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Estados Unidos, um país à beira da desintegração

Os EUA parecem não encontrar mais paz. Mais uma vez, policiais foram mortos, e cresce a preocupação com novos tumultos e protestos. A ordem habitual do país corre perigo de se esfacelar, opina a jornalista Ines Pohl. Ines Pohl é correspondente da DW em Washington De maneira alarmante, os Estados Unidos parecem ser a prova do quão rapidamente sociedades democráticas podem ficar fora de equilíbrio em um mundo em que as forças centrífugas da globalização rasgam as ordens políticas conhecidas. Um mundo em que as pessoas procuram refúgio no nacionalismo e não conseguem mais encontrar paz no frenesi do mundo digital.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Contextos já não são analisados como deveriam. Em vez disso, culpados são rapidamente encontrados, bodes expiatórios são nomeados. O mundo está dividido em “bem e mal”, em “nós e eles”. A realidade se tornou estressante, não existem mais respostas fáceis, e uma análise honesta chegará sempre à conclusão de que o mundo rico tem que prover, pois o mundo pobre já não quer mais ficar assistindo pacificamente ao que está acontecendo. Por isso que nos Estados Unidos, esse país de imigrantes, vem crescendo a agressão entre diferentes culturas, religiões, cores de pele. Por isso, pessoas são diariamente baleadas na rua, estudantes e policiais são mortos a bala. Certamente as liberais leis de armas têm algo a ver com isso. E é verdade que o racismo, que muitos achavam superado, desempenha um papel terrivelmente importante. Ainda. No entanto, o problema tem mais uma dimensão. A ordem habitual do país corre perigo de se esfacelar. As pessoas já não estão mais dispostas a aceitar as consequências da nova ordem mundial. Políticos não parecem encontrar – junto com instituições, sindicatos, autoridades estaduais, policiais e sociedade civil – soluções credíveis. Quem viaja pelos Estados Unidos em 2016 encontra um país em fuga da realidade. Isso combina com o fato de que um homem cujo grande sucesso foi celebrado em um reality show se prepara para se tornar o próximo presidente dos Estados Unidos da América. As pessoas se refugiam em mundos virtuais. As pessoas encenam fotos para o Snapchat, Facebook, Instagram ou outras mídias sociais. Quem viaja por este país pode observar como crianças de um ano posam para foto quando avistam uma câmera. Elas vivenciam adolescentes que, aos sábados, não conversam uns com os outros no bar, mas ficam lado a lado, posando para as fotos que vão diretamente para a internet. A realidade está se transformando em um palco para a encenação de uma vida que muitas vezes não condiz com a realidade. Há estudos que mostram que, para muitos, a visita ao restaurante, a caminhada na praia, o jantar de família só é “vivenciado” quando as fotos e videoclipes são postados na internet. E isso serve até mesmo para o memorial diante da delegacia de polícia em Dallas, onde as pessoas só começaram a soluçar e se abraçar quando uma câmera foi apontada para elas. Donald Trump aposta na realidade encenada, incluindo os castelos do sonho em seus campos de golfe, as torneiras de ouro na Trump Tower, a cor artificial do rosto e o cabelo falso. Ele tem que fazê-lo porque lhe falta substância. Ele pode fazê-lo porque aprendeu cedo a seduzir as pessoas. E ele tem tanto sucesso porque muitos preferem sonhar com um mundo passado a trabalhar

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O que é o Pokémon Go e por que está causando tanto furor no mundo dos games?

O Pokémon Go já foi mais baixado que o Tinder e virou mania nos Estados Unidos, atraindo atração em todo o mundo. Mas o que é esse jogo? A BBC Brasil explica. Pessoas vestidas de Pikachu, que voltou a ser mania no mundo Image copyright AFP Por que as pessoas não param de falar de Pokémon de novo? Elas estão falando do Pokémon Go, um jogo de realidade aumentada parasmartphones. Ele usa seu GPS. Você joga andando pelo mundo real e caçando pequenos monstros virtuais como o Pikachu e Jigglypuff em lugares perto da localização do seu telefone e treinando-os para lutar uns contra os outros.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O sucesso vem da mistura de jogo e realidade. Na tela do telefone você vê o mundo real, como na câmera do seu celular, mas habitado por monstrinho do Pokémon. Os monstrinhos do jogo se tornaram populares pela primeira vez nos anos 1990, quando foram lançados no Game Boy da Nintendo. O Pokémon já foi jogo de Game Boy e Nintendo DS, desenho animado e é, há muito tempo, um jogo não tecnológico de troca de cartas, mas esta é a primeira vez que se torna um jogo de smartphone. O mundo que você vê na tela no Pokémon Go é o mundo que está a seu redor Image copyright EPA Aqui está um pequeno dicionário para você começar a entender um pouco mais do Pokémon: Pokemon = pocket monster (monstro de bolso) Pokestop = landmark (ponto de referência) Pokeball = uma bola que você joga para capturar o Pokemon e treiná-lo Academia = local onde os Pokémons lutam uns contra os outros Pikachu = Pokémon mais famoso e ícone da cultura japonesa E, como ele te obriga a se movimentar para jogar, ele também pode ajudar a queimar algumas calorias: Como posso jogar? O Pokémon Go já pode ser baixado pela App Store (iPhone) e Google Play (Android) em diversos países, como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia. No Brasil, ainda não há data oficial de lançamento. A Niantic, desenvolvedora do jogo e ligada ao Google, havia decidido adiar o lançamento em outros países porque, com tanto usuários, o game estava tendo problemas. Mas nesta semana a empresa retomou a expansão do aplicativo, tornando-o disponível na Europa. Isso pode significar que o game estará disponível para brasileiros em breve. O jogo pode ser baixado de graça, mas assim como muitos aplicativos gratuitos, há coisas para comprar com dinheiro de verdade quando você já está jogando. Pessoas estão indo para locais que não frequntavam antes atrás de Pokemons Image copyright AP Qual foi a coisa mais estranha que aconteceu com alguém jogando? Hmm, pergunta difícil. Um mulher americana encontrou um corpo enquanto procurava um Pokémon em um rio perto da sua casa. A polícia disse que o homem havia morrido há menos de 24 horas. Quatro pessoas foram presas após usar o jogo para atrair participantes para locais remotos e roubá-los a mão armada. Em resposta, os criados do Pokémon Go disseram que as pessoas devem “jogar com amigos quando forem para lugares novos e desconhecidos” e “lembrar de se manter em segurança e alerta todo o tempo”. Polícia do Missouri publicou fotos de suspeitos de roubar usando o Pokémon Go O grupo homofóbico Westboro Baptist Church, nos Estados Unidos, é uma das locações das academias no jogo, e jogadores colocaram uma Pokemon “Crefairy”, que é rosa, chamada “Amor é amor” lá. O grupo – o mesmo que faz protestos homofóbicos em enterros de gays – respondeu com uma série de posts nas redes sociais chamando o Pokémon de sodomita. Também há muitos relatos de pessoas caindo e se machucando porque não prestam atenção no que está a sua frente ao jogar. Devo me preocupar com minha privacidade? Algumas pessoas disseram que, como o jogo funciona em tempo, se você está perto de outro jogador no game você provavelmente consegue vê-los na vida real. Quando você se inscreve no jogo, você permite que a Niantic Labs use sua localização e a compartilha pelo app. É a mesma coisa que todos os aplicativos de redes sociais pedem, mas no Facebook, Twitter e afins você pode desligar esta função, enquanto se você fizer isso no Pokémon Go você não consegue jogar o jogo direito. E esse sucesso estrondoso do jogo? O game é um sucesso mesmo. Ele acrescentou mais de US$ 7 bilhões de valor a Nintendo devido à subida das ações da empresa desde seu lançamento. O jogo parece estar fazendo sucesso em dois mercados – os adolescentes que estão jogando pela primeira vez e as pessoas com cerca de 30 anos que lembram da febre pela primeira vez e estão curtindo uma nostalgia. O Pikachu era assim quando apareceu na TV pela primeira vez, em 1997 Image copyrightAP O Pokémon Go já foi instalado em 5,16% de todos os smartphones com sistema Android nos EUA, de acordo com o site SimilarWeb. É quase o dobro do Tinder – e espera-se que, em breve, o app supere o Twitter em usuários ativos. Nos últimos 30 dias, o termo Pokémon Go foi buscado no Google quase tantas vezes quanto “Brexit”, a saída do Reino Unido da União Europeia. Até a pornografia, que sempre é muito buscada na internet, foi superada pelo interesse no app.

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‘Como assim Kãgfér não é brasileiro?’: a luta de pais por nomes indígenas e africanos

Nas duas vezes em que foi registrar seus filhos, o engenheiro agrônomo Julio Cezar Inácio ouviu o mesmo argumento: Kasóhn (pronuncia-se Kaxói) e Kãgfér (pronuncia-se Konfer) não eram nomes brasileiros.  Engenheiro enfrentou resistência ao registrar filhos com nomes da tribo indígena kaingang, à qual ele pertence Criou-se um problema, pois Inácio não só é brasileiro, como é indígena da tribo kaingang. Na língua de seus ancestrais, o nome do mais velho, hoje com 11 anos, significa árvore de espinhos. O do segundo, de 2 anos, significa orvalho.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “Como podem dizer que não é um nome brasileiro? Eu sou índio, essa é a língua dos meus pais, e eu também sou brasileiro. Justamente porque me chamo Julio Cezar quero que meus filhos tenham apenas nomes indígenas, para valorizar essa identidade”, diz o agrônomo, que vivia na terra indígena Serrinha, no Rio Grande do Sul, e há oito anos mudou-se para a cidade catarinense de Xanxerê. Inácio insistiu e registrou os meninos com o nome tribal, direito garantido aos indígenas pela resolução 3/2012, emitida pelo Conselho Nacional de Justiça e pelo Conselho Nacional do Ministério Público. De acordo com essa norma, o indígena, viva em aldeia ou cidade, pode ser registrado, se desejar, com seu nome de origem. A etnia pode ser lançada como sobrenome, se a família assim quiser. Por exigência do cartório, o nome do segundo filho de Inácio perdeu o acento agudo no “e”, para se adequar ao padrão do português. “Descaracterizou um pouco, mas tudo bem”, conforma-se Inácio, que terá de retirar o acento no registro feito na Funai. Segundo ele, problemas assim ainda são comuns na região. Dúvidas Criador do Instituto Kame, organização não-governamental que trabalha com projetos de habitação para povos indígenas, Inácio é casado com uma italiana. Ela aceitou bem os nomes kaingang para as crianças, que têm também o sobrenome materno. Inácio quer agora incluir em seu registro no cartório o nome indígena pelo qual é chamado em família, Mỹg No (pronuncia-se Man Do e significa um tipo de abelha). No Rio de Janeiro, o casal Cizinho Afreeka (nome adotado pelo funcionário público Moacir Carlos da Silva) e Jéssica Juliana de Paula da Silva teve de recorrer à Justiça para registrar a filha como Makeda (pronuncia-se Makêda) Foluke. Segundo pesquisa feita pelos pais, Makeda vem do amárico, língua adotada na Etiópia, e era como se chamava a rainha de Sabá, figura mítica mencionada na Torá, no Velho Testamento e no Alcorão. Foluke, em iorubá, significa “colocada aos cuidados de Deus”. Casal só pode registrar filha como Makeda Foluke após imbróglio judicial de três meses – Image copyright FOTOS: LULA APARÍCIO | DIVULGAÇÃO O Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais do 2º Distrito de São João de Meriti entendeu que o nome Makeda suscitava dúvidas, de acordo com o previsto na Lei 6.015/73 (Lei de Registros Públicos). Em seu artigo 55, a lei afirma que os oficiais do registro civil não registrarão “prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores”. Caso os pais não aceitem a recusa, o assunto deve ser levado ao juiz competente. “Não houve preconceito. Entendemos que o nome poderia dar margem a uma leitura errada, má queda, por exemplo. Suscitou dúvida, seguimos o que diz a lei, consultamos o juiz”, afirmou à BBC Brasil Luiz Fernando Eleutério Mestriner, titular do cartório. O Ministério Público sugeriu que fosse agregado outro prenome. A decisão judicial indeferiu o registro de Makeda Foluke, permitindo que ele fosse usado desde que houvesse outro prenome. Os pais não cederam. O advogado Hédio Silva Júnior, especializado na questão racial, recorreu ao Conselho de Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Argumentou que o nome resultava do desejo dos pais e, embora incomum, nada trazia de ilícito, grotesco, aberrante ou vexatório. O Conselho deu ganho de causa à família. Em 16 de junho, três meses depois de seu nascimento, Makeda Foluke foi registrada com o nome escolhido pelos pais. Estudiosa do tema, Maria Celina Bodin de Moraes, professora de direito Civil na PUC-Rio e na Uerj, entende que não há preconceito na reação do cartório ao nome Makeda. Ao contrário, percebe preocupação em seguir a lei para evitar a repetição de casos que, no passado, transformavam as crianças em alvo de chacota. “Considero importante que haja algum tipo de controle legal sobre isso, e foi essa a intenção do legislador: evitar casos absurdos e proteger a criança, que não pode ser entendida como propriedade dos pais”, afirma. Homenagem A advogada Makeda Soares, de 26 anos, ainda se lembra do tempo em que, na escola, os professores estranhavam e usavam seu outro prenome, Luanna. Hoje quem manda no próprio nome é ela, que só se apresenta como Makeda. “Meu pai conta que queria homenagear a mãe África. Adoro esse nome”, diz a advogada, que foi procurada pela família da recém-chegada Makeda. Irmãs usaram nome “Makeda” em empresa como homenagem à Rainha de Sabá, personagem mítica africana – Image copyrightFOTOS: LULA APARÍCIO | DIVULGAÇÃO A homenagem à rainha de Sabá também motivou as empresárias negras Shirley e Sheila Oliveira a batizarem como Makeda Cosméticos sua empresa de produtos para cabelos crespos. Sheila até incorporou Makeda a seu nome social. “O que ficou flagrante nesse caso foi a associação do nome africano como algo distante da brasilidade, nesse país que tem a maioria de sua população negra. É uma flagrante negação da nossa identidade. Também destaco a associação do nome de origem africana à molecagem, às coisas ruins, como má queda, ou até de duplo sentido”, argumenta Silva Júnior, que citou em seu recurso o direito dos indígenas de usarem nomes de sua etnia. Militante do movimento negro, Silva Júnior também teve dificuldades para registrar o filho como Kayodê – que, em iorubá, significa “aquele que traz honra e alegria”. Mas conseguiu. BBC/Fernanda da Escóssia

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