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T.S. Eliot – Poesia – Versos na tarde – 29/05/2017

A Terra Desolada, 1922 T.S Eliot¹ III Depressa por favor é tarde Agora que Alberto está para voltar, vê se te cuida um pouco, Ele vai querer saber o que fez você com o dinheiro que ele deu Para ajeitar esses seus dentes. Foi isso o que ele fez, eu estava lá. Arranca logo todos eles, Lil, e põe na boca uma dentadura decente. Foi isso o que ele disse, juro, já não agüento ver você assim. Muito menos eu, disse, e pensa no pobre Alberto Ele serviu o exército por quatro anos, quer agora se divertir E se você não o fizer, outras o farão, disse. Ah, é assim. Ou qualquer coisa de parecido, respondi. Então saberei a quem agradecer, disse ela, fitando-me nos olhos. Se não lhe agrada, faça o que lhe der na telha. Outras podem escolher e passar logo a mão, se você não pode, Mas se Alberto sumir, não foi por falta de aviso. Você devia se envergonhar, disse, de parecer tão passada. (E ela só tem trinta e um anos.) Não sei o que fazer, disse ela, com um ar desapontado, Foram essas pílulas que tomei para abortar, disse. (Ela já teve cinco filhos, e ao parir o mais novo, Jorge, quase morreu.) O farmacêutico disse que tudo correria bem, mas nunca mais fui a mesma. Você é uma perfeita idiota, disse eu. Bem, se Alberto não deixar você em paz, aí é que está. Por que você se casou se não queria filhos? DEPRESSA POR FAVOR É TARDE Bem, naquele domingo em que Alberto voltou para casa, eles serviram um pernil assado E me convidaram para jantar, a fim de que eu o saboreasse ainda quente. DEPRESSA POR FAVOR É TARDE DEPRESSA POR FAVOR É TARDE Boa noite Bill. Boa noite Lou. Boa noite May. Boa noite. Tchau. ‘Noite. ‘Noite. Boa-noite, senhoras, boa-noite, gentis senhoras, boa-noite, boa-noite. Tradução: Ivan Junqueira ¹Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Doria afundou na droga: A cracolândia acabou?

Com ações apressadas e improvisadas, cracolândia torna-se a primeira pedra no sapato de Doria Policiais fizeram uma megaoperação na região da Cracolândia, em São Paulo, no domingo passado. PAULO WHITAKER REUTERS Decisões levadas a cabo ao longo desta semana expuseram série de contradições da Administração do prefeito e de seu plano para tratar os dependentes químico. “A cracolândia acabou”. Esta é a frase constantemente usada por João Doria, prefeito de São Paulo (PSDB), ao se referir ou responder a perguntas sobre esta região do centro da capital paulista. No último domingo, uma megaoperação policial em articulação com o Governo do Estado expulsou os usuários de crack e traficantes que se aglomeravam no “fluxo”, o mercado aberto de drogas que ocupava a alameda Dino Bueno e seu entorno.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Estas vias estão de fato livres agora, como diz o prefeito, mas as ações levadas a cabo nesta área ao longo da semana, muitas delas apressadas e improvisadas, expuseram uma série de contradições da Administração Doria e de seu plano para tratar os dependentes químicos – batizado de Redenção. A questão da cracolândia voltou para os holofotes com a mesma força que a polícia limpou o local, tornando-se a primeira pedra no sapato de Doria em um momento no qual ele aparece como o principal nome do PSDB para disputar a presidência da República — uma possibilidade que ele já não nega publicamente. A semana terminou, entretanto, com uma boa notícia para o prefeito. A Justiça autorizou o Executivo municipal a buscar e apreender, durante 30 dias, “pessoas em estado de drogadição” que estejam vagando na região da cracolândia para que sejam examinados pelas equipes multidisciplinares e, após aprovação judicial, internados compulsoriamente. O pedido da prefeitura foi feito às pressas pela Procuradoria Municipal do Município na última terça-feira, uma vez que a operação policial de domingo fez com que os dependentes químicos se espalhassem por outros 23 pontos da cidade, segundo a Guarda Civil Metropolitana (GCM). A maioria, cerca de 600 pessoas, está aglomerada na praça Princesa Isabel, a 400 metros da antiga cracolândia. A dispersão dificultou um dos eixos do projeto Redenção, que é o cadastramento prévio de cada usuário através “de uma abordagem contínua, de caráter não impositivo”. O próprio secretário de Saúde, Wilson Pollara, admitiu publicamente na última quinta-feira que o programa anticrack ainda estava em fase de implementação e que não estava prevista uma grande operação policial. Aliás, o documento do projeto diz que a ação de agentes da GCM, da PM e da polícia civil agiriam na retaguarda, “para dar apoio aos servidores” que atuariam nos lugares de uso de drogas. Pollara também admitiu que ele próprio não havia sido avisado sobre as ações policias na cracolândia até o dia de sua realização. A prefeitura garante, contudo, que a dispersão vai ajudar na abordagem, uma vez que não haverá presença do tráfico. “Isso é uma balela completa. Porque o tráfico está lá, as pessoas estão usando, a droga está chegando. A droga não chega só na cracolândia, chega a todos os lugares”, explica o promotor da Saúde Arthur Pinto Filho. O Ministério Público de São Paulo, que participou da elaboração do Redenção, vem sendo um dos principais críticos das últimas ações de Dória, ao dizer que a prefeitura abandonou seu projeto Redenção nesta última semana. “Nós avisamos o prefeito e os secretários que a dispersão era o pior cenário que poderia acontecer. Quando eles espalham as pessoas pela cidade, acontece o óbvio: essas pessoas que tinham, umas mais e outras menos, contato com os agentes de saúde e da assistência social perdem esse vínculo”. Além disso, argumenta o promotor, esses usuários estão “zanzando, buscando seu refúgio”. “A GCM diz que hoje estão espalhados por 23 pontos, mas em três horas podem ser 15 pontos e em cinco horas podem ser 30”. Ele também acusou a prefeitura de querer, com sua petição judicial, levar a cabo uma “caçada humana” por São Paulo sem precedentes no resto do mundo. “O programa não iria trabalhar só com a abstinência. Iria ser com abstinência e a redução de danos. Agentes da saúde e assistentes sociais iriam, 24 horas por dia, atuar na região para fazer a aproximação, levantar cada situação e patologia. E a partir desses dados fazer um projeto terapêutico individualizado, que é o que funciona”. A gestão Doria assegura, por sua vez, que a busca e apreensão de usuários será feita apenas em último caso e respeitando os direitos humanos. Neste sábado, o secretário da Saúde Pollara afirmou em entrevista à Globo News que os critérios de abordagem serão “psiquiátricos”, e que “aqueles que estiverem conscientes” do que estão fazendo serão “respeitados”. Ele previu ainda que 100 pessoas deverão ser levadas compulsoriamente pelos agentes públicos. O Executivo afirma também ter aumentado consideravelmente nos últimos dias o número de assistentes sociais que estão nas ruas, algo que era visível na praça Princesa Isabel na última sexta-feira. “A prefeitura e o Estado estão de fato tomando conta da parte social, tentando fazer a reinserção. Tem uma assistência social ativa nesses núcleos que estão se formando. Eles não fizeram só uma operação policial, está tendo sim uma segunda parte”, afirma Clarice Sandi, pesquisadora e professora da UNIFESP que trabalha com assistentes sociais na cracolândia. Ela não acredita que a dispersão em si atrapalhe no vínculo, mas sim a iniciativa da prefeitura em levar à força os usuários para avaliação médica. “Foi um tiro no pé. Agora alguns usuários já não querem entrar nas vans e ir para albergues porque acham que vão ser internados compulsoriamente. Uma medida que considera internações em massa é de fato higienista”, diz. Entretanto, Sandi é uma das especialistas que defendem a realização da operação policial do último domingo sob o argumento de que “algo tinha de ser feito” para estancar uma violência que, para ela, “aumentou muito nos últimos tempos”. “Não que antes fosse ok. Mas funcionários começaram a ser roubados e ameaçados. Já vi mulheres transsexuais apanhando muito. E tem muita criança lá”,

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