Espínola
* Fortaleza, CE. – 1952 d.C
Professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Ceará e professor-leitor na Université Stendhal-Grenoble III (1989-91).
Autor de vários livros de poesia e de antologias em português e em inglês.
Já tem publicados uma tese sobre a poesia de Gregório de Matos e os seguintes livros de poesia:
Fala, favela (1981);
O lote clandestino (1982);
Trapézio (1984);
Táxi (1986);
Metrô (1993);
Em trânsito (1996), que reúne os dois livros anteriores;
Beira-Sol (1997).
Em 1998 foi lançada uma segunda edição bilíngüe (português/francês) do seu livro de estréia.