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Thiago de Mello – Versos na tarde – 08/03/2015

O alfange do tempo Thiago de Mello ¹ O tempo é o grande milagre da vida do homem no mundo. Não tem começo nem fim. Mas está vivo, animal respirando imenso em tudo que a gente quer, sonha e faz. O tempo que já passou te conta como vai ser o tempo que vai chegar. Tudo leva a sua marca, de pétala ou de ferrão. Tudo traz o seu condão: a criança correndo; o rio passando, a rosa se abrindo, a lágrima da alegria, o silêncio da amargura, a luz-mansa da ternura, o sol negro da pobreza. O tempo é o nada que é nada. O tempo é o tudo que é tudo, o tudo que vira nada, o nada virando amor, o amor inventando estrelas, a mais linda se apagou na fronte da moça amada. O tempo está no teu peito clamando nas coronárias, mas se esconde nas funduras dos neurônios quando sonhas. Está no fogo e no orvalho, fermenta o pão que não chega, arde o forno da esperança. Alma do tempo é a mudança que come o que vai mudando e depois dorme sonhando disfarçado de memória. Nada perdura na vida, a não ser o próprio tempo, finge que passa, mas fica. Imutável, modifica. O tempo é o sol do milagre. Cuidado, ele está chegando na claridão da manhã. A noite inteira ficou no seu passo, te esperando, de espreita em teu próprio sono. Vem vindo para comer na palma da tua mão. Trata bem dele, aproveita, enquanto há tempo, o que o tempo permite ao teu coração. Quem sabe ele vem trazendo um alfange? Ninguém sabe. Pode ser uma canção. ¹ Amadeu Thiago de Mello * Barreirinha, AM – 30 Maio 1926 [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Lista de Janot tem ‘efeito dúbio’ para Dilma, dizem especialistas

A divulgação da lista com os nomes dos políticos suspeitos de envolvimento no esquema de desvio de recursos na Petrobras tem um efeito “dúbio” para a presidente Dilma Rousseff. Ministro do Supremo Teori Zavascki decidiu divulgar lista de nomes de suspeitos de envolvimento em esquema de corrupção na Petrobras. Segundo especialistas ouvidos pela BBC, por um lado, a revelação pode favorecer a “imagem pessoal” da presidente, pois alivia as pressões sobre um eventual impeachment e afasta do governo federal uma imagem de leniência com a corrupção. Por outro, a presença de vários nomes de políticos de partidos da base aliada na lista, especialmente dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deve desgastar ainda mais a relação do Congresso com o Planalto, prejudicando a aprovação de medidas de ajuste fiscal, necessárias para retomar o crescimento e reverter a impopularidade do governo junto à opinião pública. Na noite de sexta-feira (6), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki, relator dos processos relativos à Operação Lava Jato, autorizou a abertura de investigação contra 47 políticos de cinco partidos: PP (32), PMDB (7), PT (7), PSBD (1) e PTB (1). Há ainda duas pessoas na lista sem o chamado foro privilegiado, os chamados “operadores” do esquema: o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e lobista Fernando Soares, o “Fernando Baiano”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Zavascki também optou por derrubar o sigilo de todos os procedimentos de investigação e acatou sete pedidos de arquivamento, conforme recomendação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O ministro destacou, porém, que as aberturas dos inquéritos não constituem “juízo antecipado sobre autoria e materialidade do delito”. “Tais depoimentos não constituem, por si sós, meio de prova, até porque, segundo disposição normativa expressa, nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador”, disse Zavascki. A presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves (MG), ex-candidato à presidência e presidente nacional do PSDB, foram citados em depoimentos de delatores, mas tanto a Procuradoria-Geral da República (PGR) quanto Zavascki entenderam que a investigação em relação a ambos não se justificava. “A divulgação favorece Dilma ao tirar do Executivo o peso das denúncias envolvendo a corrupção na Petrobras, que agora passa a ser partilhado também pelo Legislativo. Em curto prazo, também afasta o fantasma do impeachment junto à opinião pública, pois o caráter pluripartidário da lista, envolvendo políticos de diversos partidos, mostra que a presidente não é a única acusada de malfeitos”, opina o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria. “No entanto, é justamente a presença de um grande número de nomes de políticos de partidos da base aliada que pode complicar ainda mais a estabilidade do mandato de Dilma. Essa é a parte mais sensível, pois o governo precisa do Congresso para adotar medidas, como as de ajuste fiscal, para frear a perda de popularidade”, acrescenta. O cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, concorda. Ele lembrou que um dos citados na lista, o presidente do Senado, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), devolveu, recentemente, à Presidência a medida provisória que revê desonerações de folha de pagamento para vários setores da economia, anunciada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como parte do pacote de ajuste fiscal. “No curto prazo, o Planalto já não controlava a agenda e agora tende a sofrer mais derrotas”, avalia. Prova de fogo Procurador-Geral da República Rodrigo Janot enviou pedidos de abertura de inquérito ao STF na última terça-feira (3) Segundo Ismael, a lista será um “grande teste para o sistema partidário brasileiro”. “A pergunta agora é como os partidos vão se comportar com os políticos citados como beneficiários desse esquema. Tudo dependerá da gravidade das denúncias, mas, de qualquer forma, esses políticos vão ter de responder às indagações da Justiça no decorrer dos processos. E não há qualquer expectativa de que eles renunciem a seus mandatos. Ou seja, certamente, vão usar o plenário para tentar convencer a opinião pública de sua inocência”, afirmou ele à BBC. “Além disso, permanecendo em seus postos, também devem causar uma dor de cabeça para o governo, tornando mais difícil a aprovação de algumas matérias”, acrescentou. Para o cientista político Antonio Carlos Mazzeo, da USP, a divulgação da lista de Janot revela “um núcleo corrupto da política brasileira” e lança luz, principalmente, sobre o “financiamento privado de campanha”. “É uma das muitas estruturas de corrupção no Brasil”, diz. “Nada disso aconteceria se não houvesse financiamento privado de campanha. Uma simples campanha de vereador, por exemplo, ultrapassa R$ 1 milhão de reais”. “Isso acaba de certa forma incentivando um “toma lá dá cá” na política, pois as empresas não financiam a campanha de candidatos por altruísmo, mas sim para obter facilidades quando eleitos”, argumenta. Próximos passos Após a decisão de Zavascki de autorizar a abertura dos inquéritos, o próximo passo será coletar novas provas, as chamadas “diligências”, como, por exemplo, quebras de sigilos (bancário, telefônico, fiscal), novos depoimentos e apreensão de documentos. O ministro pode nomear juízes-instrutores para conduzir as investigações. Com novas evidências, a PGR (Procuradoria-Geral da República) pode optar por formalizar a acusação contra o envolvido. Uma denúncia é, então, apresentada ao STF. Em seguida, o Supremo decide se aceita a denúncia. Em caso positivo, uma ação penal é instaurada e o acusado se torna réu, dando início ao julgamento. BBC/Luís Guilherme Barrucho

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Shakespeare escreveu tudo que se diz ser de sua autoria?

Em entrevista sobre seu novo livro, especialista analisa teorias que questionam autoria das peças do dramaturgo James Shapiro, autor de ‘Contested Will: Who Wrote Shakespeare?’ O que poderia unir figuras tão díspares quanto Mark Twain, Sigmund Freud, Orson Welles e Malcolm X? A convicção de que William Shakespeare não é o autor da obra de William Shakespeare. Não, não estamos falando de uma seita que propôs a Morte do Autor, muito antes de Roland Barthes, no ensaio clássico de 1967. A qualquer momento, há cerca de 50 candidatos a criador da maior obra literária da língua inglesa, difundidos com fúria renovada pelo DNA conspiratório da internet. Tais candidaturas, porém, acabam de sofrer um golpe – talvez de misericórdia – desferido pela afiada pena de James Shapiro, autor de Contested Will: Who Wrote Shakespeare?, lançado recentemente nos EUA, cujo título faz trocadilho com a palavra inglesa para testamento (will) e o apelido de William. Apresente-se, então, desde logo o hábil esgrimista da maior das polêmicas literárias. Aliás, ele não precisa de apresentação. James Shapiro é um dos mais respeitados acadêmicos shakespearianos nos dois lados do Atlântico e autor, entre vários livros, do premiado A Year In The Life of Shakespeare: 1599 (Harper Collins). Bem-humorado, ele recebeu o Estado de São Paulo para uma entrevista exclusiva no Departamento de Literatura Comparada da Universidade Columbia, onde dá aula. Tinha um breve intervalo na intensa turnê promocional do seu último livro e nos compromissos de orientador de várias companhias de teatro, como – atenção – a Royal Shakespeare Company britânica. Por que o senhor concluiu que a questão da autoria de Shakespeare está ligada à nossa leitura de ficção e não-ficção hoje? A literatura que aprecio hoje é predominantemente autobiográfica ou, pelo menos, namora a autobiografia. Tem sido assim, nos últimos cem anos. Há quatro séculos, as pessoas não escreviam de maneira autobiográfica, não mantinham diários. Não era uma idade da confissão, em que todo mundo abre o coração e recicla a própria experiência de vida na página. Cada vez mais se lê os trabalhos daquele período como se fossem contemporâneos, “Hamlet há de se referir à morte do pai ou da filha”. O problema é de anacronismo, nós olhamos para as obras do passado através de lentes modernas. E o meu livro é, em grande parte, sobre isso.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Por que há um esnobismo intelectual embutido nas teorias conspiratórias que o senhor analisa? Duas coisas aconteceram no século 19. Primeiro, começamos a descobrir mais sobre a vida de Shakespeare. Mas os fatos que vieram à tona não satisfaziam a nossa curiosidade: ele era bom marido e bom pai? Tudo isto se perdeu no tempo. A filha de Shakespeare, Judith, viveu mais 50 anos do que ele. Um religioso que vivia em Stratford anotou no diário que precisava “conversar com a filha de Shakespeare”. Mas ela morreu antes. Se a entrevista com Judith tivesse acontecido, você não estaria aqui me entrevistando. Mas o que veio à tona ou foi encontrado em arquivos era informação ligada a documentos imobiliários, empréstimos, especulação em grãos, o tipo de coisa que faz as pessoas acharem que o autor era um homem de negócios, não um artista. Enquanto esses fatos emergiam, as pessoas começaram a achar que o autor era uma divindade literária. Portanto, há estas duas narrativas correndo em direções opostas. Numa, o autor da obra tem que ter sido um indivíduo extraordinário. Na outra, o que sabemos sobre ele sugere um homem comum. E, em vez de aceitar o fato de que as pessoas escrevem por dinheiro e podem equilibrar dois aspectos da própria vida, decidiram: há duas pessoas diferentes. E, se há duas pessoas, o grande autor tinha que ser alguém da nobreza. E não ter a origem de classe média comum aos dramaturgos elisabetanos. Haveria resistência também por Shakespeare ter sido popular? Com certeza. Ele pertenceu à primeira geração de escritores que conseguiram se sustentar sem pedir ajuda a um patrono. O ingresso para o teatro de Shakespeare custava o preço de um pão. E o teatro acomodava 3 mil pessoas. Shakespeare não era só um ator, era um dos sócios da companhia e do Globe Theater. E ele se deu muito bem, como se pode ver pelo número de investimentos que fez; foi morar na segunda melhor casa em Stratford. Vários autores contemporâneos confirmam quanto ele era popular. William Shakespeare: há hoje 50 candidatos a autores do que ele escreveu. Vamos aos suspeitos de sempre. Primeiro, o Conde de Oxford. É o principal candidato hoje em dia. Há cerca de 50 candidatos a autores do que Shakespeare escreveu. O conde tem mais apoio. Seus defensores incluem juízes da Suprema Corte americana, grandes atores de teatro britânicos, Sigmund Freud, Orson Welles, um eleitorado de respeito. Mas ninguém veio com a história de que o Conde de Oxford havia escrito as peças até um sujeito chamado J.T. Looney dizer isto num livro de 1920. Looney dizia ser um pacato professor inglês. Mas descobri que só se tornou o pacato professor depois do fracasso de sua carreira como religioso de uma seita radical que idolatrava Shakespeare. A tal seita desmoronou e ele resolveu espalhar suas ideias reacionárias e direitistas. Looney decidiu que o autor verdadeiro deveria ter acreditado num passado feudal, ele era meio fascista. Os seguidores de Looney foram se tornando mais criativos. Como não há nenhuma prova ligando o conde à criação das peças, uma vez que se você tomar este caminho, precisa formular uma teoria conspiratória para explicar por que o nome do duque foi omitido. A mais excêntrica teoria sobre o conde está se tornando uma superprodução de cinema, Anonymous, dirigida por Roland Emmerich. Acredite e não ria quando lhe contar sobre a Teoria do Príncipe Tudor. Tudo remonta à Rainha Elizabeth, a monarca virgem da Inglaterra. Diz a teoria que Elizabeth não era mesmo virgem. Solteira, ela teve um filho que veio a ser o Conde de Oxford. Quando ele apareceu na corte, 20 anos depois, a

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