Matija Beckovic – Versos na tarde – 16/09/2015
Ninguém voltará a escrever poesia Matija Beckovic ¹ Ninguém voltará a escrever poesia nunca mais, Os temas imortais abandonarão os poemas Descontentes com a forma como foram entendidos e versificados. Tudo o que alguma vez foi assunto da poesia Rebelar-se-á contra ela e a sua covardia. Os objectos dirão eles mesmos aquilo que os poetas não tiveram a coragem de dizer. O mar – esse tópico antigo dos poetas – abandonará para sempre a poesia E regressará à sua sepultura onde poderá crescer de novo. O sol – tornado ridículo, O céu estrelado – transformado num lugar-comum, Renunciarão à poesia. As rosas insistirão na sua cor E não aceitarão a volubilidade dos poetas. A palavra liberdade fugirá e recuperará o seu significado. Os poetas não terão uma língua com a qual possam cantar. Não haverá nenhuma relação entre a poesia e os poetas, E por isso os poemas atacarão os poetas Exigindo-lhes que cumpram as promessas que fizeram. Os poetas negarão o que antes afirmaram, Mas tudo o que imaginaram e profetizaram acabará por aprisioná-los. A poesia exigirá as suas vidas Para que as metáforas que criaram sejam verdadeiras e irrefutáveis. Nas futuras gerações Ninguém, seja a que preço for, quererá ser poeta. Os poetas do porvir encontrarão maneiras melhores de passar o tempo. Os homens livres não consentirão que se escrevam poemas para que se seja poeta – E no entanto não existe outro modo de ser poeta. Uma árvore – outrora símbolo poético – Lamentará na praça o seu passado tenebroso E ninguém alguma vez poderá igualar o seu lamento Pois ela conhece-se melhor do que ninguém. Os verdadeiros poetas lutarão contra a poesia E por todo o lado defenderão a mesma ideia: Em nome do respeito por si próprios enquanto verdadeiros poetas Nenhum deles voltará a escrever poesia nunca mais. ¹ Matija Beckovic * Senta, Sérvia – 29 de novembro de 1939 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]