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Barbara Lia – Versos na tarde – 31/01/2015

Dans l’air Barbara Lia ¹ Tínhamos a mesma idade Quando vimos o mar Este mistério de impaciência Tínhamos a mesma impaciência – Rimbaud e eu – Por isto Pisamos telhados Ao invés do chão Por isto Machucamos nossos amores Com nossas próprias mãos Por isto As velas acabam na madrugada Antes que o poema acabe – Por isto, tão pouca a vida para tanta voracidade. ¹ Bárbara Lia * Assai, PR. Bárbara Lia é poeta e escritora. Vive em Curitiba. Livros publicados: O sorriso de Leonardo (Kafka ed. – 2.004), Noir (ed. do autor – 2.006), O sal das rosas (Lumme editor – 2.007), A última chuva (ME – ed. alternativas – MG – 2.007). No prelo, lançamento para agosto, o romance Solidão Calcinada (Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná, romance finalista do Prêmio Nacional do Sesc 2.005. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Como a polícia de Los Angeles superou má fama e virou modelo para país

Poucas horas depois da absolvição dos quatro policiais que haviam sido filmados espancando um homem negro em Los Angeles, o centro da segunda maior cidade dos Estados Unidos seria tomado por uma multidão que saqueava lojas, incendiava prédios e assaltava motoristas. Reforma incluiu a criação de cotas para negros, mulheres e latino-americanos na força policial O ano era 1992, e a revolta com a decisão judicial desencadearia o maior levante da história recente dos Estados Unidos, encerrado seis dias depois com um saldo de 63 mortos, mais de 11 mil detidos e um prejuízo de cerca de US$ 1 bilhão. De lá para cá, a polícia de Los Angeles foi submetida a uma refoma considerada por especialistas um exemplo de sucesso. As mudanças foram impostas pelo Departamento de Justiça do governo americano – que se valeu de uma lei que lhe permite intervir em forças estaduais ou municipais que cometam abusos sistemáticos – após o espancamento do operário Rodney King, que havia se recusado a encostar o carro numa abordagem policial.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] King sobreviveu aos golpes dos agentes, mas a insurreição forçaria a polícia de Los Angeles a rever uma série de práticas que haviam lhe rendido a fama de ser uma das mais racistas e violentas forças de segurança dos Estados Unidos. A experiência é lembrada num momento em que pipocam pelo país protestos contra a violência policial e o modo como as corporações tratam negros e latinos. As manifestações foram impulsionadas pela absolvição dos policiais que em 2014 mataram o jovem Michael Brown em Ferguson, Missouri, e o vendedor ambulante Eric Garner em Staten Island, Nova York. Como Rodney King, os dois estavam desarmados e eram negros. Força de ocupação A intervenção na polícia de Los Angeles, que durou de 2000 a 2013, teve como objetivo reduzir o uso da força, criar mecanismos para punir abusos e melhorar sua relação com os moradores. Leia mais: Relatório de ONG critica mortes pela polícia e prisões ‘medievais’ no Brasil Políca de Los Angeles em 1904: em 2005, após a intervenção, número de latinos superou o de brancos Contrariando previsões de que as ações poderiam favorecer os criminosos, os índices de violência na cidade despencaram durante a reforma. A taxa de homicídios, que na década de 1980 chegou a 34,2 por 100 mil habitantes ao ano, baixou em 2013 para 6,3 (no Brasil, o índice em 2013 foi de 25,2). A queda foi acompanhada pela melhora na opinião dos moradores sobre a corporação. Segundo um estudo da Escola John F. Kennedy da Universidade Harvard, em 2005 menos da metade dos habitantes considerava a atuação da polícia boa ou excelente. Já em 2009 as avaliações positivas eram compartilhadas por 83% da população. “Antes da reforma, a polícia operava como uma força de ocupação num território estrangeiro, reprimindo as pessoas nos bairros pobres”, disse à BBC Brasil Joe Domanick, diretor do Centro de Mídia, Crime e Justiça na Faculdade John Jay, em Nova York, e autor do livro “Azul: a ruína e a redenção da Polícia de Los Angeles”. Leia mais: Retórica inflamada e brutalidade marcam debate sobre ‘policiais soldados’ nos EUA Leia mais: Tensão racial nos EUA revela ‘militarização’ da polícia americana Após a intervenção, Domanick diz que a corporação passou a enfocar um modelo de policiamento comunitário, cultivando laços com líderes locais e ativistas. A mudança de postura, segundo ele, é evidente em conjuntos habitacionais onde policiais foram alocados permanentemente. “Esses policiais não estão lá para prender as pessoas, para dar voz de prisão a alguém que esteja fumando um baseado. É claro que agirão se presenciarem algo grave, mas eles estão lá para se aproximar da comunidade e manter os jovens longe das grades.” Com a nova estratégia, diz Domanick, moradores passaram a cooperar mais com as investigações e ajudar a polícia a combater ameaças maiores, como a ação de gangues na vizinhança. Combate a abusos A reforma também fortaleceu os três órgãos encarregados de investigar abusos na corporação. A ação gerou temores de que policiais pudessem deixar de executar suas funções para evitar punições, mas o estudo da Escola John F. Kennedy mostra o contrário. Aprovação de moradores aumentou, mas ainda há críticas sobre excesso de violência e racismo Segundo a pesquisa, a partir de 2002, a polícia ampliou tanto o número de abordagens quanto o de prisões. Houve ainda um crescimento na proporção de detidos que acabaram denunciados pela Promotoria, o que indica que a polícia passou não só a deter mais, mas também melhor. Leia mais: Programa da polícia identifica alunos com potencial para violência nos EUA “A reforma da polícia de Los Angeles deu certo porque houve uma combinação entre supervisão externa e liderança”, diz à BBC Brasil Christine M. Cole, vice-presidente e diretora executiva do Instituto de Crime e Justiça de Harvard e uma das autoras do estudo. O principal líder do processo foi William Bratton, que comandou a corporação entre 2002 e 2009. Em 2014, Bratton assumiu pela segunda vez a chefia da polícia de Nova York, onde ordenou uma redução drástica na aplicação do “stop-and-frisk”. Esse método de abordagem e revista de pessoas tidas como suspeitas era alvo de críticas na cidade por ser aplicado desproporcionalmente em negros e latinos. Já a supervisão da reforma coube a quatro atores: um juiz federal, um representante do governo federal, uma comissão formada por civis e um inspetor independente. Leia mais: Quando é legítimo para um policial atirar para matar? Cotas para mulheres e minorias Com a reforma, a polícia também alterou seu processo de contratação. Para acabar com o predomínio de homens brancos em seus quadros – o que, acreditava-se, alimentava a desconfiança em relação às minorias e perpetuava comportamentos racistas –, foram definidas cotas para mulheres, negros e latinos. Desde 2005, há mais latinos do que brancos na corporação, assim como no resto de Los Angeles. O número de policiais negros tem se mantido estável (7,2%) em patamar próximo ao percentual do grupo na cidade. Já a proporção de

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Publicidade: o ‘photoshop’ do capitalismo contemporâneo

O capitalismo é marcado pelo seu caráter dinâmico, contraditório e de dominação política e ideológica, que transforma constantemente os vários aspectos do modo de vida, engendrando uma série de conflitos na sociedade, que, em um movimento também contraditório, adere e resiste aos novos “modelos” de vida civilizada. Valter Palmieri Júnior ¹ Uma arma contemporânea do capitalismo que consegue violentar os valores sociais de modo muito sedutor é a publicidade (incluindo as estratégias de marketing e criação de marcas). Não criando valores e desejos novos, mas reforçando e manipulando os valores já existentes na sociedade. A publicidade é uma espécie de photoshop do sistema, pois permite uma edição tridimensional do modo de vida capitalista, não apenas escondendo os efeitos violentos da mercantilização da vida social, mas milagrosamente transformando em fascínio algo que era para ser contestado. Essa faceta da publicidade ocorre porque ela se tornou muito mais do que apenas um discurso para vender mercadorias, ela é a própria mercadoria, consumida e ressignificada. Por isso, é o principal objeto de consumo para descrever a nossa atual sociedade de consumo. O sociólogo Jean Baudrillard explica de forma didática o papel da publicidade nos nossos dias ao compará-la com a figura do papai Noel. Assim como as crianças não se importam com a existência real da figura natalina, uma vez que o importante é que seus pais lhes deem um presente em nome dele, as pessoas também não se importam com a veracidade do discurso da publicidade, dado que o essencial é a cumplicidade da crença.Ou seja, o que importa é que ela seja compartilhada, já que a “crença” funciona apenas porque se funda na reciprocidade da manutenção da relação. É fácil entender tal questão a partir da análise das próprias propagandas. Por exemplo, consumir o comercial da Coca-Cola hoje em dia é muito mais do que acreditar que é uma bebida saborosa, tanto que seu slogan é “viva o lado coca-cola da vida”, associando o produto com felicidade, liberdade e prazer momentâneo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Consumir a propaganda de uma tintura de cabelos não é acreditar que quem utiliza o produto possuirá os cabelos iguais ao da Juliana Paes ou outra modelo do comercial, tanto que no slogan “L´oréal, porque você vale muito!” fica clara a tentativa de associar a marca com questões subjetivas valorizadas atualmente, como a elevada autoestima. Para que a publicidade venda felicidade, modernidade, liberdade, autoestima, igualdade, exclusividade e outros valores, foi necessário que essas características se tornassem escassas para a maioria da população, para que se transformassem em objetos de desejo de consumo. A sociedade de consumo tornou a sociabilidade ainda mais individualizada e impessoal, despersonalizando os indivíduos, uma vez que as relações sociais ocorrem por meio da manipulação do universo dos símbolos e signos das mercadorias. O consumo torna-se, dessa forma, o principal critério de diferenciação social. O conjunto de características psicológicas que determina os padrões de pensar, sentir e agir, ou seja, a individualidade é pautada, na sociedade atual, por intermédio do consumo e a sociabilidade ocorre através do meio do nível de aderência ao sistema de signos criados pelo processo produtivo, mas que mantêm um modo ativo com a sociedade, que participa na construção desses signos. Ser alguém é estar constantemente atualizado no mundo da moda, não apenas em relação a carros, corpo, roupas e smartphones, mas, sobretudo, em valores, crenças e desejos. É por esta razão que Jean Baudrillard afirma que o culto da diferença se funda na perda total das diferenças substantivas.A diferença é que imprime a identidade ao indivíduo, a questão é que as diferenças que hoje importam se referem ao ter e não ao ser, a massificação anulou tanto as individualidades que elas passaram a ser fabricadas, por isso nossa sociedade é marcada pela despersonalização e culto a diferença não substantiva (supérflua), reduzindo o elo social. Desse modo, em uma sociedade em que o que é valorizado é a abundância de objetos, a publicidade cumpre com o papel de preencher o vazio que o desenvolvimento capitalista nos trouxe ao coisificar o ser humano e humanizar as coisas. Sendo, por esta razão, um editor das imagens do capitalismo, fazendo as pessoas acreditarem que o real é a imagem falseada criada a partir do real. Outra característica importante da publicidade é seu papel de democratizar e homogeneizar os desejos de consumo (em escala global por meio das transnacionais). Afinal, apenas o desejo coletivo é capaz de criar as ‘necessidades’ sociais, porque os indivíduos só acreditam na publicidade porque confiam que os outros também estão acreditando. Por exemplo, um outdoor do novo carro do ano que se encontra em um local onde milhares de pessoas irão ver e desejar todos os dias, mas apenas uma porcentagem ínfima irá conseguir realizar esse desejo e apenas por isso é objeto de ambição. Um grande problema que cresce com o tempo é que os gastos com publicidade crescem em nível mundial em uma taxa maior do que o crescimento da renda média em uma sociedade estruturalmente desigual, tornando cada vez mais problemático acreditar no mito da abundância, pois fica cada vez mais claro que esse mito se sustenta no seu oposto. Resistir a toda essa lógica começa justamente em enxergar os grandes problemas contemporâneos sem nenhuma farsa, sem nenhum photoshop. Enxergar a raiz dos problemas é o único meio de produzir formas de enfrentamento, uma vez que não é possível curar uma doença apenas com o conhecimento dos sintomas superficiais, é necessário compreender o que está provocando o surgimento e desenvolvimento da doença. Sabemos que a publicidade é apenas um componente da lógica do sistema capitalista, mas que tem um papel cada vez mais fundamental ao ampliar a alienação, contribuindo para que a sociedade exalte uma falsa e ilusória abundância, ao invés de resistir à violência de um sistema essencialmente excludente. Aderir à sociabilidade que a publicidade explicita é muitas vezes irresistível, é extremamente difícil não participar das novas tecnologias e formas de interação social criadas. Por isso, o caminho é resistir coletivamente, construindo novas formas de se viver em sociedade. ¹ Valter Palmieri Júnior é mestre em Desenvolvimento

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