4 ideias de Karl Marx que seguem vivas apesar do fracasso da URSS e do comunismo
Karl Marx, o ideólogo da Revolução Russa, cujo centenário é marcado nesta terça-feira, é relevante hoje em dia? Estátua de Marx em Moscou; pensador alemão teve papel de peso em história do país – Direito de imagem FOTO FRED ADLER/BBC Karl Marx, o ideólogo da Revolução Russa, cujo centenário é marcado nesta terça-feira, dia 7 de novembro, é relevante hoje em dia? Ainda que o filósofo alemão tenha vivido e trabalhado no século 19, uma época bem diferente da nossa, é indiscutível que dois de seus textos, O Manifesto Comunista (1848), redigido junto com o também filósofo alemão Friedrich Engels, e O Capital (1867), tiveram em um momento determinado da história uma grande influência política e econômica em muitos países e sobre milhões de pessoas. O surgimento da União Soviética (URSS) após a Revolução Russa foi um exemplo disso. Ninguém nega que o bloco socialista marcou boa parte do século 20, no entanto, também é um fato que ele desmoronou e que o comunismo não se materializou tal qual propuseram Marx e Engels, com o capitalismo vigorando em quase todo o planeta atualmente. Mas podemos dizer que todas as ideias de Marx estão obsoletas? Ou é possível elencar algumas que se tornaram realidade e seguem vigentes até hoje? A seguir, selecionamos quatro exemplos. 1. O ativismo político Marx descreve a luta de classes na sociedade capitalista e como o proletariado acabaria tomando o poder das elites dominantes em todo o mundo. O Capital, sua principal obra, é uma tentativa de indicar essas ideias por meio de fatos que podem ser verificados e de análises científicas. Foi uma mensagem poderosa em um mundo pleno de opressão e desigualdade. “A experiência pessoal de Marx, que viveu na pobreza, conferiu uma grande intensidade à sua análise, que recorreu à Filosofia contra o monstro capitalista que escravizava os seres humanos”, explica à BBC um dos seus mais renomados biógrafos, o britânico Francis Wheen. Marx questionou a ideia de que o capitalismo se autorregulava Direito de imagemGETTY Durante o século 20, as ideias de Marx inspirariam revoluções na Rússia, China e Cuba e em muitos outros países onde um grupo dominante foi derrubado e os trabalhadores se apoderaram da propriedade privada e dos meios de produção. O marxismo foi além e tornou-se uma maneira de interpretar o mundo: a simples ideia de que a história é marcada pela luta entre classes antagônicas também influenciou a literatura, a arte e a educação. “Hoje em dia, Marx segue relevante como filósofo político. Geração após geração, muitos buscam inspiração nele para suas próprias lutas”, diz Albrecht Ritschl, historiador alemão especializado em marxismo e chefe do Departamento de História Econômica da London School of Economics, no Reino Unido. “Continua-se a falar sobre os temas tratados por Marx. Por exemplo, a globalização. Marx foi um dos primeiros críticos da internacionalização dos mercados. Também se referiu à desigualdade ao alertar que ela estava aumentando no mundo. Poderia se dizer que Marx continua sento atraente e faz parte do discurso político atual.” Ainda que a queda da URSS, em dezembro de 1991, tenha sido um forte golpe contra a teoria marxista (por algum tempo, partidos de esquerda e universidades deram a ela menos importância), a crise financeira global de 2007/2008 voltou a torná-la relevante. Esse colapso foi um exemplo clássico das recorrentes crises do capitalismo que haviam sido previstas pelo pensador alemão. Desde então, as vendas de O Manifesto Comunista e O Capital crescem em todo o mundo. 2. A recorrência de crises econômicas Marx questionou a ideia de que o capitalismo se autorregulava. Para ele, não havia uma “mão invisível” que trazia ordem às forças do mercado, como havia postulado o economista e filósofo escocês Adam Smith, considerado o “pai” do capitalismo, em A Riqueza das Nações (1776). Marx argumentava que o sistema capitalista estava condenado a períodos de crises recorrentes inerentes a eles – hoje, os economistas falam em recessões. “Ainda que ele não tenha sido o único a falar disso, sua ideia original era que cada turbulência levaria a outra pior e assim sucessivamente até a destruição do capitalismo”, explica Ritschl. No século 20, as ideias de Marx inspiraram revoluções na Rússia, China e Cuba e em outros países Direito de imagemGETTY A grande depressão econômica de 1929 e as outras subsequentes alcançaram seu auge em 2007/2008, quando o mundo viveu um colapso financeiro inédito em termos de gravidade, impacto e persistência. “É certo que os aspectos mal resolvidos do capitalismo levam a novas crises, mas a ideia determinista de Marx, de que o sistema desmoronaria por causa de defeitos intrínsecos, foi desacreditada”, diz Ritschl. “Mas hoje estamos mais alertas do que nunca diante das turbulências e somos mais cuidados com elas, em parte graças a ele.” Ainda que, ao contrário do que previu Marx, as crises não tenham ocorrido nas indústrias pesadas, mas no setor financeiro, esclarece o especialista. 3. Ganhos desmedidos e monopólios Um aspecto importante da teoria de Marx é a chamada mais-valia: o valor criado pelo trabalhador com sua força laboral. O problema, segundo o pensador alemão, é que os donos dos meios de produção se apropriam da mais-valia e tentam maximizar seus ganhos às custas do proletariado. Assim, o capital tende a concentrar-se e centralizar-se em poucas mãos e, em contrapartida, isso leva ao desemprego e a uma depreciação dos salários dos trabalhadores. É possível ver isso hoje em dia. Marx dizia que o sistema capitalista estava condenado a enfrentar crises recorrentes até de autodestruir Direito de imagemGETTY Por exemplo, uma recente análise da revista britânica The Economist mostra que, enquanto nas últimas décadas o salário dos trabalhadores em países como Estados Unidos se estabilizou, o salário máximo de executivos aumentou significativamente: em vez de ganhar o equivalente a 40 vezes o salário médio dos trabalhadores, passaram a ganhar 110 vezes ou mais. “A crítica de Marx à acumulação é válida ainda hoje, porque continua a ser um dos pontos fracos do capitalismo”, diz Ritschl. “Atualmente, vemos claramente a acumulação desmedida de poder por parte das grandes empresas internacionais e também a formação de monopólios e