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Walmir Ayala – Versos na tarde – 07/04/2016

Os Reinos e as Vestes Walmir Ayala¹ Deixei o sal do amor naquela concha que as águas guardam num cioso enleio; águas hoje salgadas deste excesso de amor que é meio e fim, que é retaguarda estando sempre à frente, amor que é lama onde a concha se espoja semovente como em leito ultrajado onde amor ronda no rastro da paixão dissimulada. A nitidez do amor é estar a concha translúcida no jogo poluente que o sal no labirinto impregna e filtra. E o gosto deste sal no meu instinto contemplativo, é o gozo da distância que faz do amor o enigma cativo. ¹Walmir Ayala * Porto Alegre, RS. – 4 de Janeiro de 1933 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 28 de Agosto de 1991 d.C

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Quatro coisas que mudam com a criptografia no WhatsApp – e por que ela gera polêmica

O serviço de mensagens WhatsApp anunciou na terça-feira que uma atualização do aplicativo permitirá criptografar integralmente todas as comunicações, incluindo mensagens de voz e outros arquivos, entre seus usuários. Sistema rigoroso de criptografia torna mais difícil ceder informações sobre mensagens para autoridades – Image copyright Thinkstock Com o que chamam de “criptografia de ponta a ponta”, as mensagens são embaralhadas ao deixar o telefone da pessoa que as envia e só conseguem ser decodificadas no telefone de quem as recebe. “Quando você manda uma mensagem, a única pessoa que pode lê-la é a pessoa ou grupo para quem você a enviou. Ninguém pode olhar dentro da mensagem. Nem cibercriminosos. Nem hackers. Nem regimes opressores. Nem mesmo nós”, disse a empresa em um comunicado.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Leia também: Como o FBI conseguiu desbloquear o iPhone de suspeito de ataque à revelia da Apple? A privacidade das comunicações em aplicativos de bate-papo tem sido objeto de decisões judiciais polêmicas no Brasil e nos Estados Unidos. Entenda como o anúncio do WhatsApp pode mudar o jogo: 1. Atinge muito mais pessoas Antes, havia a possibilidade de que mensagens fossem interceptadas no meio do caminho, caso a rede fosse invadida por hackers ou por agentes de governos. “O principal risco era a interceptação de conversas em redes públicas, como wi-fi de cafeterias, que não sabemos exatamente quem controla”, disse à BBC Brasil Gabriel Aleixo, pesquisador de criptografia do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio). “Agora, se alguma informação conseguir ser interceptada, a pessoa só verá um bloco de texto sem sentido algum. Só quatro ou cinco governos no mundo talvez consigam quebrar a criptografia que o WhatsApp implementou. Para um hacker, a chance é muito pequena. É um sistema bastante rigoroso.” Segundo Aleixo, cada mensagem enviada no aplicativo – seja de texto, vídeo, foto ou áudio – é criptografada usando uma única chave. Ainda que uma pessoa ou empresa quebre essa chave e leia uma mensagem, não conseguiria ler a outra, mesmo que esteja na mesma conversa. Na prática, a experiência de quem usa o aplicativo não muda. Nos bate-papos, aparece uma mensagem informando que uma conversa está criptografada, a menos que o destinatário das mensagens ainda não tenha atualizado o aplicativo. Desde o escândalo de espionagem do governo americano revelado por Edward Snowden, aplicativos de mensagens como Telegram traziam algumas opções de criptografia e, por isso, vinham se tornando os prediletos de quem está mais preocupado com privacidade. A Apple, por outro lado, oferece criptografia de ponta a ponta nas mensagens trocadas em seu serviço iMessage, disponível exclusivamente nos cerca de 800 milhões de iPhones vendidos até hoje. A novidade do WhatsApp, no entanto, chegou de uma só vez para 1 bilhão de pessoas em todo o mundo, que é a sua base atual de usuários. “A única empresa com mais acesso a comunicações é o Facebook, que é o dono do WhatsApp. É uma coisa extraordinária”, disse à BBC Brasil Mario Viola, advogado especialista em privacidade e big data do ITS-Rio. A criptografia na nova versão do WhatsApp é automaticamente habilitada para todos – exceto em grupos ou conversas onde nem todos atualizaram o aplicativo. E não é possível optar por não ter esta camada de segurança. Leia também: Batalha do FBI com Apple tem semelhanças com disputa do Facebook no Brasil 2. Dificulta (ainda mais) o cumprimento de ordens judiciais No início do mês de março, o vice-presidente do Facebook para a América Latina, Diego Dzodan, ficou preso por cerca de 24 horas em São Paulo após mandado expedido por um juiz da cidade de Lagarto (SE). A Polícia Federal havia solicitado a quebra do sigilo de mensagens no WhatsApp para uma investigação de tráfico de drogas interestadual. O Facebook, no entanto, não liberou as conversas. Criptografia foi aplicada automaticamente para todos os usuários do serviço e não é opcional – Image copyright Reproducao WhatsApp Em novembro de 2015, o aplicativo foi bloqueado no Brasil por 12 horas por um motivo semelhante. “Eles não conseguiam obedecer as decisões judiciais justamente porque já não armazenavam as mensagens. Agora, mesmo que o hacker ou uma agência do governo tentasse entrar numa comunicação e interceptasse o conteúdo, seria muito difícil compreendê-lo, por causa da criptografia. É como um correio que não tem condição de abrir as cartas”, explica Viola. O aplicativo já usava criptografia, em menor escala, desde 2012. As mensagens de texto eram cifradas durante o curto período em que ficavam armazenadas nos servidores da empresa. Elas são apagadas dos servidores assim que são entregues ao destinatário. “A partir de agora, a empresa pode comprovar, de maneira técnica, que não tem acesso ao conteúdo das mensagens que transitam em seus servidores. Fica mais fácil se defender das decisões judiciais”, diz Gabriel Aleixo. 3. Torna a vida de hackers e autoridades mais difícil (e a de ativistas ou criminosos que usam o app, mais fácil) A Anistia Internacional disse que o anúncio representa uma “grande vitória” para a privacidade e a liberdade de expressão. “Especialmente para ativistas e jornalistas que dependem em uma rede de comunicações forte e confiável para continuar seu trabalho sem colocar suas vidas em risco”, disse a organização em nota. Mas o anúncio não deve ter agradado o Departamento de Justiça americano, que recentemente se disse preocupado com a informação “inalcançável” contida nos dispositivos. Questionado pela BBC, o Departamento não quis comentar o tema. No caso da prisão de Diego Dzodan, a Polícia Federal brasileira argumentou que os criminosos “não fazem mais ligações” e estão migrando para o aplicativo. O delegado regional de combate ao crime organizado de Sergipe, Daniel Hortas, disse à BBC Brasil que “os criminosos migram para o WhatsApp porque sabem que tem uma proteção de alguma forma”. Agora a proteção para eles aumentou – como também aumentou para ativistas que se organizam por meio do aplicativo em países onde há perseguição política e para cidadãos que obedecem as leis. “Encontrar o equilíbrio entre investigar crimes e manter a privacidade das pessoas é difícil. É a pergunta

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‘Minha vida corre perigo’: a troca de e-mails que desencadeou os Panama Papers

Bastian Obermayer e Frederik Obermaier, do jornal Sueddeutsche Zeitung, explicam como uma fonte anônima compartilhou com eles mais de 11 milhões de documentos do escritório de advocacia Mossack Fonseca – Image copyright Suedeutsche Zeitung A primeira mensagem chegou por e-mail, de forma anônima, há mais de um ano: “Olá, aqui é o fulano. Interessam alguns dados?” “Estamos muito interessados”, respondeu Bastian Obermayer, repórter do jornal alemão Suddeutsche Zeitung. “Há algumas precondições. Minha vida corre perigo”, alertou a fonte, segundo confirmou à BBC Frederik Obermaier, outro repórter do jornal alemão.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “A única coisa que não podemos revelar é o idioma em que se deu o diálogo original”, desculpou-se Obermaier, um dos integrantes da equipe de investigação que recebeu os chamados Panama Papers, o maior vazamento de documentos confidenciais da história. De fato, o jornal recebeu, ao longo de vários meses, mais de 11 milhões de documentos de uma das empresas mais fechadas do mundo, o escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca. Os documentos – que envolvem 12 chefes de Estado atuais e passados e mais de 60 de seus parentes, além de personalidades políticas e esportivas – mostram como ricos e poderosos usam paraísos fiscais para ocultar patrimônio. É importante lembrar que contas offshore não são por si só ilegais, desde que devidamente declaradas ao Fisco: podem ser uma forma de investir-se em bens e ativos no exterior. Muitas vezes, porém, contas em paraísos fiscais são usadas para evadir impostos, lavar dinheiro ou ocultar o real dono da fortuna depositada. Escritório de advocacia no Panamá teria aberto e gerenciado milhares de contas em paraísos fiscais – Image copyright AFP A Mossack Fonseca nega ter cometido qualquer irregularidade em seus 40 anos de atuação. A identidade da fonte que divulgou os documentos é desconhecida. O que se sabe é como o vazamento ocorreu. Criptografia A fonte anônima impôs condições claras. Em primeiro lugar, encontros ao vivo estavam descartados. Leia também: Quem são Mossack e Fonseca, donos da empresa no centro do escândalo “A comunicação será apenas por arquivos criptografados. Nunca nos reuniremos. A decisão sobre o que será publicado é, obviamente, de vocês”, disse a fonte ao jornal. Mas qual era a motivação para fazer algo assim? “Quero tornar esses crimes públicos”, disse, ao ser questionado a respeito. Primeiro-ministro da Islândia renunciou ao cargo após revelação de que mantinha conta não declarada em paraíso fiscal – Image copyright EPA “De quantos documentos estamos falando?”, foi a pergunta seguinte. “Mais do que vocês jamais viram antes.” Efetivamente, nos meses seguintes, os documentos vazados cresceram até superar 2,6 terabytes de dados, em 11,5 milhões de documentos da Mossack Fonseca. Os dados abrangem um período que vai da década de 1970 a 2016 e envolvem 214 mil entidades. Ação hacker Ramon Fonseca, um dos fundadores da Mossack Fonseca, negou que o vazamento tenha partido da empresa e denunciou a ação de hackers. Fonseca disse à agência Reuters que foi um furto de documentos feito por “hackers externos”, e não um vazamento por empregados. Disse ainda que a empresa já apresentou denúncia ao Ministério Público local. Para se ter uma ideia da dimensão do vazamento, se os documentos divulgados pelo WikiLeaks fossem a população da cidade americana de São Francisco (837 mil pessoas), os Panamá Papers equivaleriam à população da Índia (1,2 bilhão). “A fonte não queria compensação econômica nem nada em troca, apenas algumas medidas de segurança”, afirmaram Obermaier e colegas em artigo no Suddeusche Zeitung. Para processar a quantidade enorme de informações, o jornal alemão compartilhou os documentos com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês). Isso permitiu a análise dos arquivos por uma equipe de cerca de 400 jornalistas de 107 meios de comunicação de 76 países, entre eles a BBC. Volume Milhões de e-mails, contratos, transcrições e documentos escaneados compõem a maior parte da informação divulgada. Jornalistas e a fonte compartilharam arquivos por meio de um programa de cibersegurança chamado Nuix. Para isso, empregaram um processo tecnológico conhecido como reconhecimento ótico de caracteres (OCR, em inglês), que permitiu organizar os arquivos criptografados e converter imagens em textos digitais. Trabalho conjunto de jornalistas permitiu análise de volume maciço de dados Com isso, o processo ganhou rapidez. Especialistas do ICIJ criaram um mecanismo de busca com dois fatores de autenticação, e compartilharam o endereço eletrônico com dezenas de órgãos de imprensa, por meio de e-mails criptografados. A tecnologia também permitia manter conversas em tempo real, e os jornalistas puderam trocar conselhos e informações em diferentes idiomas. Depois de mais de um ano de trabalho, as primeiras reportagens começaram a ser publicadas no domingo passado. E o resto já é (e está sendo) história. BBC

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