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Adélia Prado – Poesia – 01/06/23

Boa noite Dolores Adélia Prado Hoje me deu tristeza, sofri três tipos de medo acrescido do fato irreversível: não sou mais jovem. Discuti política, feminismo, a pertinência da reforma penal, mas ao fim dos assuntos tirava do bolso meu caquinho de espelho e enchia os olhos de lágrimas: não sou mais jovem. As ciências não me deram socorro, não tenho por definitivo consolo o respeito dos moços. Fui no Livro Sagrado buscar perdão pra minha carne soberba e lá estava escrito: “Foi pela fé que também Sara, apesar da idade avançada, se tornou capaz de ter uma descendência…” Se alguém me fixasse, insisti ainda, num quadro, numa poesia… e fossem objetos de beleza os meus músculos frouxos… Mas não quero. Exijo a sorte comum das mulheres nos tanques, das que jamais verão seu nome impresso e no entanto sustentam os pilares do mundo, porque mesmo viúvas dignas não recusam casamento, antes acham sexo agradável, condição para a normal alegria de amarrar uma tira no cabelo e varrer a casa de manhã. Uma tal esperança imploro a Deus.

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