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Diabetes e dietas

Uma nova dieta com pequenos ciclos de jejum consegue fazer o pâncreas afetado pelo diabetes recuperar suas funções, afirmam pesquisadores americanos. Direito de imagemSPLO diabetes surge com a destruição das células beta do pâncreas, órgão responsável pela produção de insulina e pelo controle do açúcar no sangue Experimentos com cobaias mostraram que quando o órgão – que ajuda a controlar a taxa de açúcar no organismo – se regenerou, os sintomas da doença desapareceram.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] O estudo, feito por um grupo da Universidade do Sul da Califórnia, foi publicado na revista científica Cell. Segundo os cientistas, a dieta consegue “reiniciar” o corpo e a descoberta é “potencialmente animadora” porque pode converter-se num novo tratamento do diabetes. Eles afirmam, no entanto, que as pessoas não devem experimentar a dieta sem acompanhamento médico. No experimento, ratos foram submetidos a um “regime que simula o jejum”, explicam os pesquisadores. Durante cinco dias, as cobaias receberam alimentos com poucas calorias, poucas proteínas, pobres em carboidratos e ricos em gordura insaturada como azeite de oliva, óleo de milho e de canola, castanha do Pará, amêndoa, salmão, sementes de linhaça e abacate, entre outros. É um regime parecido com uma dieta vegetariana à base de nozes e sopas – mas com 800 a 1.100 calorias diárias. Depois, as cobaias passaram 25 dias comendo de tudo, sem restrições. Estudos anteriores já haviam indicado que esta dieta pode também retardar o ritmo do envelhecimento. Direito de imagemTHINKSTOCKA dieta testada pelos pesquisadores americanos não deve ser seguida sem a supervisão de um médico Reprogramação Os ratos submetidos ao experimentos apresentaram regeneração em um tipo especial de célula no pâncreas: as células beta. São elas que detectam o açúcar no sangue e, se este nível estiver muito alto, liberam insulina, o hormônio que pode controlá-lo. “Nossa conclusão é de que ao levarmos os ratos a um estado extremo e trazê-los de volta – ou seja, ao deixá-los famintos e depois alimentá-los novamente – as células no pâncreas são levadas a uma reprogramação, que recupera parte do órgão que não estava mais funcionando”, disse Valter Longo, um dos participantes do estudo. O testes com ratos tiveram bons resultados tanto para diabetes do tipo 1 como para o tipo 2. O tipo 1, ou diabetes mellitus, é caracaterizado pela destruição parcial ou total das células beta do pâncreas, que resulta na incapacidade progressiva de o organismo produzir insulina. Este tipo aparece geralmente na infância ou adolescência, mas pode ser diagnosticado em adultos também. É sempre tratado com insulina, medicamentos, dieta e atividades físicas para ajudar a controlar o nível de glicose no sangue. Já o tipo 2 se manifesta mais frequentemente em adultos, e está associado principalmente a um estilo de vida que faz com que o organismo não consiga usar adequadamente a insulina que produz ou deixe de produzir insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia. Cerca de 90% das pessoas com diabetes têm o tipo 2, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes. Dependendo da gravidade, a doença pode ser controlada com atividade física e planejamento alimentar. Em outros casos, exige o uso de insulina e outros medicamentos. “Em termos médicos, estas descobertas são potencialmente muito importantes porque mostramos – em modelos com ratos – que se pode usar a dieta para reverter os sintomas da diabete”, diz Longo. “Em termos científicos, as descobertas talvez sejam ainda mais importantes porque mostramos a dieta pode servir para reprogramar as células sem que se tenha de fazer nenhuma alteração genética nelas.” O repórter Peter Bowes testou a dieta com ciclos de jejum Como é a dieta? O repórter Peter Bowes, da BBC, participou de uma experiência com o Dr. Valter Longo. “Durante cada ciclo de cinco dias de jejum eu comia um quarto da quantidade que as pessoas consomem em média e perdi entre dois e quatro quilos”, explica. “Antes de fazer o ciclo seguinte de jejum, os 25 dias em que comi normalmente devolveram o meu peso original. Mas nem todas as consequências da dieta sumiram tão rapidamente.” A pressão sanguínea de Bowes baixou, assim como o hormônio IGF-1, que está relacionado a alguns tipos de câncer. “As refeições muito pequenas que eu fiz durante os cinco dias de jejum não tinham nada de gourmet, mas eu ficava feliz de ter algo para comer”, relembra. Para saber se a dieta pode ajudar também o ser humano, os cientistas a aplicaram em 71 pessoas durante três meses e constataram melhora do nível de açúcar no sangue delas. No entanto, Valter Longo diz que as pessoas não devem se apressar em adotar o novo regime. “Não é uma boa ideia tentar isso em casa. A dieta é muito mais sofisticada do que se imagina.” Ele adverte que as pessoas podem “ter problemas” de saúde se fizerem o regime sem supervisão médica. Segundo Emily Burns, da organização britânica Diabetes UK, a notícia é “potencialmente muito boa, mas precisamos ver se os resultados são verdadeiros para os seres humanos antes de sabermos o que significam para os diabéticos”. “Pacientes com diabetes dos tipos 1 e 2 vão se beneficiariam imensamente de tratamentos que possam reparar ou regenerar as células produtoras de insulina no pâncreas”, afirma. BBC

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Impunidades

Ditadura da Impunidade: Uma Armadilha Jurídica Por Affonso Ghizzo Neto* Uma característica determinante para o estabelecimento da desordem institucional, para perda de referências e para desestabilização social brasileiras, é a aceitação da impunidade dos delitos, dos atos de corrupção, assim como, em sentido oposto, o exercício da violência e da força estatal praticadas desmedidamente em nome de uma suposta punição.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Como se vê, a impunidade no Brasil se apresenta como uma moeda de duas faces bem distintas. A primeira delas está relacionada com a dificuldade de punição daqueles que detêm o poder econômico, de autoridade e político, os quais, valendo-se das relações íntimas, dos interesses inconfessáveis e sempre resguardados pelas “melhores razões de Estado”, estão autorizados a transgredir a lei, ignorar as regras e praticar livremente os mais variados delitos. A segunda face, contrariamente, tem sua justificativa na aplicação implacável da lei, autorizando que os agentes do Estado, a qualquer custo – ainda que através da ilegalidade, da violência e transgressão dos direitos fundamentais básicos –, encontrem os culpados pelas práticas de crimes diversos, graves ou não violentos, geralmente praticados por aqueles acusados com menor poder aquisitivo e sem relações sociais importantes. Ambas as faces desta moeda encontram na aplicação parcial do ordenamento jurídico, na omissão e na cumplicidade dos poderes constituídos, o denominador comum que estabelece esta cultura da ilegalidade como forma de transgressão dos princípios básicos da democracia, implantando o que podemos denominar como a ditadura da impunidade. Esta ditadura deve ser compreendida a partir das características do Estado patrimonial brasileiro. Com a aplicação de critérios subjetivos para consecução das metas de Estado, sempre pautada por relações íntimas de amizade, parentesco e retribuições pessoais, a ordem jurídica – instável e flexível – é marcada pelo casuísmo e pela arbitrariedade de muitos tribunais superiores, tendo no Supremo Tribunal Federal a evidência máxima deste proceder desvirtuado. Nesse sentido, a ditadura da impunidade no Brasil se transforma num dos principais fatores disseminadores da banalização da violência que notadamente vem tomando conta da sociedade nacional em todos os níveis e rincões, não só no meio político, como nas prisões superlotadas, nas escolas abandonadas, nos hospitais sucateados e na guerra civil que já começa a tomar conta de nossas ruas e cidades. Ela funciona como um aditivo ao “salve-se quem poder”, onde a lei dos mais fortes e dos mais espertos pode garantir a própria sobrevivência. Outro aspecto que também não pode passar despercebido é que esta ditadura da impunidade é irmã gêmea da corrupção, fenômeno este que tem sua origem na degeneração social de hábitos e de costumes avessos ao cumprimento de regras e normas coletivas. A corrupção associada à ditadura da impunidade acaba por determinar “um vale tudo”, possibilitando a supremacia do interesse privado sobre o público ou, dito de ou forma, o apoderamento privado do que deveria ser de todos. Conforme ensina Fernando Filgueiras[1]: (…) a corrupção representa momentos de mau funcionamento das organizações do sistema político, que criam sistemas de incentivo para que esse tipo de comportamento se torne comum na política. Estes momentos de mau funcionamento do sistema institucional da política estão associados ao fato de as organizações do sistema serem pouco adaptáveis às mudanças, simples, sujeitas à captura por parte da burocracia do Estado e pouco coesas. Como se vê, na ditadura da impunidade a corrupção institucionalizada nos governos, a prostituição político-partidária, o tráfico de influência, o enriquecimento enlouquecido daqueles que saqueiam incansavelmente os cofres públicos, devidamente organizados e articulados numa bem-sucedida rede de atividades mafiosas, estabelece com sucesso a desconfiança social e o total descrédito de nossas instituições. Com o empenho no desenvolvimento da grande indústria pública da corrupção, e com o apetite voraz dos proprietários da “coisa pública”, o aumento da desfaçatez, traduzida na sem-vergonhice, no cinismo, no desaforo e no descaramento de muitas lideranças políticas nacionais, não causa mais vergonha ou constrangimento. Lembrando a primeira face da moeda, só em grande escala é permitido matar, corromper e enriquecer às custas da desgraça alheia. Como diria Galeano[2], o crime recompensa quando estabelecido em grande escala. A impunidade premia os criminosos, determina novas práticas criminosas e serve de referência e estímulo ao crime organizado. Contagia e contamina por meio dos inúmeros exemplos que se apresentam impunes. E, o que é pior, os bandidos – muitas vezes no exercício de cargos e funções de destaque no comando da República – se apresentam como vítimas inocentes de um sistema acusatório perverso, como heróis nacionais injustiçados ou como salvadores da pátria que foram perseguidos por inquisidores modernos. Conforme argumenta José Rodrigo Rodriguez[3]: Ser preso e ir para a cadeia nesse caso, mesmo que seja lícito, jurídico, não seria justo. Todo preso ou presa em condições como essa acabaria ocupando, segundo esse ponto de vista, a posição de um verdadeiro herói. Alguém que foi capaz de jogar de acordo com as regras de um sistema corrupto, ou seja, fazer política como todo mundo faz, não para enriquecer individualmente, e sim para promover mudanças sociais importantes para nosso país. Os fins justificariam os meios, portanto, e a legitimidade da punição estatal e do estado de direito como um todo ficaria, assim, em posição de xeque, na iminência de sacrificar um herói. Entretanto, ao verificar a segunda face da moeda, o discurso contra a impunidade pode estabelecer o arbítrio de uma Justiça composta por justiceiros, deslegitimando ainda mais, ainda que por fatores aparentemente opostos, a punição jurídica legal dentro das regras do Estado de Direito. Além dos miseráveis que não possuem acesso à defesa com equilíbrio de forças, alguns “bodes expiatórios” podem ser escolhidos para saciar a sede por (in)justiça, em verdade, um desejo de vingança presente no inconsciente coletivo. Este desvirtuamento da legalidade pode criar a aceitação de ações arbitrárias e desproporcionais, pouco ou nada eficientes no combate à corrupção e na luta pelo fim da ditadura da impunidade. Rodriguez[4] arremata: De outro lado, a criação de uma situação de pânico moral pode motivar a adoção de medidas temerárias, draconianas e sem eficácia comprovada no

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