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Pablo Neruda – Poesia – 09/01/24

Boa noite Teu riso Pablo Neruda Tira-me o pão, se quiseres, tira-me o ar, porém nunca me tires o teu riso. Não me tires a rosa, a lança que debulhas, a água que de repente em tua alegria estala, essa onda repentina de prata que te nasce. De áspera luta volto com olhos fatigados por vezes de ter visto a terra que não muda, mas ao chegar teu riso sobe ao céu me buscando, e abre para mim todas as portas desta vida. Amor meu, no momento mais escuros desata o teu riso, e se acaso vês que meu sangue mancha as pedras do caminho, ri, porque teu riso será, em minhas mãos, como uma espada fresca. Junto ao mar, no outono, teu riso deve erguer sua cascata de espuma, e em primavera, amor, quero teu riso como a flor que eu esperava, a flor azul, a rosa da minha pátria sonora. Que te rias da noite, ri do dia, da lua, das ruas tortas da ilha, ri do desajeitado rapaz que te quer tanto, porém quando mal abro os olhos, quando os fecho, quando os meus passos vão, quando os meus passos voltam, nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera, mas nunca o teu riso, senão, amor, eu morro.

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