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José Luís Peixoto – versos na tarde – Poesia – 25/11/2017

A mulher mais bonita do mundo José Luís Marques Peixoto¹ estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram  flores novas na terra do jardim, quero dizer  que estás bonita.  entro na casa, entro no quarto, abro o armário,  abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio  de ouro.  entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como  se tocasse a pele do teu pescoço.  há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.  estás tão bonita hoje.  os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.  estás dentro de algo que está dentro de todas as  coisas, a minha voz nomeia-te para descrever  a beleza.  os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.  de encontro ao silêncio, dentro do mundo,  estás tão bonita é aquilo que quero dizer. ¹José Luís Marques Peixoto *Galveas, Portugal – 4 de setembro de 1974

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Fatos & Fotos – 25/11/2017

Ara San Juan – Argentina Aos “bolsominos”,“Loudspeaker.svg Schutzstaffel” e demais que clamam por intervenções militares. A Argentina saiu da ditadura, das torturas na Escola de Mecânica da Armada, mas a tortura não saiu da Argentina. As autoridades da Armada Argentina esconderam de forma cruel dos parentes dos tripulantes do Submarino San Juan, que o mesmo havia explodido no primeiro dia em que desapareceu no Atlântico Sul. Um tortura inominável manter os parentes na angústia do incerto, e esperança durante mais de uma semana. Isso é crime contra a dignidade humana. Uma crueldade que transforma Stalin e Hitler em querubins. Quando Dante escreveu que o inferno era formado por Nove Círculos, Dez Fosso e quatro Esferas, não imaginava que os militares argentinos colocariam os parentes dos tripulantes nas Portas do Inferno; “Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança.” A justiça do Bananil é uma tragédia. Ao ministro Barroso Barroso não importa o que diz a lei, importa a historia, as experiências e preferências pessoais de quem julga. Hahahahahahahaha! A melancia – verde por fora e vermelha por dentro – freqüentou o mesmo curso de “Dialética do Absurdo” da Dilma e do Gil. No Bananil nada está tão na m**da que não possa ficar pior. Dias Toffoli – ex-PT, atual Temer – será o novo Presidente do STF! É do Baralho! Aumenta assim, minha desmesurada e incontida admiração pelos otimistas. Abaixo meu Auto-Retrato. As universidades brasileiras resistem ao desmonte do liberalismo, do MiShell e ao nefasto “saber” do Banco Mundial. Leiam. A Universidade Federal de Minas Gerais está quase em mãos com a patente de uma molécula que cura vícios de crack e cocaína. Agora é pesquisa com humanos e depois produção em série. Que nos venha essa cura. Seria a reconstrução de tanta gente. Ah quem dera! Indecente o silêncio da mídia sobre o GloboDutoFIFA, e inexplicável a imobilidade do MPF. O cara passa a maior parte da vida sabendo que trabalha em uma fossa, recebendo salário dos Cavalos Marinhos, sabendo que está contribuindo para anestesiar e catequizar o povo, e de repente se mostra surpreso com a m**da? Me poupe “nunseiquem” Cardoso Global. Hahahaha! TSE no Twitter; “A Justiça Eleitoral está em todo o Brasil.” Hahahaha. Haaaaaaaahahahahahaha. Está morta. Morta!

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Henrique Meirelles & JBS. Um Esquecimento conveniente

A conveniente ausência de Henrique Meirelles na delação da JBS  Foto:AFP/GettyImages  Dos nomes cogitados até aqui para suceder Michel Temer, como nome de “consenso” – ou, se preferir, com a chancela do mercado –, um deles não apenas já disputou eleições, esteve no comando de parte importante da economia do país por quase uma década e, apesar de ostentar uma farda de tecnocrata, sempre teve ambições políticas. Ele já passou por três partidos (PSDB, PMDB e PSD) e, em sua única incursão eleitoral, mostrou força: foi eleito deputado federal por Goiás, com a maior votação no Estado. Seu nome é Henrique Meirelles. A solução Meirelles agrada a muitos atores relevantes numa possível queda de Michel Temer: o empresariado, o setor financeiro, o PMDB, o PSDB, aqueles que empunham a bandeira do “Brasil não pode parar”. Agrada, de certa forma, até mesmo ao ex-presidente Lula – depois de comandar o Banco Central durante os oito anos de governo do petista, ainda foi alvo de lobby do ex-presidente junto a Dilma Rousseff para que ele voltasse a ocupar um cargo de relevo na área econômica. Depois da eclosão da crise política na semana passada, Meirelles limitou-se a dizer a empresários e investidores algo que, ao menos, já serviu de alívio: mesmo num mandato-tampão ou num novo governo até 2018, ele está disposto e confortável para seguir no comando do Ministério da Fazenda, ditando os rumos da economia do país. Num cenário de eventual estabilização econômica e política, Meirelles fica em condições de disputar o comando do país no voto direto, seguindo, 24 anos depois, o caminho de outro de seus avalistas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Se alguma coisa nessa linha se concretizar, Meirelles terá alguém a agradecer: Joesley Batista e outros integrantes do grupo JBS. O nome do ministro da Fazenda passou incólume nas 41 delações narradas a procuradores pelo alto escalão da JBS. A única exceção é a conversa que Joesley gravou com o presidente Michel Temer, no porão do Palácio do Jaburu, na noite de 7 de março. Naquilo que é possível discernir do áudio de péssima qualidade, Joesley relata intimidade e acesso fácil a Henrique Meirelles. Temer não se mostra surpreso. Mais que isso, o empresário conta para o presidente da República sobre suas agruras na tentativa de emplacar nomes de interesse do grupo J&F em postos-chave de órgãos de controle da atividade econômica. Temer, em um de seus potenciais crimes praticados naqueles 30 minutos de conversa e agora investigados pela Procuradoria-Geral da República, diz para Joesley que, se Meirelles ficasse resistente aos pleitos, poderia usar seu nome e dizer ao ministro que ele, Temer, dera aval para que os pedidos da JBS e outras empresas do grupo J&F fossem considerados. Batista – É só isso que eu queria, ter esse alinhamento. Pra gente não ficar e pra ele perceber que nós temos Temer – (Inaudível) Batista – Uhum, uhum. Quando eu digo de ir mais firme no Henrique é isso, é falar “Henrique, você vai levar, vai fazer isso? Então tá bom”. Porque aí ele vem, então pronto, é esse alinhamento só que eu queria ter. Temer – Pode fazer isso. A origem dessa proximidade entre Joesley e Henrique Meirelles vem de 2012. Apesar de toda essa relação de mais de cinco anos com o ministro da Fazenda, que poderia fazer brilhar os olhos de procuradores interessados em limpar a administração pública, ela sequer é questionada pelos membros do Ministério Público que tomaram os depoimentos de Joesley. Em uma semana, Meirelles respondia apenas a Joesley e demais integrantes da família Batista. Na semana seguinte, seu chefe passou a ser Michel Temer. No início de 2012, o dono da JBS convenceu o homem que presidiu o Banco Central ao longo de todos os oito anos de governo Lula a assumir o cargo de presidente do conselho consultivo do grupo J&F – a cabeça de um império que se estende do processamento de carnes até materiais de limpeza. Em entrevista à revista Exame na época, Joesley Batista tratou de explicar que o posto de Meirelles em sua empresa estava longe de ser o de rainha da Inglaterra. “O Meirelles não vai ser apenas um consultor. Vai cobrar resultados dos executivos e traçar estratégias para a expansão do negócio.” Dito e feito. Meirelles comandou o crescimento da companhia ao longo dos quatro anos seguintes. Banqueiro de origem, em 2016 assumiu a presidência do Banco Original, também do grupo J&F, com a ousada promessa de transformar a instituição no primeiro banco brasileiro 100% digital. Não teve tempo de cumprir a promessa porque, em maio de 2016, cedeu às investidas de Michel Temer e aceitou retornar ao governo federal – desta vez para assumir o Ministério da Fazenda em meio à maior crise econômica da história do país. Em uma semana, Meirelles respondia apenas a Joesley e demais integrantes da família Batista. Na semana seguinte, seu chefe passou a ser Michel Temer. As menções a Meirelles não escapariam, evidentemente, de uma conversa entre os dois patrões do banqueiro. Uma leitura que se poderia fazer dessa conversa é que o atual ministro da Fazenda seria incorruptível. De fato, não existem evidências de que Meirelles tenha recebido propina. Mas isso também não foi investigado com profundidade pelo Ministério Público. Convém lembrar que, se a desconfiança sobre o governo do presidente Michel Temer provocou um curto-circuito financeiro na Bolsa de Valores, imagine o que poderia acontecer se Meirelles, o ponto de sustentação da parca confiança do empresariado na retomada econômica, também constasse como delatado. Ou Joesley mente ao dizer que tem falado com Meirelles, ou a atribulada agenda de compromissos oficiais de Henrique Meirelles não é transparente. Essa imagem de distanciamento pode ser reforçada pelo fato de que, oficialmente, não existe registro, desde que assumiu o Ministério da Fazenda, de nem um único encontro entre Henrique Meirelles e Joesley ou com quaisquer outros representantes de uma das maiores empresas do Brasil ou do grupo J&F. A rigor, a única vez que um representante da JBS pisou no Ministério da Fazenda durante o governo Temer

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Literatura: Somos o que lembramos ou o que esquecemos?

Margaret Atwood: “Gosto de alternar entre velha bruxa e anciã sábia” Margaret Atwood, em uma fotografia de 2015. Foto deIVARSSON JERKER Escritora canadense de 78 anos vive um renascer inesperado com a adaptação de suas histórias para séries. Somos o que lembramos ou o que esquecemos? Um médico pergunta isso à prisioneira do livro Alias Grace. Depois do triunfo nos Emmy de O Conto da Aia, transformado em série de televisão, sua autora, Margaret Atwood (Ottawa, 1939), viu também essa outra obra, baseada em um caso real – o testemunho de uma jovem acusada de assassinato no século XIX –, ser adaptada para a telinha. Talvez por sugerir que a verdade pode estar mais no cinza do que no preto e branco, o romance tem uma mensagem atual. Depois de ser laureada com os prêmios Booker (2000) e Príncipe de Astúrias (2008), Atwood recebeu em Frankfurt o Prêmio da Paz do Sindicato de Livreiros alemães. Ali deu esta entrevista. Aos 78 anos, viaja sozinha. E explica com humor sua maior preocupação como ser humano: a destruição do planeta por causa de nossos piores costumes. Pergunta. Sua fama passou dos livros para as telas. Um leitor é o mesmo que um espectador? Resposta. De jeito nenhum. Um romance é o mais próximo que podemos chegar de estar dentro da cabeça de outra pessoa. O cinema e a televisão podem envolver, mas o que está vendo é uma atuação. Com o romance, você está na ação. P. Você se colocou o desafio de testar todos os gêneros? R. Ninguém me disse que não podia fazer isso. Na minha juventude não havia cursos para escritores. Acho que se você vai a um, eles aconselham que se especialize, mas não foi meu caso. Simplesmente escrevi o que quis. Criei ficção poesia, ensaio, teatro e desenhei quadrinhos quando era adolescente. Continuo fazendo isso. O Canadá, nos anos 1950, era um país com poucos escritores. Alguns dos mais famosos nem eram publicados lá. Desfrutei provando o que tinha desfrutado como leitora. P. Limitar-se a um gênero a teria fortalecido como autora? R. Na época, não. Era muito difícil publicar um romance. A maioria entre nós publicava poesia. Atwood se cansou de dizer que não escreve distopias – mundos imaginários indesejáveis –, mas ficção especulativa – relatos imaginários baseados em fatos reais, não em marcianos, e que, portanto, poderiam acontecer.  P. De onde tira essas ideias? R. Do lado mais escuro da realidade. “Um romance é o mais próximo que se pode chegar de estar dentro da cabeça de outra pessoa. No cinema ou na televisão você vê atuação; no livro você está na ação” P. Tem equipe de documentalistas? R. Só quando escrevi Alias Grace,baseada em um caso real. Faço o resto sozinha, inclusive a parte científica. Cresci cercada de cientistas. Carl Atwood, pai da escritora, era entomologista. Uma pesquisa sobre insetos vitais para a paisagem canadense ao norte do Quebec o salvou de participar da Segunda Guerra Mundial e fez Margaret e seu irmão mais velho, Harold — a irmã Ruth é muito mais jovem —, passarem a infância na floresta, “minha cidade natal”. “Só fui ao colégio aos 13 anos. Minha mãe — Margaret Killam, que era nutricionista — conseguia os livros e nos ensinava”. Essa infância de liberdade e isolamento explica porque a paisagem é, com frequência, um personagem a mais em seus livros. E também porque a autora fala dela como de sua casa. P. Em que medida a informação fornecida pelos documentalistas influenciou Alias Grace? R. Lemos tudo o que foi publicado sobre Grace Marks: livros, atas e jornais. E a soma dessa informação era contraditória, o que, naturalmente, a tornou ainda mais interessante. Quando você se baseia em fatos reais não pode alterar nem uma descrição. Escrevi uma cena em que um dos protagonistas testemunhava enforcamento do outro. Ao comprovar que isso não pode ter acontecido, tive de reescrever. P. A Netflix transformou esse romance em série de televisão. Onde reside sua vigência? R. Tem o tempo como marco, não como conteúdo. A série também é boa. O espectador não sabe se a atriz está mentindo ou não. P. Fale sobre a imigração no século XIX. Sua família chegou ao Canadá vinda de onde? R. A resposta curta é que todos foram expulsos de seus respectivos países. Alguns puritanos chegaram da Inglaterra. Escolheram a religião errada. Assim como meus antepassados franceses, huguenotes expulsos. Também havia famílias desterradas da Escócia e galeses, que não foram expulsos, mas vieram por necessidade econômica. Depois de se fixarem na Nova Inglaterra, na revolução norte-americana também escolheram o lado errado. Não tenho um histórico muito bom. Talvez por isso eu seja tão inconformista. P. O Conto da Aia fala do perigo da realidade sob a modernidade. O que devemos fazer para que o progresso seja verdadeiramente evolutivo? R. O progresso só pode significar uma coisa: que as pessoas sejam tratadas de maneira justa e equitativa. Parece que não estamos avançando nesse aspecto, apesar de termos avançado durante décadas, senão, você e eu não estaríamos aqui sentadas. Em 1845 você não teria trabalho e eu não seria escritora. P. Prevê um retrocesso? R. Geralmente, quando um segmento da sociedade consegue certos direitos, outro quer privá-lo deles. Está acontecendo agora nos Estados Unidos, no âmbito dos direitos das pessoas que não são brancas. Não falo só dos negros, também os mexicanos e todos os que não são percebidos como parte da cultura dominante perdem direitos. Se não puderem tirar deles o direito de votar —como já tentaram—, vão privá-los de outra maneira. Determinarão que quem tiver uma condenação penal não pode votar e prenderão as pessoas para evitar que votem. Isso se chama Estado policial. Quando os policiais se transformam em juízes e executores, vive-se em um Estado policial. P. Isso está acontecendo hoje nos Estados Unidos? R. Está acontecendo para algumas pessoas que vivem nos Estados Unidos. Não para todos os cidadãos norte-americanos. P. Como solucionar isso? R. Dizendo: vivemos em um Estado policial. É aí que queremos ficar? Em quase qualquer país do mundo há um grupo que não recebe tratamento igual aos demais. Os defensores dessa situação argumentam que, se as pessoas não se esforçam, não obtêm benefícios. E isso pode ter sido verdade

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