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Lya Luft – Verso na tarde – 26/07/2015

Canção na plenitude Lya Luft¹ Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou. Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins. (Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.) O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos. A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada. Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esses dourados anos me ensinaram a amar melhor, com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo força — que vem do aprendizado. Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés — mesmo se fogem — retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços mas o sonho interminável das sereias. ¹ Lya Luft * Santa Cruz do Sul, RGS – 15 de Setembro de 1938 d.C O texto acima foi extraído do livro “Secreta Mirada”, Editora Mandarim – São Paulo, 1997, pág. 151. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Blogs, imprensa e jornais

A crise dos jornais está na agenda, e a dos jornalistas? O grande assunto atual em todas as rodas de jornalistas é o futuro dos jornais. Todo mundo está preocupado com o possível desaparecimento da imprensa escrita, mas até agora poucos se deram conta de que a atividade jornalística também está em questão. A preocupação da maioria dos jornalistas com a crise dos jornais está ligada diretamente à insegurança sobre o futuro de empregos, da estabilidade salarial e do guarda chuva de garantias sociais. É natural que seja assim, porque afinal de contas um emprego na industria de jornais, revistas, rádio e televisão é uma espécie de âncora num mercado de trabalho marcado pela instabilidade e fluidez. É também um sintoma da dependência que os profissionais criaram em relação às empresas durante a época em que os jornais e os jornalistas tinham a exclusividade na produção de noticias. Os free lancers e autônomos eram uma exceção e de certa forma também um luxo, já que só os mais bem sucedidos na profissão podiam se arriscar a um vôo solo. A internet e a avalancha informativa digital não mudaram apenas o modelo de negócios da imprensa ao causar a queda de receitas tanto com publicidade como em vendagem em quase todo o mundo. A Web, parte da internet, está também alterando a rotina e os valores da atividade jornalística, sem que este tema tenha sido até agora discutido em profundidade.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A maioria dos profissionais talvez ainda espere que os jornais consigam criar um novo modelo de negócios e aí tudo voltaria ao normal. Só que isso é uma ilusão. A imprensa vai descobrir um novo modelo de negócios mas é quase certo que ele terá muito poucas semelhanças com o atual, porque houve uma mudança irreversível na produção de informações. Ela não está mais concentrada nos jornais e assumiu um caráter descentralizado na internet. Tudo indica também que a nova fórmula comercial da imprensa não estará apoiada na formação de grandes redações. Isto significa que a segurança do emprego em empresas jornalísticas deve ser descartada como perspectiva profissional futura, como afirma o professor Mark Deuze[1], autor do livro Media Work e considerado o maior especialista mundial em mercado de trabalho na mídia. Fica fácil então perceber que os jornalistas profissionais terão que enfrentar duas perguntas incômodas: 1) O que o futuro reserva para a atividade, descartada a opção por jornais e revistas no formato tradicional; 2) Como será possível sobreviver numa nova realidade marcada pela participação dos cidadãos como produtores de notícias e pela necessidade de especialização para ocupar nichos informativos vagos até agora pela inexistência de público consumidor significativo? A primeira pergunta é impossível responder dada a sua complexidade e…

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