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Fernando Pessoa – Versos na tarde – 16/03/2017

Poema em linha reta Fernando Pessoa¹ Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida… Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que tenho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. ¹Fernando Antonio Nogueira Pessoa * Lisboa, Portugal – 13,Junho 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30,Novembro 1935 d.C

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Edward Hopper – Arte

Pintura de Edward Hopper First Row Orchestra,1951 Ninguém retratou a solidão da sociedade norte-americana como Hopper. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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“Ainda nos restam as pequenas utopias que nos ajudam a viver”

Quem diz é o filósofo espanhol Francisco Jarauta. Crianças iraquianas no campo de refugiados de al-Hol, na Síria. DELIL SOULEIMAN AFP No mundo de hoje, nada é como era antes. É um laboratório onde todos os modelos políticos, éticos e morais precisam ser repensados.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Poucos filósofos contemporâneos conhecem tanto quanto Francisco Jarauta, catedrático de filosofia da Universidade de Múrcia, antropólogo e especialista em História da Arte, os desafios e as complexidades de uma sociedade globalizada em que, diz ele, “todas as certezas do passado voaram pelos ares ao mesmo tempo”. Ele considera que, se as grandes utopias morreram, ainda nos restam “as pequenas utopias, as que nos ajudam a viver o cotidiano”, como a de poder morar em um bairro onde todos se conheçam e sejam solidários uns com os outros, ou a da busca pelo tempo livre e pelo silêncio criativo. A pequena utopia da amizade, ou aquela capaz de transformar nosso trabalho e nossos sonhos em fruição, em vez de pesadelos e escravidão. Para o filósofo, a emergência do Outro está se transformando em um laboratório onde “nossos modelos políticos, éticos e morais precisam ser repensados”. Como diretor do Conselho Científico do Instituto Europeu de Design (IED) da Espanha, e membro do Conselho Internacional do Grupo IED, hoje presente também no Brasil, com unidades no Rio e em São Paulo, Jarauta, que ensina em várias instituições universitárias do mundo, se nutre da experiência desses milhares de estudantes que formam um caleidoscópio cosmopolita das tendências que estão forjando a nova civilização. A esses jovens, que estão se graduando em design industrial e gráfico, e como novos estilistas de moda, Jarauta surpreende e estimula com suas metáforas e paradoxos. Como quando lhes diz que “somos nossas próprias perguntas”, para acrescentar em seguida que “a intensidade dos fatos condena essas perguntas ao silêncio”. Escrutinador do caminho por onde vai a nova civilização, Jarauta é também um intelectual que gosta de tomar o pulso da humanidade. Depois de uma viagem recente a um campo de refugiados na Grécia, declarou ao jornal O Globo que o mais urgente hoje é “reconstruir o coração da humanidade”. Para isso, afirma, “é preciso caminhar pela viagem da vida”, onde existe a dor, a crueldade, a cegueira ante as tragédias como as dos refugiados e imigrantes, “esses novos párias da história”. Em sua conversa, que tínhamos interrompido durante muitos anos, desde nossos encontros no IED de Madri, ressalta que “estamos na era do ‘pós’: a pós-verdade, a pós-democracia, a pós-política, a pós-modernidade a pós-identidade. Nada é mais como ontem”. Diz “que temos de nos debruçar na janela do mundo para ver o que se está passando e o que está chegando”. Vivemos não só no mundo da velocidade, mas naquele em que “as geografias se deslocaram e os espaços e as distâncias desapareceram”. Um jovem estudante de Cingapura se encontra em poucas horas com um do Rio e é como se fossem do mesmo bairro. A globalização os transforma em contemporâneos. Isso leva a um “inevitável processo de miscigenação cultural”, à nova “sociedade da rede”, onde todos nos comunicamos, misturamos, contagiamos e recriamos. Aí reside o verdadeiro futuro. O que chamamos de crise na realidade significa que todas as velhas definições do saber e da cultura estão morrendo, assim como as velhas profissões. A neociência já está sendo criada fora das universidades clássicas, muitas delas ainda de “formato medieval”. Nada mais está petrificado nem prefigurado. Saltam pelos ares as definições do passado. O que é a filosofia hoje, a política, a arte? O que é o design em uma sociedade pós-industrial? “Já não é a pura fabricação de objetos para o consumo e o mercado”, diz o filósofo. É muito mais: “O design se transformou, por exemplo, em um dos instrumentos básicos na hora de definir as novas formas da cultura. Pertence, por direito próprio, ao mundo do projeto, capaz de transformar os gostos, as formas de percepção das coisas e as novas necessidades das pessoas”. Para tentar apreender o mundo em ebulição, torna-se cada vez mais atual, diz Jarauta, o estudo das tendências. É preciso saber, como os antigos radioestesistas, detectar os mananciais que correm sob nossos pés. Temos que ser “mergulhadores do novo”. Os jovens, mais que ninguém, necessitam hoje, segundo o filósofo, nutrir-se da certeza de que o mundo novo que os espera não só não lhes será hostil, mas lhes “permitirá participar para dar-lhe nome e sentido”.

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Segurança: Celulares e aviões

Autoridades advertem para risco de eletrônicos em voos após explosão de fone de passageira australian. Incidente deixou passageira com manchas negras no rosto e bolhas nas mãos Autoridades australianas alertam para o risco de usar aparelhos com bateria em voos, depois que o fone de ouvido de uma passageira pegou fogo e a deixou ferida.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] O avião voava de Pequim, na China, a Melbourne, na Austrália. A passageira, que não foi identificada, relatou à Agência de Segurança de Transporte da Austrália (ATSB na sigla inglesa) que estava ouvindo música quando ocorreu a explosão. “Levei as mãos ao rosto, o que fez com que o fone de ouvido ficasse em volta do meu pescoço. Mas continuei a me sentir queimando, então arranquei o fone e o joguei no chão. Ele estava soltando faíscas e pegando fogo”, disse ela. O incidente a deixou com manchas negras no rosto e bolhas nas mãos. Membros da tripulação correram para ajudá-la. Para apagar o fogo, jogaram um balde de água sobre os fones. A bateria e o revestimento de plástico derreteram e grudaram no chão da aeronave. “Os passageiros passaram o restante do voo sentido cheiro de plástico derretido e cabelo queimado,” informou a agência australiana. O relatório não menciona a marca do fone de ouvido, mas aponta que uma das possíveis causas da explosão teria sido uma falha nas baterias de íon-lítio. A ATSB alertou que “à medida que cresce a gama de produtos que usam baterias, aumenta o potencial de problemas em voos” e divulgou outros casos com problemas semelhantes ocorridos em voos. No ano passado, a decolagem de um avião em Sydney foi interrompida quando foi detectado que estava saindo fumaça do compartimento de bagagem de mão. Descobriu-se que uma bateria de lítio pegara fogo dentro de uma peça de bagagem. Em outro voo, nos Estados Unidos, um aparelho eletrônico começou a soltar fumaça depois de ser esmagado sob um assento. Uma falha das baterias do modelo Galaxy Note 7, da Samsung, fez com que vários aparelhos superaquecessem, pegassem fogo e derretessem – como incidentes registrados no ano passado também ocorreram dentro de aviões, esse modelo específico foi banido de voos internacionais. A Samsung fez um recall do Galaxy Note e a produção desse modelo foi interrompida.

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