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Cecília Meireles – Poesia – 19/11/24

Boa noite Da Solidão Cecília Meireles Estarei só. Não por separada, não por evadida. Pela natureza de ser só. No entanto, a multidão tem sua musica, seu ritmo, seu calor, e deve ser uma felicidade, às vezes, ser na multidão o que o peixe é no oceano. Ah! mas quem sabe das solidões que haverá nessas águas enormes! Estarei só. Recordarei essas cidades, esses tempos. Recordarei esses rostos. Pode ser que recorde alguma palavra. Nada perturbou o meu estar só. Por vezes, com o rosto nas mãos, pode ser que sentisse como os desertos amontoavam suas areias entre meu pensamento e o horizonte. Mas o deserto tem sua musica, seu ritmo, seu calor. Era uma solidão que outrora se levava nos dedos, como a chave do silencio. Uma solidão de infância sobre a qual se podia brincar, como sobre um tapete. Uma solidão que se podia ouvir, como quem olha para as arvores, onde há vento. Uma solidão que se podia ver, provar, sentir, pensar, sofrer, amar, uma solidão como um corpo, fechado sobre a noção que temos de nós: como a noção que temos de nós. E andava, e sorria, cumprimentava e fazia discursos, dava autógrafos, abria a janela, conhecia gavetas, chaves, endereços, comprava, lia, recordava, sonhava, às vezes pensava – Solidão – e logo seguia, tinha até dinheiro comigo, tinha palavras, também, que escolhia, dava, usava, recusava… Solidão – dizia: fechava a tarde de mil portas, andava por essas fortalezas da noite, essas escadas, essas plataformas, essas pedras… e deitava-me sobre o mar, sobre as florestas, deitava-me assim – aldeias? cidades? O sono é um límpido deserto – deitava-me nos ares, onde quer que estivesse deitada. Deitava-me nessas asas. Ia para outras solidões. Se me chamares, responderei, mas serei solidão. Serei solidão, se me esqueceres ou lembrares. Qualquer coisa que sintas por mim, eu te retribuirei: como o eco. Mas és tu que vens e voltas: a tua solidão e a minha solidão. 1958 Cecília Meireles In: Poesia Completa

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Marina Grandolpho – Poesia – 19/11/24

Boa noite. Bloco de notas Marina Grandolpho Hoje não vou escrever um poema de amor porque não quero mas sei, sei que no instante seguinte vou falar da cabeceira da nossa cama cúmplice de tantas conversas vou falar da mesinha lateral dona de seus livros tão empoeirados não, não vou não quero falar de amor então vou falar de algo externo ao nosso ninho ou pelo menos ao que costumávamos chamar de ninho vou falar das árvores lá fora das calçadas alvejadas pelos cacarejos dos pássaros vou falar das pedras que formam mosaicos no passeio vou falar também das pequenas coisas invisíveis a olho nu embora não possamos vê-las estão ali escondidas em cimento rejunte massa espreitando a vida nos entres conectando peças que nem sempre fazem sentido nem precisam fazer elas guardam nesses mínimos espaços os resquícios de passadas e segredos antigos que ninguém ousou dizer em voz alta e me parecem muito com o amor aquele de quem me recuso falar e que, ainda assim, está aqui

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Rachel de Queiroz

A escritora Rachel de Queiroz nasceu no dia de hoje, em 1910, em Fortaleza, Ceará. Ela é considerada uma das vozes mais importantes da literatura brasileira do século XX e uma das maiores autoras da segunda geração modernista no Brasil. Autora de destaque na ficção social nordestina, foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em 1977.​ Rachel de Queiroz também se destacou como cronista e jornalista, contribuindo com seus textos para diversos jornais e revistas. Ao longo de sua vida, ela foi reconhecida com inúmeros prêmios e honrarias, incluindo o Prêmio Jabuti, um dos mais prestigiosos do Brasil. Em 1993, ela também foi a primeira mulher a ser agraciada com o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa. Ela morreu em 4 de novembro de 2003, aos 92 anos, no Rio de Janeiro.

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Ex-libris

O ex-libris é uma espécie de gravura inserida geralmente nas primeiras folhas de um livro ou na contracapa, contendo o nome ou as iniciais do proprietário e podendo, através de uma imagem ou texto, indicar sua profissão, seus gostos, seu ideário. Por meio do ex-libris é que os bibliófilos, ou os leitores que prezam os seus livros e se orgulham da sua biblioteca, costumam personalizar cada um dos seus volumes. Daí, justamente, a origem do nome: em latim, ex libris significa “dentre os livros de”, “da biblioteca de”. A expressão – às vezes também se usava ex-dono ou ex-biblioteca – inscrita no corpo da obra seguida do nome do proprietário, indicava a sua proveniência.

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Prisão Preventiva para Bolsonaro e Braga Neto

Prisão preventiva: Bolsonaro e Braga Neto estão a um fio de serem presos Entre juristas e advogados a tese de que já existem os elementos para uma prisão preventiva de Bolsonaro e Braga Netto deixa de ser tratada como algo radical e passa a ser entendida como necessária para o momento.

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