Antonio Botto – Versos na tarde – 14/03/2016
Ouve, meu anjo Antonio Botto¹ Ouve, meu anjo: Se eu beijasse a tua pele? Se eu beijasse a tua boca Onde a saliva é mel? Tentou, severo, afastar-se Num sorriso desdenhoso; Mas aí!, A carne do assasssino É como a do virtuoso. Numa atitude elegante, Misterioso, gentil, Deu-me o seu corpo doirado Que eu beijei quase febril. Na vidraça da janela, A chuva, leve, tinia… Ele apertou-me cerrando Os olhos para sonhar – E eu lentamente morria Como um perfume no ar! ¹Antônio Botto * Abrantes, Portugal – 1897 d.C + Rio de Janeiro, Brasil – 1959 d.C Antônio Botto nasceu em Abrantes, em 1897, tendo vindo a falecer em 1957, no Brasil, exilado político, para onde emigrara em 1947. Viveu em Lisboa e foi contemporâneo e amigo de Fernando Pessoa. António Botto é, por muitos, considerado um dos mais notáveis poetas portugueses, tendo, no entanto, sido algo incompreendido no seu tempo, com algumas das suas obras a gerarem escândalos e celeumas. A obra de António Botto, que lhe granjeou uma grande audiência e popularidade, estende-se pela poesia, prosa, teatro e contos infantis. Publicou a sua primeira obra poética, a coletânea Trovas, em 1917. Obra: