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Brasil: a maior desindustrialização da história

“O Brasil está experimentando uma das maiores desindustrializações da história da economia” Ha-Joon Chang,especialista em economia do desenvolvimento da Universidade de Cambridge – DIVULGAÇÃO Considerado de direita na Coreia do Sul e de esquerda na Inglaterra, o economista heterodoxo Ha-Joon Chang critica o rumo das políticas brasileiras e defende protecionismo nos países emergentes Você se considera de esquerda? Mesmo acostumado a dar entrevistas, essa pergunta ainda faz gaguejar Ha-Joon Chang, professor de economia da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, que se tornou conhecido por expor os problemas do capitalismo. “Bem…eu possivelmente sou”, respondeu um pouco reticente o acadêmico, como quem confessasse um pecado. Para ele, no mundo polarizado de hoje, admitir-se de qualquer tendência ideológica pode significar uma sentença de morte para um potencial diálogo. Além disso, em diferentes países, a percepção de direita e esquerda é diferente. “Na Coreia do Sul e Japão, por exemplo, o tipo de política industrial que defendo é considerada de direita. Já na Inglaterra, onde vivo hoje em dia, é uma política de esquerda”, afirmou o autor sul-coreano do best-seller Chutando a Escada: A Estratégia do Desenvolvimento em Perspectiva Histórica (Editora Unesp), que veio ao Brasil participar do Fórum de Desenvolvimento, em Belo Horizonte. Ha-Joon Chang conversou com o El PAÍS sobre polarização política, história econômica e o futuro do sistema econômico mundial, que, para ele, não é nem capitalista, nem socialista. Pergunta. Como a polarização política afeta o desenvolvimento econômico? Resposta. A polarização é a pior coisa que pode acontecer para a economia. Tudo se torna simbólico. Você começa a se opor a determinada política simplesmente porque ela está associada a um partido de esquerda ou direita. Os debates estão se tornando cada vez mais difíceis. Ambos os lados, ao invés de debater, gritam uns com os outros. Eu gosto de me descrever como um pragmatista. Não importa de onde a vem determinada política para o desenvolvimento econômico, contanto que ela funcione. P. Desde o Consenso de Washington, no final da década de 1980, muitos países pobres abraçaram as recomendações internacionais para propagar o livre comércio como uma das formas de combater a miséria e se desenvolver. Como você avalia o resultado dessa medida? R: Hoje, quando olhamos para os países ricos, em sua maioria, eles praticam o livre comércio. Por isso, é comum pensarmos que foi com esta receita que eles se desenvolveram. Mas, na realidade, eles se tornaram ricos usando o protecionismo e as empresas estatais. Foi só quando eles enriqueceram é que adotaram o livre comércio para si e também como uma imposição a outros Estados. O nome do meu livro, Chutando a escada, faz referência a um livro de um economista alemão do século XIX, Friedrich List, que foi exilado político nos Estados Unidos em 1820. Ele critica a Inglaterra por querer impor aos EUA e à Alemanha o livre comércio. Afinal, quando você olha para a história inglesa, eles usaram todo o tipo de protecionismo para se tornar uma nação rica. A Inglaterra dizendo que países não podem usar o protecionismo é como alguém que após subir no topo de uma escada, chuta a escada para que outros não possam usá-la novamente. P: Como se deu o desenvolvimento dos países ricos na prática? R:Estes países cresceram com base no que Alexander Hamilton [1789-1795], primeiro secretário do Tesouro dos Estados Unidos [que estabeleceu os alicerces do capitalismo norte-americano], defendeu como o argumento da indústria nascente. Do mesmo jeito que mandamos nossas crianças para a escola ao invés do trabalho quando são pequenas, e as protegemos elas crescerem, os Governos de economias emergentes têm que proteger suas indústrias até que elas cresçam e possam competir com as indústrias de países ricos. Praticamente todos os países ricos, começando pela Inglaterra no século XVIII, Estados Unidos e Alemanha, no século XIX, Suécia no começo do século XX, além de Japão, Coreia do Sul e Taiwan…todos estes países se desenvolveram usando protecionismo, subsídios estatais, controle do investimento direto estrangeiro, e em alguns casos, até mesmo empresas estatais. P: Como esse passado dialoga com as medidas atuais de austeridade, que se tornaram fetiche em todo mundo como promessa de crescimento? R: A receita de austeridade usada na Grécia é a mesma tentada na América Latina, na África e em alguns países da Ásia nas décadas de 1980 e 1990, e que criou desastrosos resultados econômicos. Investir em política de austeridade é contraproducente. As pessoas que defendem esse tipo de política entendem que, quando você tem uma grande dívida pública, um jeito de reduzir essa dívida é cortar os gastos do Governo a fim de reduzir o déficit fiscal. Mas um jeito melhor de reduzir o déficit é fazer a economia crescer mais rápido. Depois da Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha tinha uma dívida mais de 200% de seu PIB [Produto Interno Bruto], mas sua economia estava crescendo rápido. E depois de algumas décadas, isso deixou de ser um problema. Hoje, a Inglaterra tem tentado uma política de austeridade, mais amena que a da Grécia, é verdade, mas também sem sucesso em reduzir o déficit público proporcionalmente a renda nacional. Isso porque o PIB está crescendo muito lentamente. Se você corta os gastos, seu endividamento pode ficar um pouco menor, mas a renda precisa crescer. P: O país corre o risco de ficar estagnado? R: Exatamente. O que é incrível é que essa política vem sendo usada várias vezes, como no Brasil nas décadas de 1980 e 1990, e nunca funcionou. Albert Einsteinfalava que a definição de loucura é fazer a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes. O problema é que muitos economistas que defendem essas medidas, quando sua teoria não funciona, culpam a realidade. Como se a teoria nunca estivesse errada. P: Você é bastante crítico da desindustrialização dos países emergentes. Por que é tão ruim ser dependente das commodities? R: As pessoas têm que entender como é séria a redução da indústria de transformação no Brasil. Nos anos 80 e 90, no ponto mais alto da industrialização, esse setor representou 35% da produção nacional. Hoje não é nem 12% e está caindo. O Brasil está experimentando uma das maiores desindustrializações da história, em um período muito curto. O país tem que se preocupar. E eu não estou dizendo nada novo. Muitos economistas latino-americanos já levantavam

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Como Serra enviava dinheiro para o exterior

Delator entrega Serra e mostra como ele mandava dinheiro da corrupção ao exterior. O ex-diretor da Odebrecht, Luiz Eduardo Soares, disse em depoimento que ajudou a dar destino a R$ 4 milhões de reais do hoje senador José Serra, dinheiro vivo que o ex-diretor da Dersa, Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, escondia em casa.  O depoimento de Soares, dado no inquérito 4428, que corre no Supremo Tribunal Federal, coloca em dúvida a versão que circulou durante a campanha de 2010, quando José Serra enfrentou e foi derrotado por Dilma Rousseff. Em debate na TV Bandeirantes, Dilma fez menção a Paulo Vieira, que segundo ela havia “fugido com R$ 4 milhões de sua [dele, Serra] campanha”. Questionado sobre o personagem, até então desconhecido do grande público, Serra disse não conhecê-lo. Num evento de campanha em Goiânia, afirmou: “Isso é pauta petista. Eu nunca ouvi falar”, para em seguida reforçar, sobre o suposto sumiço de dinheiro: “Nunca ouvi falar disso. Eles [da campanha de Dilma] falam isso para que vocês perguntem” Foi então que Paulo Preto, entrevistado pela Folha, disparou: “Ele me conhece muito bem. Não se larga um líder ferido na estrada, a troco de nada. Não cometam esse erro”. Serra, imediatamente, recuou. No dia seguinte ao evento de Goiânia, já em Aparecida do Norte, disse: “Evidente que eu sabia do trabalho do Paulo Souza, que é considerado uma pessoa muito competente”. Numa entrevista ao Jornal Nacional, defendeu a contratação da filha de Paulo Preto pelo governo paulista: “Essa menina foi contratada, não por mim, para trabalhar no cerimonial. Ela tinha currículo, sabe dois idiomas, sempre trabalhou corretamente. Só fui saber muito tempo depois que era filha de um diretor. E não é um cargo que tome decisões, como no caso dos filhos da Erenice [Guerra, ministra de Dilma]”. A jornalista Tatiana Arana Souza Cremonini, filha do diretor da Dersa, foi contratada como assistente técnica de gabinete. O decreto foi assinado pelo governador José Serra em 29 de janeiro de 2007. O salário era de R$ 4.595, com gratificações. Tatiana era casada com Fernando Cremonini, que em sociedade com a mãe de Paulo Preto, Maria Orminda Vieira de Souza, controlava a empresa Peso Positivo, sub-contratada pelo consórcio Andrade Gutierrez/Queiroz Galvão para obras do Rodoanel. Outra filha de Paulo Preto, a advogada Priscila Arana, também foi envolvida em controvérsia. “Paulo Preto contratou a própria filha para defender a Dersa, ao mesmo tempo que advogava para as construtoras. É um aberração, já que era o engenheiro que liberava o dinheiro para as empresas clientes da filha e do governo”, denunciou na época o deputado federal José Mentor (PT-SP). Para Serra, encerrar o assunto era do interesse de sua campanha. O ARROGANTE SUPER-HOMEM A importância de Paulo Preto nos bastidores era óbvia. Tanto que, num e-mail endereçado a Serra e ao então secretário de Transportes, Mauro Arce, o vice-governador Alberto Goldman reclamou da arrogância de Paulo Preto, no contexto de um desabamento que aconteceu no Rodoanel, em 2009: “Parece que ninguém consegue controlá-lo. Julga-se o Super-Homem”. Paulo Preto foi exonerado do cargo assim que Goldman assumiu o poder, quando Serra deixou o Palácio dos Bandeirantes para disputar o Planalto. Ele comandou as principais obras dos tucanos em São Paulo: o trecho Sul do Rodoanel, a ampliação da marginal do Tietê, a construção do Complexo Viário Jacu-Pessego e de trecho da rodovia Carvalho Pinto. Na campanha de 2010, foi a revista IstoÉ quem forneceu munição a Dilma Rousseff, noticiando o desvio de cerca R$ 4 milhões de dinheiro do PSDB, supostamente arrecadado “por fora” por Paulo Preto junto a empreiteiras. A informação ganhou ares de veracidade, pois vinha acompanhada de uma declaração do tesoureiro-adjunto e ex-secretário-geral do PSDB, Evandro Losacco, que confirmou que Paulo Preto tinha poder suficiente para arrancar dinheiro de doadores: “Todo mundo já sabia disso há muito tempo. Essa arrecadação foi puramente pessoal, mas só faz isso quem tem poder de interferir em alguma coisa. Poder infelizmente ele tinha.” Em abril do ano passado, a imprensa noticiou a delação de Luiz Eduardo Soares sem que a íntegra do vídeo que reproduzimos acima ganhasse toda uma edição do Jornal Nacional, como merecia. No dia 17 de abril, o Jornal Nacional dedicou 6 minutos e 18 segundos às acusações contra Serra, mas não reproduziu o trecho em que o delator menciona as malas de dinheiro na casa de Paulo Preto. É uma omissão surpreendente, já que malas de dinheiro vivo costumam chamar a atenção de repórteres e editores. Na mesma edição, o JN dedicou 5’39” a supostas tentativas da Odebrecht de evitar o avanço da Lava Jato no governo Dilma, durante as quais a presidenta teria sido informada sobre doações por fora para o PT. No trecho do vídeo que a Globo utilizou, Luiz Eduardo Soares conta que a contabilidade paralela da Odebrecht registrava os pagamentos a José Serra em nome de “Vizinho”, o codinome do ex-governador paulista, escolhido porque Serra foi vizinho de Pedro Novis, ex-presidente da empreiteira (cujo depoimento também foi utilizado pelo JN). Luiz Soares descreve detalhadamente os pagamentos feitos a Serra, através de contas de empresas controladas pelo lobista José Amaro Pinto Ramos, amigo de José Serra, fora do Brasil. Amaro Ramos atuou como lobista da Alstom, grande fornecedora de governos tucanos paulistas. Na Suiça, chegou a ser acusado de lavagem de dinheiro e corrupção de funcionários estrangeiros. Em 21 de fevereiro de 2011, autoridades suiças encaminharam um dossiê sobre o caso ao Ministério Público Federal de São Paulo, com pedido de oitiva de Amaro Ramos. Mas o dossiê ficou dormente dois anos e oito meses em alguma gaveta ou escaninho do MPF-SP, levando o caso a ser arquivado na Suiça — e a nunca ser apurado no Brasil. PROVAS DOCUMENTAIS E ENCONTRO COM PAULO PRETO Agora, Luiz Soares, o ex-diretor da Odebrecht, apresentou comprovantes das transferências eletrônicas que fez a Amaro Ramos, o amigo de Serra, além de uma planilha (ver abaixo) com os pagamentos relativos ao período de 2006 a 2009, totalizando o equivalente a mais de R$ 10 milhões, sempre em nome do “Vizinho”. Seriam propinas

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