Fernando Pessoa – Poesia – 29/01/24
Boa noite. Meu pensamento é um rio subterrâneo Fernando Pessoa¹ Meu pensamento é um rio subterrâneo. Para que terras vai e donde vem? Não sei… Na noite em que o meu ser o tem Emerge dele um ruído subitâneo De origens no Mistério extraviadas De eu compreendê-las…, misteriosas fontes Habitando a distância de ermos montes Onde os momentos são a Deus chegados… De vez em quando luze em minha mágoa Como um farol num mar desconhecido Um movimento de correr, perdido Em mim, um pálido soluço de água… E eu relembro de tempos mais antigos Que a minha consciência da ilusão Águas divinas percorrendo o chão De verdores uníssonos e amigos, E a ideia de uma Pátria anterior À forma consciente do meu ser Dói me no que desejo, e vem bater Como uma onda de encontro à minha dor. Escuto o… Ao longe, no meu vago tacto Da minha alma, perdido som incerto, Como um eterno rio indescoberto, Mais que a ideia de rio certo e abstracto… E p′ra onde é que ele vai, que se extravia Do meu ouvi lo? A que cavernas desce? Em que frios de Assombro é que arrefece? De que névoas soturnas se anuvia? Não sei… Eu perco o… E outra vez regressa A luz e a cor do mundo claro e actual, E na interior distância do meu Real Como se a alma acabasse, o rio cessa… ¹ Fernando Antonio Nogueira Pessoa * Lisboa, Portugal – 13 de Junho de 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30 de Novembro de 1935 d.C