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Zubin Mehta, os 80 anos de um maestro vienense nascido na Índia

Quase médico, jovem prodígio, ex-playboy, Mehta integra, hoje, a casta máxima entre os regentes. Sua receita de sucesso: perfeição e fogo musical combinados com faro midiático e a crença no entendimento entre os povos. Zubin Mehta é um dos principais regentes da atualidade O maestro Zubin Mehta vive basicamente nos Estados Unidos. Apesar disso, manteve seu passaporte indiano e diz se sentir como “um vienense nascido por acaso na Índia”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O rótulo cosmopolita de fato se aplica perfeitamente ao músico, que transita ativamente entre os continentes. Ele nasceu em 29 de abril de 1936 em Bombaim (atual Mumbai). Seu pai, Mehti Mehta, era violinista de concerto, tendo fundado a Bombay Symphony Orchestra. E Zubin cresceu em meio aos discos de ícones do pódio, como Arturo Toscanini e Wilhelm Furtwängler. Bizet ‘Carmen’ Overture – Zubin Mehta, Royal Opera – 2000 Mas seu verdadeiro berço musical foi Viena. “Minha família era contra a carreira artística, e na Índia a família é que escolhe a profissão dos filhos.” Assim, abandonando o estudo de medicina, em 1954 ele foi para a capital austríaca estudar regência com o mestre Hans Swarovsky. Entre seus colegas na Escola Superior de Música estavam Claudio Abbado e Daniel Barenboim. Mehta por volta de 1969, ao lado de seu instrumento, o contrabaixo Sucesso meteórico A grande revelação veio ao escutar a Sinfonia nº 1 de Johannes Brahms (1833-1897) com a Orquestra Sinfônica de Viena. “Eu achei que os meus ouvidos iam estourar!” Mas o que explodiu foi a carreira do jovem Mehta: em 1961, com apenas 25 anos, ele já regera as filarmônicas de Viena e de Berlim. Entre 1961 e 1967, foi maestro titular da Orquestra Sinfônica de Montreal; de 1962 a 1978, diretor musical da Filarmônica de Los Angeles. Em 1978 sucedia Pierre Boulez à frente da Filarmônica de Nova York, mantendo-se no cargo por 13 anos. No meio tempo, regeu em casas de ópera em Florença, San Francisco, Nova York, Londres, Viena, Salzburgo, Milão e Berlim. A partir de 1998, ocupou o posto de diretor-geral de música bávaro no Teatro Nacional de Munique. No fim das contas, entretanto, é com a Orquestra Filarmônica de Israel que ele mais se identifica. Hoje “regente vitalício”, ao longo de quase meio século de intensivo trabalho conjunto ele conseguiu situá-la entre as orquestras importantes do panorama internacional. Faro para o espetacular Os críticos atestam impetuosidade e refinamento sonoro, alegria, energia e fortes contrastes à atuação de Zubin Mehta no pódio, e essas características lhe garantem uma multidão de fãs. Mas não há dúvida que seu faro certeiro para ocasiões de apelo midiático também propeliram a ascensão do maestro. Como quando, em 1990, ele regeu o primeiro concerto dos “Três Tenores”, José Carreras, Plácido Domingo e Luciano Pavarotti, e novamente, quatro anos mais tarde, na Copa do Mundo nos EUA. Por cinco vezes, em 1990, 1995, 1998, 2007 e, por último, em 2015, ele foi o regente convidado para o prestigioso Concerto de Ano Novo da Filarmônica de Viena – com 50 milhões de espectadores em 90 países, a cada ano, o evento de música erudita de maior audiência no mundo. Forte apelo de massa também tiveram as espetaculares montagens de óperas de Giacomo Puccini que Mehta regeu nos locais originais das tramas: Tosca em Roma e Turandot na “Cidade Proibida” de Pequim, com mais de 300 figurantes e 300 soldados. Produção de “Aida”, de Giuseppe Verdi, em Florença, regida por Mehta Glamour, honras – mas também engajamento Em consonância com o fogo que instila na música, Mehta cultivou um estilo de vida beirando o escandaloso. Seu primeiro casamento, com a soprano Carmen Lasky, só durou seis anos. Nos anos seguintes ele foi alvo da atenção da mídia, com sua atração por “mulheres caras em carros velozes, e mulheres rápidas em carros caros”.”Eu era um verdadeiro bon vivant“, reconhece. Só o novo casamento com a ex-atriz americana Nancy Kovac, em 1969, trouxe estabilidade à vida pessoal do músico indiano. E também favoreceu sua evolução musical: “Meu estilo de vida mudou radicalmente, a minha forma de fazer música amadureceu”, comentou. Reconhecido com numerosas distinções – entre elas, o Prêmio de Paz e Tolerância pelo Conjunto da Obra, da Organização das Nações Unidas – Mehta é, ainda, maestro honorário de várias orquestras de ponta. Em 2001 foi-lhe dedicada a estrela número 2.434 da Calçada da Fama em Hollywood; em 2008 recebeu o Praemium Imperiale da casa real do Japão. Entre tantas honrarias, o regente indiano mantém os pés no chão e não deixa de se engajar politicamente, mesmo que de maneira simbólica. Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, ele foi para Jerusalém reger a Orquestra Filarmônica de Israel, diante de uma plateia protegida por máscaras contra gás. Em 2013 foi com a Orquestra Nacional Bávara à região de crise de Caxemira, num apelo à reconciliação indo-paquistanesa. Concertos de Ano Novo da Filarmônica de Viena são assistidos por 50 milhões em 90 países O (limitado) poder da música para mudar o mundo Pertencente à pequena comunidade religiosa dos parses – originária da Pérsia antiga e baseada nos ensinamentos do profeta Zaratustra – ele se empenha com convicção pelo entendimento entre os povos. E se engaja, por exemplo, para que árabes israelenses possam integrar a Filarmônica de Israel – até agora sem sucesso. Mehta acredita no poder da música, embora com ressalvas. Em entrevista à DW em 11 de setembro de 2011, décimo aniversário dos atentados terroristas nos EUA, ele comentou: “Hoje vão se realizar milhares de concertos pelo mundo. Durante a duração deles, reinará a paz. E paz multiplicada tantos milhares de vezes conta muito.” No entanto isso não basta para que a música seja um agente pacificador, já que “a política se atravessa no caminho”. Ainda assim: “Não podemos jamais subestimar o poder da música. Para mim, a música é amor.” Entre os muitos eventos em torno do 80º aniversário de Zubin Mehta, destaca-se o concerto com a Filarmônica de Viena, tendo o amigo de longa

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No escuro e sem dinheiro, Venezuela adota novo fuso horário

Para poupar energia, governo Maduro manda adiantar os relógios 30 minutos. Diante do avanço da oposição, mudança pode simbolizar o início do fim do socialismo bolivariano. Há anos venezuelanos têm que conviver com apagões “Estou cheio de esperança, os sinais apontam em direção a mudanças”, diz Leopoldo López numa mensagem lida por sua mãe, Antonieta Mendonza, durante manifestação pública em Caracas. O referendo para revogação do mandato do presidente Nicolás Maduro é o caminho para sair da crise”, prossegue o líder oposicionista mais conhecido da Venezuela – o mais tardar desde sua controversa prisão em fevereiro de 2014.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Nos últimos dias, mais de 1,5 milhão de venezuelanos apoiaram um abaixo-assinado reivindicando o referendo revogatório. López também participou com sua assinatura graças a Antonieta, que contrabandeou a lista para dentro e para fora do presídio onde seu filho é mantido. Nos próximos dias, as listas de assinaturas serão avaliadas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Caso o parecer seja positivo, poderá ser realizada uma votação sobre a eventual deposição de Maduro. Depois de mais essa vitória da oposição, que já vencera as eleições parlamentares em dezembro de 2015, os relógios batem diferente na Venezuela – e não só politicamente, mas também literalmente, pois o país adiantou os relógios 30 minutos na madrugada deste domingo (01/05). A decisão, anunciada em meados de abril, faz parte de um pacote de medidas para fazer frente à escassez de eletricidade. Venezuela à beira do colapso econômico O tempo corre contra a Revolução Bolivariana proclamada pelo carismático Hugo Chávez, ao ser eleito presidente em dezembro 1998. Pois, 17 anos depois, o país com as maiores reservas de petróleo do mundo se encontra à beira do abismo econômico e político. “O aquário que tem sido o regime venezuelano nestes anos pode se assemelhar a um ‘show de horrores’”, escreve o comentarista Isaac Nahón Serfaty na edição para a América Latina do jornal espanhol El País. “O país tem assistido a um espetáculo de governo em que se degradam as instituições, não se respeitam as leis, faz-se apologia do crime, os governantes se contradizem, falam mal e ocasionalmente expressam uma ignorância e um nível de incompetência aterradores.” Serfaty está entre os 1,5 milhão de venezuelanos que deixaram o país desde que o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) assumiu o poder. O perito em comunicações renunciou a seu posto na católica Universidade Andrés Bello, em Caracas, e leciona atualmente na Universidade de Ottawa, no Canadá. O “show de horrores” chavista transformou o dia a dia dos 30 milhões que permaneceram num verdadeiro cenário da desgraça, prossegue Serfaty. Sua “lista de calamidades”, manifestando uma “degradação social acelerada”, inclui “linchamentos, saques, delinquência desbragada, roubos de fundos públicos, contrabando, mercado negro, falta de medicamentos e alimentos, filas intermináveis para obter produtos básicos”. “Esta revolução ficará escrita na lixeira da história”, diz cartaz de manifestante anti-Maduro Sem dinheiro para imprimir dinheiro A carência é generalizada no país sul-americano, já que todos os produtos necessários têm que ser importados do exterior. Contudo, desde a queda dos preços do petróleo a crise se agravou sensivelmente. No momento, Caracas não dispõe mais de divisas suficientes para assegurar o abastecimento básico da população. Futuramente os venezuelanos vão ter de abrir mão até mesmo de sua tão estimada cerveja. Na sexta-feira passada a maior cervejaria do país, a Empresas Polar, suspendeu a produção. Num comunicado público, ela culpa o Banco Central por não liberar divisas para a importação do malte de cevada. Uma carta de meados de abril vazada para a imprensa demonstra a gravidade da situação: nela, a impressora de cédulas inglesa De La Rue cobra do Banco Central venezuelano 71 milhões de dólares em contas atrasadas. A demanda por numerário na Venezuela é tremenda: com uma taxa de inflação estimada em 700% para este ano, o país enfrenta a maior desvalorização monetária do mundo. E agora passará também a ser a primeira nação do mundo que não tem dinheiro para imprimir dinheiro. Artigo em falta: Banco Central de Caracas sem dinheiro para financiar impressão de cédulas Escuro simbólico? A coisa não para por aí: devido à crônica insuficiência de energia, a população agora também ficará no escuro. À medida que os níveis de água no reservatório Simón Bolívar vão caindo perigosamente, o abastecimento de eletricidade está cada vez mais próximo do colapso total. O resultado são apagões frequentes em todo o país e medidas de racionamento drásticas. Em 10 dos 24 estados venezuelanos a energia é diariamente cortada durante várias horas. O funcionalismo público só funciona dois dias por semana, e às sextas-feiras as escolas suspenderam as aulas. Rodrigo Blanco Calderón professou a decepção com seu país no romance “A noite” “Já desde 2010 a energia é racionada. Para mim, isso é o sintoma visível do completo fracasso do assim chamado socialismo bolivariano do século 21”, declarou o autor Rodrigo Blanco Calderón, em entrevista à DW. Num romance significativamente intitulado The night, ele reflete sobre as horas negras de seu país natal. Para o escritor, os apagões foram provas precoces da leviandade dos governos do ex-presidente Hugo Chávez e de seu sucessor, Nicolás Maduro. “Mas eles sabiam utilizar essa leviandade: desse modo nós, venezuelanos, devíamos ir nos acostumando à economia da precariedade e ao caos”, analisa Calderón. A Venezuela está no escuro: a adoção de um novo fuso horário neste domingo pouco alterará esse fato. Mas a contagem regressiva para o fim da era do socialismo bolivariano começou. O último a sair nem vai precisar apagar a luz. DW

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Eleições USA – Em comício, Trump diz que China ‘estupra’ EUA

O magnata acredita que o país precisa ‘dar a volta’ por cima. O pré-candidato republicano que lidera a corrida eleitoral nos Estados Unidos, Donald Trump, disse que Washington não pode “continuar permitindo que a China estupre o nosso país”, pois “é exatamente isso que eles estão fazendo”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Em comício realizado em Fort Wayne, em Indiana, onde acontecem as primárias na próxima terça-feira, dia 3, o empresário afirmou que “a China foi responsável pelo maior roubo da história do mundo” e “tem danificado as nossas empresas e os nossos trabalhadores”. “Nós somos como um porquinho que foi roubado, mas vamos dar a volta por cima. Nós temos as cartas.Temos muito poder na China”, acrescentou o magnata. Delegados Na contagem até o momento, o magnata se aproximou do “número mágico” para ter a indicação na Convenção do partido, obtendo 988 delegados. Ele é seguido por Ted Cruz, com 568, e John Kasich, com 152. Para concorrer à Casa Branca, o pré-candidato republicano precisa ter 1.237 votos, mas é cada vez mais forte, no entanto, a hipótese de que nenhum deles alcance esse número, o que faria com que a convenção republicana fosse aberta, ou seja, com os delegados escolhendo na hora quem será seu postulante nas eleições presidenciais.

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WhatsApp: Bloqueio é 8º capítulo de disputa entre Justiça brasileira e empresas de tecnologia

Bloqueio do aplicativo de troca de mensagens em todo o Brasil foi ordenado duas vezes em 2015 e voltou a acontecer nesta segunda-feira. A decisão de um juiz de Sergipe de bloquear o aplicativo de mensagens WhatsApp por 72 horas em todo o Brasil causou um alvoroço nas redes sociais – e não pela primeira vez no país. Desde 2007, quando o YouTube ficou fora do ar após se recusar a retirar um vídeo da modelo Daniela Cicarelli em momento íntimo com o então namorado em uma praia da Espanha, políticos e a polícia fizeram diversos pedidos para derrubar empresas de tecnologia no Brasil.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Veja outros sete casos em que empresas de internet travaram uma queda de braço com a Justiça brasileira: Executivo do Facebook preso em março de 2016 Em março deste ano, o vice-presidente do Facebook para a América Latina, Diego Dzodan, ficou preso por um dia no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Dzodan foi detido após mandado expedido pelo mesmo juiz que bloqueou o WhatsApp nesta segunda, Marcel Montalvão. O motivo da prisão é a desobediência a uma decisão judicial que exigia a quebra do sigilo de mensagens no aplicativo WhatsApp durante uma investigação de tráfico interestadual de drogas, a pedido da Polícia Federal. O Facebook, no entanto, não liberou as conversas. WhatsApp bloqueado em dezembro de 2015: Em dezembro passado, a Justiça de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) determinou que as operadoras de telefonia fixa e móvel bloqueassem o aplicativo de mensagens WhatsApp por 48 horas. A decisão ocorreu após a empresa negar a quebra de sigilo de mensagens trocadas por investigados por meio do aplicativo. Na época, a Justiça autorizou o retorno do funcionamento do WhatsApp em todo o país após 11 horas de bloqueio. WhatsApp bloqueado em fevereiro de 2015: Um juiz do Piauí determinou o bloqueio do WhatsApp em todo o Brasil em fevereiro de 2015, com o objetivo de forçar a rede social a colaborar com investigações policiais de casos de pedofilia no Estado. A decisão foi suspensa por um desembargador do mesmo Estado após analisar o mandado de segurança contra representantes da empresa. Diretor-geral do Google preso por desobediência em 2012: O diretor-geral do Google foi detido pela Polícia Federal em São Paulo sob suspeita de desobediência em setembro de 2012. A ordem ocorreu após a empresa desrespeitar uma decisão da Justiça para retirar vídeos com ataques ao então candidato a prefeito de Campo Grande pelo PP, Alcides Bernal, de canais do YouTube e sites do Google. Ele foi ouvido e liberado no mesmo dia após a polícia entender que se tratava de um crime com baixo potencial ofensivo. Executivo do Google com mandado de prisão em 2012: Também em setembro de 2012, um juiz de Campina Grande (PB) mandou prender outro executivo do Google no Brasil. O motivo foi a empresa ter se negado a retirar do ar e excluir todos os compartilhamentos de um vídeo contra o candidato à prefeitura Romero Rodrigues, do PSDB. O Google recorreu e conseguiu reverter o pedido de prisão. Facebook retirado do ar em agosto de 2012: Em agosto de 2012, um juiz eleitoral do Estado de Santa Catarina determinou que o Facebook fosse tirado do ar no Brasil durante 24 horas. A determinação ocorreu após a empresa descumprir ordem para remover uma página com “material depreciativo” contra o vereador candidato à reeleição Dalmo Deusdedit Menezes (PP). Também foi aplicada uma multa diária de R$ 50 mil porque o Facebook descumpriu decisão liminar (temporária). A decisão foi suspensa dois dias depois pelo mesmo juiz. YouTube fora do ar em 2007: O YouTube ficou temporariamente fora do ar em janeiro de 2007 após a apresentadora Daniela Cicarelli ganhar uma ação judicial contra a empresa. O motivo foi a rede social ter se negado a tirar do ar um vídeo no qual a apresentadora aparece em momentos íntimos com o então namorado Renato Malzoni em uma praia espanhola. Após a decisão, Cicarelli foi alvo de protestos de grupos que pediram a saída da apresentadora da MTV. Em 2015, a Justiça determinou que a empresa pagasse uma indenização de R$ 500 mil à apresentadora. Esta reportagem foi originalmente publicada originalmente em 1º de março de 2016 e atualizada. Felipe Souza/BBC

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