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Claudio Manoel da Costa – Versos na tarde – 27/01/2016

Soneto VII Claudio Manoel da Costa¹ Onde estou? Este sítio desconheço: Quem fez tão diferente aquele prado? Tudo outra natureza tem tomado; E em contemplá-lo tímido esmoreço. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado: Ali em vale um monte está mudado: Quanto pode dos anos o progresso! Árvores aqui vi tão florescentes, Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes. Eu me engano: a região esta não era: Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera! ¹Cláudio Manuel da Costa * Mariana, MG – 05 de Junho de 1729 d.C + Ouro Preto, MG. – 04 de Julho de 1789 d.C >> Biografia de Claudio Manoel da Costa [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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“Deu a louca no gerente”, e na Folha de São Paulo

Imprensa em questão: Marketing Editorial “Deu a louca no gerente!” O encontro entre a necessidade de chamar atenção do público e o marketing popular gerou bordões publicitários como este. Ocasionalmente, ocorriam variações como “o dono pirou”, “o gerente enlouqueceu”. Se tornou comum também a escolha de um dia da semana com pouco juízo, coisas como “terça maluca” ou algo parecido. Não muito diferente foi a recepção do anúncio da Folha de S.Paulo quando esta alardeou que seu novo colunista das terças-feiras seria Kim Kataguiri. Assim como no comércio popular, nem o gerente, nem o dono enlouqueceram, claro. Bem ou mal, foi minuciosamente pensado. Talvez ainda haja quem tenha ficado com dúvida de se tratar de estratégia de marketing ou editorial. Bem, nesse caso específico, parece que a supressão da conjunção “ou” responde plenamente: marketing editorial.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Faz muito tempo que os grandes jornais deixaram de encarar o leitor como leitor. Em certo momento, fim da era romântica do jornalismo, passou a ser o “público” dos jornais e a notícia transformou-se em espetáculo. Mais tarde, como “cliente”, associado à segmentação da notícia e a ode à opinião. Veja para uns, “pragmatismo político” para outros. Mainardis aqui, Freis Betos acolá. A lógica de mercado se consolidou. Um exemplo a seguir A incoerência e parcialidade, decomposição do ideal jornalístico, foram vestidas, perfumadas e vendidas como pluralidade de opiniões. A estreia de Kim Kataguiri, como na loja do gerente que enlouqueceu, serve para chamar a atenção e atrair público. Ocupará, por um tempo, a ponta de gôndola e, como um produto novo, será experimentado. A se levar em conta a má qualidade já demonstrada em seu primeiro artigo, nada que tenha ido muito além de uma redação mediana do Enem, as chances de Kim encalhar as expectativas da Folha de S.Paulo não são poucas. Mas para quem acha que o encalhe e o naufrágio são favas contadas, arrisco dizer que o público consumidor de Kataguiri combina muito bem com a decomposição do ideal jornalístico: incoerente e altamente parcial. Difícil não imaginá-los assim após dar um pulo em sua rede social. Os mesmos que reclamavam que certo político não poderia ser presidente por falta de estudo veem no garoto, que abandonou os estudos por se achar mais inteligente que seus professores, um exemplo a seguir. A chance de Kim combinar com a Folha de S.Paulo é, portanto, grande. Azar do jornalismo, que agora tem como meta novas promoções em pontas de gôndola para preencher. por:Alexandre Marini, sociólogo

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SERIAL KILLERS: POR TRÁS DOS SERIADOS TELEVISIVOS

Não são poucos os fãs de séries policiais investigativas. Alguns passam o dia inteiro vibrados assistindo seriados do Netflix e em canais de TV. CSI, Law & Order, Dexter, Criminal Minds, The Mentalist, White Collar e Bones são algumas das séries que atiçam a imaginação do telespectador/internauta a ponto de torná-los não apenas simples expectadores, senão, também, investigadores. Mas esses seriados, além de glamourizarem o mundo do crime – é dizer, ao invés de os investigadores utilizarem jalecos sujos e malcheirosos (como, no mundo real, usam), vestem ternos gizados e acinturados –, não informam aos espectadores os conceitos mais básicos quando o assunto é assassinato e psicopatia: as definições de um homicídio em série, em massa e relâmpago; aliás, muitas vezes confundem um com outro. Esse artigo irá sanar a omissão quanto a tais conceitos. Quanto ao excesso de glamour num ramo nada elegante – ao menos que você ache charmoso cadáveres exalando odores insuportáveis e que ternos italianos se adequem a investigações forenses –, indico a leitura do livro “Nunca coloque a mão de um cadáver na boca”, de Dana Kollmann.[ad name=”Retangulos – Direita”] A obra revela as investigações criminais por trás da fita amarela de isolamento, demonstrando, de fato, como é o cotidiano de um CSI. Desculpem-me se, após a leitura, acabe com o sonho de muitos em se tornarem peritos criminais… Pois bem. O Assassinato em série (serial killer) é um delito sexual. Seria dizer, portanto, que um estuprador é um serial killer? Não necessariamente. A relação do homicida em série com distúrbios sexuais não precisa ter ligação com práticas sexuais. A conexão diz respeito aos seus impulsos. Vamos contextualizar. Pessoas que não praticam sexo por muito tempo e não utilizam de nenhum recurso para a vontade diminuir acabam ficando ansiosas. A excitação vem, naturalmente, com mais frequência. Caso escolham um parceiro sexual, esse impulso libidinoso, ao menos por um tempo, sofre uma diminuição considerável. Mas qual a relação com o serial killer? SCHECHTER explica (2013, p. 18): De forma análoga, o serial killer passa seu tempo fantasiando sobre dominação, tortura e assassinato. Consequentemente, ele fica excitado por sangue. Quando seus desejos distorcidos tornam-se fortes demais para resistir, sai em busca de vítimas incautas. Sua excitação atinge o clímax com o sofrimento e a morte da vítima. Depois, ele experimenta um período de “calmaria”. Daí porque os assassinos em série tentam não ser capturados, a fim de seguir com suas práticas psicopáticas e poder deleitar-se, por mais tempo possível, dos prazeres de suas atrocidades. Igualmente, vimos no encontro anterior que para a National Institutes of Justice um serial killer é aquele que comete de dois ou mais assassinatos, cometidos como eventos separados, podendo ocorrer durante um período de tempo que varia de horas a anos. Essa conceituação é tida pelos especialistas como mais fidedigna ao fenômeno inclusive em relação à escolhida pelo FBI. Já o assassino em massa, por mais que contemple, assim como o em série, homicídios múltiplos, é tido como uma “bomba-relógio humana” – ao contrário do serial killer que é considerado um predador. É aquele “cuja vida saiu dos trilhos” e que “explode em um surto de violência devastadora” (SCHECHTER, 2011, p. 19). Podemos citar como exemplo de assassino em massa, se confirmadas as suspeitas, o piloto alemão Andreas Lubitz, que, tomado por uma gravíssima depressão, teria derrubado propositalmente o avião em que atuava como copiloto, levando consigo mais 150 vítimas. Em suma, “se assassinato em série é, essencialmente, um crime sexual, o assassinato em massa é quase sempre um ato suicida” (idem, ibdem). Por fim, o assassino relâmpago, assim como o em massa, é alguém tão alienado e atormentado que não vê mais motivo para viver. Tanto é que sempre optam por morrer do que a se render, ou deliberadamente se entregam às autoridades sabendo que sofrerão pena de morte. São dois os motivos que levam o assassino relâmpago a cometer uma chacina: vingança contra o mundo e um desejo de mostrar que é alguém que mereça consideração (SCHECHTER, op. cit., p. 20). Até aí não há grande diferença quanto ao homicida em massa. O que tecnicamente lhe diferencia é o seu movimento. “Enquanto o assassino em massa mata em um só lugar, o assassino relâmpago se desloca de um lugar a outro matando no percurso” (idem, ibdem). Daí que muitos definem o homicida relâmpago em assassino em massa itinerante. O melhor exemplo desse tipo de assassino é a figura de Howard Unruh, um ex-soldado americano que, em 1949, percorreu sua calma vizinhança em New Jersey atirando metodicamente em todos que via pelo caminho. A história é bem contada no livro “Serial Killers: anatomia do mal”, do autor aqui citado. Eis, portanto, as principais diferenças entre esses assassinos. Por mais que tenham distinções no modus operandi, ambos possuem o mesmo afã: matar, matar e matar. Sempre recomendo que, além de seriados policiais, os interessados pelo tema também leiam livros sobre investigação criminal e psicopatia. O mundo deve ser visto como ele é; para além das câmeras cinematográficas. REFERÊNCIAS SCHECHTER, Harold. Serial Killers: anatomia do mal. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2013.

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